Violência no futebol: “O problema reside nos pais, não nos jogadores”

Pressão que chega das bancadas está a esmagar os atletas, aponta o pai de dois jovens em formação, que insta o Estado e a FPF a intervirem.

Foto
ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

O testemunho é de um pai que, depois dos casos mais recentes - vistos e revistos em vídeos que começaram a circular, em especial o de um miúdo a pontapear um árbitro na cabeça -, decidiu interpelar as instâncias superiores e expor a angústia e apreensão relativamente ao rumo que a formação dos jovens está a tomar. Com dois filhos, de 10 e 13 anos, inscritos nos campeonatos distritais da Associação de Futebol de Lisboa, no Club Internacional de Foot-Ball (CIF), é inevitável o contacto com uma realidade chocante, marcada por um clima de agressividade dirigida a árbitros e jogadores.

“Antes da covid-19 havia focos de violência mais residuais. O pós-pandemia trouxe uma escalada na irritabilidade e agressividade, com pais a ameaçarem os próprios jogadores, o que gera um clima insuportável. Um verdadeiro martírio, sobretudo para os miúdos”, relata-nos, vincando os altos níveis de insegurança.

“Nos jogos a partir dos 13 anos é obrigatória a presença da PSP. Mas a polícia limita-se a assistir, sem intervir, mesmo quando confrontada com um quadro punível por lei, como a injúria. Os árbitros, que nestes escalões sub-15 são, muitas vezes, jovens também em processo de formação, recusam-se a comparecer. Por norma, a solução é apelar a algum adepto, o que agrava a situação. Depois, há ameaças de morte e até árbitros a insultarem os miúdos. É uma guerra de trincheiras”, lamenta.

Esta pressão afecta toda a gente e em especial os jogadores. “Alguns pais vêem os filhos como um investimento e pressionam-nos de tal forma que já vi um miúdo de dez anos em lágrimas a pedir ao pai para se calar. Na verdade, o problema nunca é entre os jogadores. Os pais e as mães - que normalmente iniciam e lideram as discussões - é que estão a transformar o que devia ser uma etapa de formação de personalidade em algo que um dia pode acabar em tragédia”.

E é neste plano que se exige “a intervenção da Federação Portuguesa de Futebol e da secretaria de Estado do Desporto, entidades que não podem eximir-se a responsabilidades”, reclama, sugerindo penalizações desportivas para os clubes a que os pais “desordeiros” estejam afectos.

“As proporções são de tal ordem que nota-se o receio de ganhar em alguns campos. Há um lado sujo, com altos responsáveis que deviam servir de modelo a normalizarem e legitimarem este tipo de comportamento”.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários