Macron acusa a Rússia de comportamento “predatório” em África

O Presidente francês fala em “pessoas influentes” que “são pagas pelos russos” para alimentar a narrativa de que a França explorou os países francófonos em nome dos seus interesses.

Foto
Os últimos soldados franceses a abandonar o Mali PAUL LORGERIE/Reuters

O Presidente Emmanuel Macron acusou a Rússia de alimentar a propaganda antifrancesa em África em prol das suas ambições “predatórias” em nações africanas que passam por dificuldades, e onde a França sofreu reveses militares e perdeu influência nos últimos anos.

Macron falava à margem de uma cimeira dos países francófonos na Tunísia e respondia aos críticos que dizem que a França explora os laços históricos e políticos nas suas antigas colónias em função dos seus próprios interesses.

“Essa percepção é alimentada por outros, é um projecto político”, disse Macron numa entrevista à TV5 Monde. “Não sou parvo, muitas pessoas influentes, por vezes falando nos vossos programas, são pagas pelos russos. Nós conhecemo-los”, afirmou.

“Algumas potências, que querem alargar a sua influência em África, estão a fazer isso para atingir a França, atingir a sua língua, promover dúvidas, mas, acima de tudo, perseguir certos interesses”, acrescentou.

França, antiga potência colonial na África Ocidental e central, mantém há muito ligações militares na África francófona e a tropa francesa esteve destacada no Mali durante uma década como parte de uma operação contraterrorista.

Os críticos descrevem as operações francesas como um fracasso e acusam a França de desestabilizar ainda mais a região.

Também tem lutado com a Rússia por influência nos últimos anos, com a presença do Grupo Wagner, a empresa paramilitar russa próxima do Kremlin, em vários países, incluindo a República Centro-Africana e o Mali.

Paris teve de retirar soldados do Mali com a deterioração das relações entre os dois países, depois de uma junta militar ter chegado ao poder através de um golpe, em 2020. Os líderes militares convidaram o grupo Wagner para ajudar na batalha contras fundamentalistas islâmicos que dura há uma década e cortaram relações com a França.

A Rússia já disse que o Grupo Wagner não representa o Estado russo nem é pago por ele. No entanto, a União Europeia impôs sanções ao grupo, acusando-o de levar a cabo operações clandestinas em nome do Governo russo.

O ano passado, um relatório das Nações Unidas informava que os instrutores militares russos e a tropa local na República Centro-Africana atacaram civis com uso de força excessiva, assassínios indiscriminados, ocupação de escolas e pilhagem em larga escala.

Moscovo diz ser mentira que instrutores russos tenham participado em mortes e roubos naquele país de 4,7 milhões de pessoas, rico em ouro e diamantes.

No domingo, Macron afirmou que o comportamento da Rússia é “predatório”.

“Basta olhar para o que está a acontecer na República Centro-Africana ou noutros lados para ver o projecto russo em curso, onde a França é afastada, é um projecto predatório”, disse o Presidente francês.

“É feito com a cumplicidade uma junta militar russa”, acrescentou.