Em Braga, a vontade é transformar uma necessidade num “salto em frente”

A cidade percebeu o que lhe faltava e desenhou um processo que não procura apenas dar ferramentas à cidade, mas também à região.

Foto
A equipa que prepara a candidatura de Braga, com a coordenadora, Cláudia Leite, ao centro ADRIANO MIRANDA

Em 2018, quando começou a montar a candidatura a Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2027, Braga olhou para o seu tecido cultural e percebeu que, apesar de este já ter alguma dimensão e dinamismo, havia várias fragilidades. “Havia necessidade de trabalhar mais em conjunto, de promover o sector cultural e criativo, havia susceptibilidades de infra-estruturas”, introduz a coordenadora da equipa de missão da candidatura de Braga a CEC, Cláudia Leite. Resumindo, “havia uma necessidade enorme de investimento no sector cultural”, diz a também administradora do Theatro Circo de Braga, que já tem experiência de trabalho numa CEC, tendo sido directora financeira de Guimarães 2012.

Feito o diagnóstico, avançaram para um processo que Braga vê como uma “oportunidade única” para a afirmação da cidade que, com Aveiro, Évora e Ponta Delgada, faz parte da lista de finalistas no concurso para receber a CEC em 2027. E o projecto que Cláudia Leite coordena é isso mesmo: uma “possibilidade” de ter encontrado na cultura “um motor de desenvolvimento”.

Quando se discute esta candidatura de Braga, permanece em pano de fundo a recordação de Guimarães 2012. Do ponto de vista político, poderia ser difícil justificar a escolha de uma cidade que, olhando para o mapa, cabe no mesmo raio de 50 quilómetros em que o país acolheu as suas duas últimas capitais europeias da cultura (somando Porto 2001 a Guimarães). Mas tanto a natureza da capital como a do processo de escolha mudaram desde então. O factor geográfico não entra nos critérios com que os jurados internacionais vão escolher a cidade vencedora e, ao contrário do que acontecia até recentemente, não será o governo nacional a designar quem recebe a capital.

“E o impacto regional” de Guimarães 2012 foi “diminuto”, avalia Cláudia Leite, quando explica a importância do processo que agora coordena. Foi “muito mais um evento de celebração das artes, mais focado num ano e numa cidade”, sublinha. O plano de Braga, que também aproveita o legado da cidade vizinha, olha para toda a região. Oitenta e cinco por cento dos projectos da programação de Braga 2027 têm parceiros regionais e 45% têm parceiros eurorregionais, nota a coordenadora. Neste último ponto, a Galiza, por questões de proximidade de afinidade, é a principal parceira de dança. “Braga e a região necessitam de um investimento e da atenção de um projecto desta envergadura para que haja um salto em frente e uma mobilização”, acrescenta.

Olhando para a escala da cidade, é preciso também “descentrar”. Ou seja, levar eventos culturais e pessoas do centro da cidade para uma periferia que, assegura Cláudia Leite, é menos longínqua do que parece. Esta é uma das formas envolver mais a comunidade, de combater um “défice de participação cívica” que não é um problema exclusivo da cidade, refere.

Foto
Braga concorre com Aveiro, Évora e Ponta Delgada para receber a Capital Europeia da Cultura em 2027 ADRIANO MIRANDA

Um dos pontos apontados pelo júri no relatório de pré-selecção foi a falta de um contributo financeiro da região que poderia indiciar baixo compromisso. Para inverter esta impressão, a soma do montante avançado pela Comunidade Intermunicipal do Cávado, pelos concelhos do Quadrilátero Cultural (que, além de Braga, junta Barcelos, Famalicão e Guimarães), pela Universidade do Minho e pelo Turismo do Porto e Norte atinge agora 4,1 milhões de euros. A passagem à segunda fase também levou o município de Braga a quase duplicar o montante que está disposto a investir no processo, de cinco para 9,7 milhões de euros.

A passagem à segunda fase permitiu também um maior alcance regional da candidatura de Braga, que toca agora nos 85 municípios do Norte do país (quando a corrida ainda era entre 12 cidades, a presença de Viana do Castelo e de Vila Real impedia essa abrangência).

Sugerir correcção
Ler 1 comentários