ILGA lamenta que Governo e FPF tenham posição “neutra” sobre direitos humanos
A associação defende que a Federação Portuguesa de Futebol deveria promover políticas de inclusão e diversidade no contexto do futebol nacional.
A ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo) lamentou que o Governo e a Federação de Futebol não tenham colocado a sua influência ao serviço dos direitos humanos, esquivando-se a uma posição “robusta” sobre situação no Qatar.
“Já contactámos a Federação Portuguesa de Futebol, com o apelo inequívoco a um posicionamento pró-direitos humanos e LGBTI+. Gestos como o hastear da bandeira arco-íris na sua sede, momentos simbólicos antes e durante os jogos e a promoção de políticas de inclusão e diversidade no contexto do futebol nacional são iniciativas que a FPF pode promover para dar visibilidade e concretizar uma maior igualdade no desporto”, sublinha a ILGA, numa nota publicada no Facebook.
A associação relembra que no Qatar “a homossexualidade é punida por lei, bem como todas as demonstrações de orientações sexuais e identidades ou expressões de género não normativas” e que as “pessoas LGBTI+ não estão seguras” naquele país.
“É com profundo pesar que vemos Portugal a ter novamente uma posição dita ‘neutra’ sobre a defesa dos direitos humanos”, refere a ILGA.
A associação lembra que com o arranque do Mundial de Futebol 2022, “o espaço mediático tem sido finalmente (e bem) inundado pela discussão em torno do contexto que levou uma competição desportiva desta dimensão ao Qatar”, sublinhando que este “é um dos países do mundo onde os direitos humanos fundamentais mais são ameaçados, com punições pesadas para o exercício da liberdade de todas as pessoas, nomeadamente das mulheres, pessoas racializadas, minorias étnicas, migrantes e pessoas LGBTI+”.
A associação volta também a recordar que a alegada abertura do Qatar a pessoas visitantes no contexto do Mundial de futebol “é mera retórica, uma vez que nada indica que a segurança das pessoas LGBTI+ venha a ser garantida dentro do país”, considerando que após o fim do evento a perseguição vai regressar.
“Relembramos também que a FIFA pretende que este seja um evento apolítico, mas, simultaneamente, tem excluído países da competição por motivos políticos ao longo dos anos”, realça a ILGA, denunciando que aquela entidade e várias entidades envolvidas na promoção do evento “têm feito vista grossa aos direitos humanos no Qatar”.
No entendimento da ILGA, a FIFA perdeu “a oportunidade para afirmar peremptoriamente que as vidas das pessoas, e não só as das pessoas LGBTI+, valem mais do que os investimentos e patrocínios milionários que receberam”.
Na quarta-feira, os jogadores da selecção alemã de futebol taparam a boca com as mãos na fotografia que tiraram antes do jogo do com Japão, na estreia no Mundial 2022, numa alegada acção de protesto contra a FIFA.
Sete selecções europeias, entre quais a da Alemanha, pretendiam utilizar no Mundial 2022 uma braçadeira de capitão com a inscrição “One Love” (um amor), em alusão à igualdade, mas a FIFA proibiu essa utilização, ameaçando com sanções.
O Qatar, o primeiro país do Médio Oriente a organizar um campeonato do Mundo de futebol, garantiu que todos os adeptos são bem-vindos, sem discriminação, porém a lei do país criminaliza a homossexualidade.