A autora da saga Harry Potter criou um serviço de apoio só para mulheres vítimas de violência sexual, em Edimburgo. Chama-se Beira's Place e dará apoio gratuito a quem tenha sofrido de abuso, a partir dos 16 anos. Outras organizações escocesas defendem que esse serviço deve chegar também às pessoas trans e não binárias.
Mas não é essa a intenção de J.K. Rowling, que diz que a organização Beira's Place prestará apoio gratuito e que este serviço vai ao encontro de uma "necessidade não satisfeita" em resposta às exigências das mulheres vítimas de abuso. Para a autora, que confessou ter sido vítima de abusos, é importante que as mulheres tenham a opção de ter um espaço onde podem ser acompanhadas por outras mulheres.
A presidente da organização Rape Crisis Scotland, Mridul Wadhwa, apela a que Rowling estenda o serviço da Beira's Place a pessoas transgénero e não binárias, justificando que há 15 anos que a sua associação, com 17 abrigos espalhados pela Escócia, trabalha com essas pessoas e nunca teve um incidente, informa o Scottish Daily Express.
"Fundei a Beira's Place para providenciar o que acredito ser actualmente uma necessidade não satisfeita para as mulheres", declarou J.K. Rowling, citada pela BBC. "Como sobrevivente de agressão sexual, sei como é importante que as sobreviventes tenham a opção de receberem cuidados centrados na mulher e por mulheres, numa altura tão vulnerável", acrescenta.
Com esta associação, a escritora espera reforçar os serviços já existentes na Escócia. O nome Beira remete para a deusa escocesa do Inverno, que tem esse nome. Nos últimos meses, Rowling tem contestado o projecto de lei sobre a Reforma do Reconhecimento do Género e apelidou a primeira-ministra Nicola Sturgeon de "destruidora dos direitos das mulheres" — tendo mesmo vestido uma T-shirt negra com essas palavras escritas, a branco, como forma de protesto.
A proposta prevê facilitar aos escoceses a mudança de sexo. Para isso, não será preciso um diagnóstico médico de disforia como condição para essa mudança, o que preocupa os críticos. Para o governo, o objectivo é simplificar um processo que é invasivo. A proposta deverá ser votada na próxima semana.
Por seu lado, Rowling continuará a lutar, à sua maneira, para já com este serviço, o qual não vai viver de donativos e para o qual se rodeou de opositoras de Sturgeon. A saber: a ex-governadora das prisões Rhona Hotchkiss, a antigo líder trabalhista escocesa Johann Lamont, médica Margaret McCartney, e Susan Smith, directora da For Women Scotland, grupo que faz campanha contra a mudança de sexo.
De recordar que a polémica sobre pessoas transgénero fez a autora perder uma legião de fãs, quando em Junho de 2020 escreveu um ensaio onde justificava as suas crenças relativas aos direitos LGBT e confessava ter sido vítima de violência sexual.