Primeira operação robótica ao pâncreas feita em Portugal na terça-feira
Cirurgia robótica permite evitar cicatrizes grandes e reduzir agressividade do procedimento.
O Hospital Curry Cabral, em Lisboa, anunciou esta quinta-feira que efectuou pela primeira vez uma cirurgia robótica ao cancro da cabeça do pâncreas, que permite ao doente uma recuperação mais rápida e com menos dor.
A primeira duodenopancreatectomia por cirurgia robótica no país foi feita na terça-feira num homem de 58 anos, com um subtipo de tumor da cabeça do pâncreas, menos agressivo, embora maligno, chamado ampuloma, e o procedimento foi conduzido pelo cirurgião Emanuel Vigia.
Segundo disse à Lusa o director do Serviço de Cirurgia e da Unidade de Transplantação do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (que integra o Curry Cabral), Hugo Pinto Marques, a possibilidade de fazer a operação com recurso à robótica “é um avanço no país”.
“A possibilidade de fazer este tipo de cirurgia recorrendo a métodos menos invasivos, neste caso, a robótica, representa uma perspectiva muito boa para os doentes, no sentido de terem uma melhor recuperação de uma cirurgia que, normalmente, é muito complicada e agressiva”, explicou.
O clínico disse ainda que a cirurgia convencional deixa uma cicatriz “bastante grande” e “normalmente exige algum tempo de internamento”.
O recurso a um robô viabiliza o procedimento através de cinco orifícios até um centímetro cada, “é muitíssimo menos agressiva” e mais precisa, pormenorizou.
“É uma cirurgia com muito maior precisão, porque o robô permite um movimento que não tem tremor, mais preciso, com uma visualização da anatomia e das estruturas que é ampliada 10 vezes em alta definição. Portanto, permite uma ampliação do olho humano de uma forma um pouco diferente daquela que acontece numa cirurgia convencional”, frisou Hugo Pinto Marques.
Para o director do Serviço de Cirurgia e da Unidade de Transplantação do CHULC, onde são feitas em Portugal mais operações à cabeça do pâncreas, entre 100 a 150 por ano, a inovação permite “menos agressão para o doente e uma recuperação muitíssimo mais rápida”.
Embora esse factor esteja ainda em análise, “tudo indica” que “é provável que em termos de complicações no futuro a taxa seja menor” com a cirurgia robótica.
A operação, mais demorada do que a convencional, com a duração de cerca de cinco horas, levou aproximadamente 9h30 horas. “O procedimento é mais demorado do que a cirurgia convencional, o que traz é mais benefícios para o doente, em termos de recuperação”, disse Hugo Pinto Marques.
O médico sublinhou o aumento, em termos globais, do cancro do pâncreas “em todo o mundo e também no nosso país”. “A cirurgia é a única coisa ainda que cura o cancro do pâncreas”, referiu Hugo Pinto Marques.
A equipa, liderada por Emanuel Vigia, teve o apoio de uma equipa holandesa, no âmbito de um programa de formação europeu para este tipo de cirurgia. A operação consiste na remoção da cabeça do pâncreas, do duodeno e de parte do estômago.
A cirurgia robótica está implementada no CHULC desde Novembro de 2019, ano em que surgiu o primeiro equipamento deste tipo no Serviço Nacional de Saúde, segundo informação do Centro Hospitalar. A utilização da robótica já se pratica em urologia, cancro colorrectal, tratamento cirúrgico da obesidade, ginecologia e doenças hepato-bilio-pancreáticas.
Na véspera do Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, a 15 de Novembro, o médico Ricardo Rio-Tinto, presidente do Clube Português do Pâncreas falou à agência Lusa dos avanços que têm sido feitos nesta área e do aumento da incidência deste tumor em doentes mais jovens, entre os 40 e os 50 anos, sem os factores de risco clássicos: consumo de álcool e tabagismo.
Apesar de o prognóstico global continuar a ser mau, tem-se assistido a um aumento lento, mas consistente da sobrevivência global ao fim de cinco anos, que passou de cerca de 5% para mais 11%, disse.