Economia dá “sinais de abrandamento” com “elevada inflação”
Retrato do INE com base em indicadores e estatísticas apontam para desaceleração da actividade económica.
A actividade económica está a desacelerar nas principais potências europeias e os “sinais de abrandamento” são visíveis também em Portugal num contexto de “elevada inflação”. É o retrato feito pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) à trajectória económica mais recente, com base em indicadores e estatísticas conhecidos até Outubro.
De acordo com a síntese de conjuntura publicada nesta sexta-feira a partir de dados divulgados ao longo das últimas semanas, o INE refere que “os indicadores de curto prazo relativos à actividade económica na perspectiva da produção, disponíveis para Setembro, apontam para uma desaceleração” e que o indicador da actividade económica, calculado a partir de indicadores qualitativos destinados a medir a evolução da economia, “desacelerou significativamente em Setembro”. Depois de melhorar em Agosto, voltou a abrandar (à semelhança do que acontecera entre Março e Julho) e ficou no valor mais baixo desde Março de 2021.
Ao mesmo tempo, “o indicador de clima económico, que sintetiza os saldos de respostas extremas das questões relativas aos inquéritos qualitativos às empresas, diminuiu entre Agosto e Outubro, reforçando o movimento descendente iniciado em Março e atingindo o mínimo desde Abril de 2021”.
Na zona euro, o sentimento económico também voltou a baixar em Outubro, “ainda que de forma menos intensa do que no mês anterior”. A redução deveu-se, “em grande parte”, ao agravamento dos níveis de confiança nos serviços e, “em menor grau”, na indústria. O movimento só foi compensado parcelarmente por uma melhoria da confiança dos consumidores e nos sectores da construção e comércio a retalho, refere o INE.
Em Portugal, os dados do instituto estatístico apontam para uma desaceleração do indicador quantitativo de consumo privado em Agosto e Setembro — e o indicador de confiança dos consumidores também diminuiu em Setembro e em Outubro, ficando “num valor próximo do registado em Abril de 2020, no início da pandemia”.
Apesar disso, os números sobre os volumes de levantamentos de dinheiro nas caixas multibanco e de pagamentos de serviços e compras nos terminais de pagamento automático (TPA) nos estabelecimentos cresceram 13% em Outubro, (o INE baseia-se em dados da SIBS, gestora da rede de multibanco).
No que toca ao investimento, o movimento mais recente é de quebra. “O indicador de formação bruta de capital fixo (FBCF) registou uma variação homóloga negativa em Setembro, após o aumento verificado no mês precedente”, influenciada pela componente de material de transporte, descreve o INE.
“As vendas de cimento produzido em território nacional (não ajustadas de efeitos de sazonalidade e de dias úteis), já disponíveis para Outubro, registaram uma diminuição homóloga de 1,2%, após a variação nula verificada em Setembro e as diminuições dos dois meses precedentes”. E as vendas de veículos ligeiros comerciais, em relação às quais há dados de Outubro, caíram 20,6% face ao período homólogo, ao mesmo tempo em que as vendas de veículos pesados registam quebras nos últimos dois meses (face a Setembro e Outubro do ano passado, com diferenças de 27,7% e 15,3%, respectivamente).
A partir dos inquéritos de conjuntura às empresas, o INE nota que o índice de volume de negócios na indústria “desacelerou em Setembro, aumentando 22,3% em termos homólogos (variação de 29,1% em Agosto), significativamente influenciado pelo expressivo aumento de preços na indústria (19,6% em Setembro).
Nos serviços, a variação do índice em termos homólogos em Setembro foi de 19,2%, o que também representa uma desaceleração relativamente aos 22,1% registados em Agosto.
No comércio a retalho, o índice “desacelerou para uma taxa de variação homóloga de 2,1% em Setembro, após ter aumentado 5,6%” no mês anterior. “A evolução do agregado reflectiu sobretudo a desaceleração do índice relativo aos produtos não alimentares, que apresentaram um crescimento de 3,8% (10,2% no mês anterior), tendo os produtos alimentares apresentado uma diminuição homóloga de 0,2% (variação de -0,1% em Agosto).”
O cenário na construção é igualmente de abrandamento. O índice de produção “desacelerou em Setembro para uma variação homóloga de 0,8%, após ter acelerado nos quatro meses precedentes (variação de 3% em Agosto)”, indica o INE.
Quanto aos preços, o INE explica que a inflação de 10,1% registada em Outubro no país — a “mais elevada desde Maio de 1992” — teve as variações mais significativas nas componentes de bens alimentares e bebidas não alcoólicas (18,6%), habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis (18,5%), transportes (9,9%) e restaurantes e hotéis (16,3%).