Seguro diz que princípio da separação de poderes foi “beliscado”

Antigo secretário-geral do PS não quis comentar casos concretos como o do ex-secretário de Estado Miguel Alves ou o do livro do ex-governador do Banco de Portugal.

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António José Seguro defendeu ser "impensável" não cumprir a lei sobre a falha de entrega de declarações de interesses Rui Gaudencio

Com raras intervenções públicas desde que saiu da liderança do PS, em 2014, António José Seguro aceitou participar num debate sobre “Ética e Integridade na Política”, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em que alertou para exemplos “nos últimos meses” que põem em causa “o princípio da separação de poderes”, mas escusou-se a comentar casos concretos.

No debate desta segunda-feira (transmitido online), a propósito de um estudo da fundação sobre o mesmo tema, falava-se do ex-secretário de Estado Miguel Alves, que se demitiu depois de ter sido acusado de prevaricação, e do alegado telefonema entre o ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e o primeiro-ministro António Costa. António José Seguro disse não querer quebrar a regra que impôs a si próprio sobre comentário de casos concretos, mas lamentou a falta de consequências na vida política.

“Nos últimos meses não foi nem uma nem duas, três situações em que o princípio da separação de poderes foi beliscado para não dizer posto em causa e passa-se de um assunto para o outro com uma leveza… como se estivesse dada a notícia e segue-se em frente”, disse, questionando: “Quem é que verdadeiramente trata das consequências, do apuramento dos factos. E o país importa-se com isso?”

No painel, em que estavam o antigo ministro adjunto do PSD Miguel Poiares Maduro e os coordenadores do estudo, Luís Sousa e Susana Coroado, António José Seguro já tinha abordado a dimensão das consequências na vida política a propósito das falhas na entrega das declarações de interesse exigidas por lei aos altos cargos públicos. “É impensável ter uma lei que esteja em vigor durante tantos anos e quando há uma situação não se cumpra a lei”, sustentou.

O antigo líder socialista, entre 2011 e 2014, defendeu a necessidade de uma maior “exigência de cultura política” e avançou com a possibilidade de a lei poder tipificar melhor as sanções aos titulares de cargos políticos que são arguidos, acusados, levados a julgamento e condenados. Seria preferível melhorar a lei do que “torcer a lei”, acrescentou.

“Ter uma República com mais exigência ética, essa podia ser uma boa maneira de homenagear os 50 anos da democracia. Estabilizar, acabar com certo tipo de ruídos e clarificar”, defendeu, acrescentando que não cumprir a lei “é dos piores exemplos que se pode dar”.

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