Portugal já exporta mais vinho para os EUA do que para França
Portugal está no top 3 dos países que mais crescem nas importações dos EUA e só tem promovido os seus vinhos em meia dúzia de estados. Crescimento deverá manter-se. Investimento na promoção também.
Os EUA destronaram a França como o principal mercado de exportação dos vinhos portugueses no passado mês de Agosto, situação que se manteve em Setembro e que deverá consolidar-se no futuro. França é — era — historicamente o melhor mercado dos vinhos de Portugal, e tudo por causa do peso das vendas de vinho do Porto neste mercado europeu e com quem temos laços afectivos fortes, mas os EUA são um mercado em crescimento, gigantesco e que encerram, na verdade, vários mercados num só país.
A novidade foi conhecida no Fórum Anual Vinhos de Portugal, organizado pela ViniPortugal, esta quarta-feira, em Fátima (onde também se anunciou a nova certificação nacional de sustentabilidade para os vinhos portugueses), e onde o Instituto da Vinha e do Vinho(IVV) partilhou igualmente números das nossas exportações de vinho em 2022 (até Setembro, comparando-os com os períodos homólogos de 2019, 2020 e 2021).
Este ano, entre Janeiro e Setembro, exportámos 242 milhões de litros de vinho (46 por cento para a Europa comunitária, 54 por cento para países terceiros) e 677 milhões de euros (igual distribuição por tipo de mercado). Em 2021, as exportações, no mesmo período, tinham sido de 244 milhões de litros de vinho, o que correspondeu a 927 milhões de euros.
Ou seja, nos três primeiros trimestres deste ano, verificou-se uma ligeira quebra em volume (menos 0,6 por cento) e uma ligeira subida em valor (mais 1 por cento). Uma das razões apresentadas pela directora do Departamento de Estudos e Apoio à Internacionalização do IVV, Maria João Dias, foi a guerra na Ucrânia: “2022 era um ano promissor, um ano de retoma, mas a invasão da Rússia à Ucrânia tem trazido algumas alterações”.
A guerra na Europa e todas as mudanças económicas que decorrem dela poderão pôr em causa o objectivo que a ViniPortugal traçou para os Vinhos de Portugal em 2023: para “alcançar os 1000 milhões de euros [de exportações] até ao final do próximo ano”, será necessário crescer “6,4 por cento” em 2023, uma vez que para 2022 a previsão é afinal de um crescimento de “1,5 por cento” e não de “3 por cento”, como chegou a ser estimado, explicou, já perto do final do evento, Sónia Vieira, da ViniPortugal.
Na sua apresentação, logo ao início da manhã, Maria João Dias, do IVV, preferiu pôr a tónica na comparação de 2022 com o último ano antes da pandemia: em relação a 2019, as exportações cresceram 12,4 por cento em volume e 17,7 por cento em valor. E sublinhou igualmente as alterações ocorridas no destino das nossas exportações: estamos a procurar mercados alternativos fora da Europa.
“Em termos de quotas, há alguma diferença quando comparamos o ano de 2019 com 2022, e aqui claramente [vemos] uma aposta nos países terceiros e esta é a grande mensagem deste slide. Em 2019, em volume, 52 por cento das nossas exportações eram para países da Europa comunitária, em 2022 apenas 45 por cento. Em valor, a Europa comunitária representava 54 por cento e em 2022 representa apenas 44 por cento”, comentou a responsável.
Este ano, o preço médio do vinho português situou-se nos 2,80 euros até Setembro (mais 1,6 por cento do que em 2021; mais 4,7 por cento comparando 2019). Um valor médio que difere quando olhamos ao tipo de mercado: 2,72 euros na Europa comunitária e 2,86 euros nos países terceiros. E que contou com a importante contribuição dos espumantes portugueses, segundo partilhou a técnica do IVV.
Ainda sobre os países terceiros, nas tabelas apresentadas pela responsável, salta à vista o comportamento dos três indicadores em relação a 2019: fora da Europa, as exportações cresceram 28,8 por cento em volume e 44,3 por cento em valor; e o preço médio subiu 12 por cento.
