Parece um ganso, mas é um “novo” dinossauro mergulhador

A nova espécie de dinossauros, agora descrita, poderá ser uma das primeiras espécies de dinossauros que, não estando na linhagem das aves, nadava e mergulhava para caçar as suas presas.

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O Natovenator polydontus, um dinossauro mergulhador similar a um ganso, viveu há 72 milhões de anos Yusik

No extenso grupo de dinossauros não existiam apenas predadores como o Tyrannosaurus rex (T-rex), também havia espaço para dinossauros excêntricos e esquisitos. Esta é uma descrição que encaixa num dinossauro da Mongólia descrito recentemente – do tamanho de um ganso e semelhante a este animal também.

Apelidado de Natovenator polydontus, o dinossauro viveu há cerca de 72 milhões de anos, durante o Cretácico, e era como uma ave mergulhadora: com um corpo aerodinâmico, tinha um pescoço alongado (como um ganso) e um focinho longo e achatado, com mais de mil pequenos dentes na boca. E, muito provavelmente, estaria coberto em penas, afirmaram os cientistas que o descrevem na revista científica Communications Biology.

“O Natovenator tem muitas características peculiares”, diz o paleontólogo Yuong-Nam Lee, da Universidade Nacional de Seul (Coreia do Sul), e líder da investigação agora publicada.

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O dinossauro Natovenator polydontus mergulhava para caçar as suas presas Yusik

Apesar de este recém-descoberto dinossauro ser um primo do pequeno velocista Velociraptor, o Natovenator adaptou-se a uma vida semiaquática, num ecossistema de água doce –​ possivelmente a flutuar em rios e lagos, a remar com os membros dianteiros, e a usar o pescoço longo e flexível para apanhar peixes e insectos ou mergulhar à procura das suas presas.

Os restos deste dinossauro foram desenterrados no deserto de Gobi (partilhado pela Mongólia e pela China) e estavam bem preservados – o esqueleto estava 70% completo. Este deserto, um dos maiores em todo o mundo, tem sido uma mina para encontrar fósseis de dinossauros.

O Natovenator pertence aos terópodes – com quem partilha algumas características, como o bipedalismo –, um grupo de dinossauros mais conhecido por alguns dos grandes carnívoros, como os Tyrannosaurus, Tarbosaurus e Giganotosaurus.

No entanto, os terópodes tiveram ramificações algo incomuns. Por exemplo, o Therizinosaurus, que se assemelha a um preguiça, o Struthiomimus, parecido com uma avestruz, ou o Mononykus, que se alimentava de térmitas. “A diversidade dos terópodes no final do Cretácico é simplesmente fantástica”, afirma outro dos autores do estudo, o paleontólogo Philip Currie, da Universidade de Alberta, no Canadá.

“No futuro, ainda vamos descobrir terópodes mais fascinantes e bizarros”, acrescenta Yuong-Nam Lee.

"Animal incrível por várias razões"

Poucos dinossauros que não são aves são conhecidos por viver num ecossistema semiaquático. Um familiar próximo do Natovenator é o Halszkaraptor, descrito em 2017, e que teve um tipo de vida semelhante e aproximadamente na mesma altura e região do planeta. Ambos tinham esta aparência muito similar à de uma ave e estão intimamente ligados à linhagem das aves.

O Natovenator media cerca de 45 centímetros de comprimento, com um crânio que chegava aos sete centímetros. Os membros dianteiros eram algo achatados, possivelmente uma adaptação deste dinossauro para conseguir remar e nadar mais facilmente. As costelas que apontam para a cauda, como nas aves mergulhadoras, são um mecanismo que permite reduzir o arrasto na água e garantir mais eficiência ao nadar, explicam os investigadores.

“O Natovenator, que significa ‘ladrão nadador’, é um pequeno animal incrível por várias razões. É um dinossauro pequeno e delicado. Quando o encontrámos, não tínhamos a certeza de como identificá-lo, porque parecia mais um esqueleto de um lagarto ou de um mamífero. Depois de o termos disposto da forma correcta, percebemos que era um dinossauro do grupo dos terópodes – mas de que tipo? Finalmente fez-nos sentido, uma vez que já tínhamos visto o Halszkaraptor descrito”, explica Philip Currie.

“Este dinossauro é especializado para viver num ambiente pouco habitual para um animal parecido com o Velociraptor e os restantes familiares. A maioria das pessoas pensa nos dinossauros como animais de terra, não como rivais dos crocodilos na água”, diz o investigador da Universidade de Alberta.

Durante o Cretácico, existiam várias aves mergulhadoras, como a Hesperornis da América do Norte, que atingia quase 1,8 metros de comprimento – mas nenhuma é conhecida por habitar a área onde o Natovenator foi encontrado.

“Há mais de 30 linhagens diferentes de tetrápodes (vertebrados terrestres) que invadiram a água”, refere Yuong-Nam Lee. “Por que não os dinossauros?”

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