Primeiro-ministro de São Tomé diz que o país está calmo após “tentativa de golpe” de Estado
Patrice Trovoada pede “mão firme” da Justiça e anuncia detenção do ex-presidente do Parlamento. “Certos indivíduos não se conformam com a vontade das urnas e do povo soberano”, atirou.
O primeiro-ministro são-tomense assegurou esta sexta-feira que a situação no país está “calma”, na sequência de um ataque a um quartel militar, durante a noite, que causou um ferido grave e várias detenções, e que Patrice Trovoada diz ter-se tratado de uma “tentativa de golpe”.
“Quero dizer aos são-tomenses, os que residem no país e à comunidade estrangeira, que a situação está controlada, está calma”, afirmou o chefe do Governo de São Tomé e Príncipe, numa conferência de imprensa para prestar esclarecimentos sobre o ataque na capital são-tomense.
O primeiro-ministro adiantou que, “por questões de precaução”, as escolas perto do quartel estão encerradas.
“Não se trata de um roubo, não se trata de um furto. Trata-se de um ataque com armas de guerra às Forças Armadas do país e temos primeiro que resolver esse problema”, afirmou.
Segundo o chefe do Governo, a “tentativa de golpe” começou por volta das 00h40 (hora local, a mesma hora em Lisboa) e “teve o seu desfecho, em termos operacionais, pouco depois das 6h00”.
Patrice Trovoada qualificou o caso como “de extrema gravidade”, mas quis deixar uma mensagem de tranquilidade: “As Forças Armadas têm a situação sob controlo.” É necessário, salientou, “um pouco de prudência” e “a colaboração por parte da população”.
“Espero que a Justiça faça o seu trabalho; São Tomé e Príncipe não merece todos estes problemas. O povo é soberano, o povo escolheu essa equipa para conduzir os destinos” do país, acrescentou.
Depois de as Forças Armadas ter terminado as “operações preliminares de investigação – porque tudo indica que houve alguma cumplicidade no seio do quartel – será o momento de a Justiça, a Procuradoria [Geral da República] e a Polícia Judiciária entrarem em acção”, disse Trovoada.
“Queremos o apuramento total da verdade. Não é a primeira vez que sofremos tais situações, a última foi durante o meu [anterior] mandato, em 3 de Agosto de 2018”, lembrou, aludindo a uma alegada tentativa de golpe na qual foram detidos três alegados mercenários espanhóis, a pouco mais de um mês das eleições legislativas, e que foram libertados pouco depois, sem acusações.
O primeiro-ministro afirmou que “tudo indica” que o ataque desta noite ocorreu “a mando de algumas personalidades” e anunciou a detenção do ex-presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves, e de Arlécio Costa, antigo oficial do ‘batalhão Búfalo’, que foi condenado em 2009 por uma alegada tentativa de golpe de Estado.
“Espero que desta vez a Justiça vá até ao fundo, que toda a gente conheça a verdade e que os criminosos sejam trazidos à Justiça, que sejam julgados e que a Justiça tenha uma mão firme, forte, porque é inadmissível que em democracia as pessoas queiram controlar, usurpar o poder à força”, sublinhou.
“Certos indivíduos não se conformam com a vontade das urnas e do povo soberano e mancham assim o país, tentando minar todo o esforço que o actual Governo está a tentar fazer para recuperar a nossa economia e tentar trazer o melhor para as nossas populações”, criticou.
O primeiro-ministro adiantou ainda que foram detidos os quatro atacantes, “ligados ao famoso e triste grupo dos ‘Búfalos’”, que entraram no quartel, aparentemente com o intuito de se apoderarem de mais armas, mas que no exterior se encontravam mais elementos, em carrinhas, e que trocaram fogo com os militares.
Destes elementos, esclareceu, não foram todos “neutralizados”, continuando a decorrer operações no terreno.
Do ataque, resultou ainda um ferido grave, que identificou como “tenente Marcelo”, que “foi feito refém e barbaramente agredido, mas a sua vida não corre perigo”.
Patrice Trovoada, líder da Acção Democrática Independente (ADI), assumiu há duas semanas o cargo de primeiro-ministro, pela quarta vez, na sequência da vitória com maioria absoluta nas legislativas de 25 de Setembro.
Delfim Neves, que se candidatou com o recém-criado Basta, foi um dos dois eleitos para o Parlamento por este movimento.
José Maria Neves, Presidente de Cabo Verde, recorreu esta sexta-feira ao Facebook para condenar a “sublevação armada” em São Tomé e Príncipe, depois de ter falado com o seu homólogo, Carlos Vila Nova, que visita o país a partir de domingo.
“Felizmente, a situação já está sob controlo das legítimas autoridades do país. Condenamos veementemente esta tentativa de ruptura constitucional e solidarizamo-nos inteiramente com o Presidente da República, o Governo e o povo de São Tomé e Príncipe”, escreveu o chefe de Estado cabo-verdiano naquela rede social.
Com PÚBLICO