Promoção aposta forte nos EUA
À margem do evento, o presidente da ViniPortugal, que promove a marca Vinhos de Portugal, explicou ao Terroir que o facto de os EUA terem ultrapassado o mercado francês no top dos destinos das nossas exportações não foi uma surpresa. E que é algo que o país deve capitalizar.
“Os vinhos do Porto estão a sofrer um bocadinho, infelizmente, e nós também reforçamos o nosso investimento nos EUA, que estão a crescer a um ritmo muito mais acelerado. Era expectável que esse mercado ultrapassasse a França. E isso está a verificar-se desde Agosto deste ano. Em Agosto, os EUA ultrapassaram França. Em Setembro, no acumulado, a mesma coisa, tivemos os EUA como primeiro mercado das nossas exportações. E as nossas expectativas são de que os EUA se tornem já este ano, e nos anos futuros, o nosso principal mercado”, comentou Frederico Falcão.
A propósito do vinho do Porto, importa só ressalvar que dentro do sector são as categorias correntes que têm sofrido mais, Portos que aliás sempre se venderam mais em França. Em sentido contrário, e a nível, mundial, as vendas de categorias especiais (vintages, tawnies com indicação de idade, tawnies colheita e até tawnies Reserva) têm vindo paulatinamente a subir ao longo dos últimos dez anos. Segundo dados do IVDP, os tawnies premium registaram um crescimento superior a 266 mil caixas (de 9 litros), ou seja, de 35,8% entre 2011 e 2021. Até em França, onde as vendas destes Portos subiram, em volume, 10 por cento no mesmo período.
Voltando aos EUA e à aposta da ViniPortugal, o gigante mercado concentra “o maior bolo em termos de investimento” na aposta daquela entidade, mas o sucesso dos vinhos portugueses por lá também deriva do “crescimento do próprio mercado”, explica Frederico Falcão: “os EUA não é um país, são 50. São muitos países. São o maior importador mundial de vinhos. E é nossa intenção ir a mais estados nos EUA, que são um mercado potencial, gigantesco, que está a crescer muito.”
A ViniPortugal tem levado os vinhos portugueses a Nova Iorque, à Califórnia, onde vai alternando as suas acções entre duas cidades, ora São Francisco, ora Los Angeles, a Boston (estado de Massachusetts) e a Chicago (Illinois). E este ano estreou-se em Miami, na Florida, “o segundo estado que mais vinho consome” nos EUA e onde Portugal esteve ausente durante anos. Em 2023, avançou ao Terroir Frederico Falcão, a promoção será “alargada ao estado do Texas”, estando ainda a ViniPortugal a escolher um destino “entre duas cidades” possíveis.
Portugal está “entre os três países que mais crescem nas importações dos EUA” e “a conquistar quota de mercado”. Pelo que, para o responsável da ViniPortugal, não dá dúvida: “Nenhum mercado poderá crescer tão rápido para nós, em termos de volume total, como os EUA, e daí a nossa aposta”.
Uma aposta que representará em promoção quase um 1,5 milhões de euros no próximo ano, num total de 8,33 milhões de euros, que é o montante de investimento global anunciado pela ViniPortugal para 2023. A seguir aos EUA, surgem como prioritários o Brasil (quase 1 milhão de euros) e o Canadá (quase 900 mil euros); os mercados que se seguem na lista têm alocados investimentos entre 6000 euros (a Rússia) e 334 mil euros (a China).
Ainda durante o programa oficial do Fórum Anual Vinhos de Portugal, Maria João Dias, deixou outras pistas para 2023: os vinhos vão ficar mais caros, já este ano e no decorrer do próximo ano; há cada vez mais consumidores interessados em experimentar os vinhos sem álcool ou low-alcohol; e “há um consumidor muito preocupado com as questões da sustentabilidade, da biodiversidade e da protecção do planeta”, que clama, entre outras mudanças na indústria, “por garrafas mais leves”. A técnica do IVV antecipou ainda o “aumento de venda de vinho biológico” e uma maior disponibilidade dos consumidores para “experimentar o vinho em lata”.