De novo sofrido, de novo em França

Portugal garantiu pela segunda vez na sua história a qualificação para o Campeonato do Mundo de râguebi após conseguir empatar no Dubai com os Estados Unidos na última jogada da partida

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A 24 de Março de 2007, em Montevideu, o apuramento foi conquistado por apenas um ponto, após um disputado play-off de repescagem realizado a duas mãos, frente ao Uruguai. Quase 16 anos depois, a segunda grande conquista do râguebi português teve um desfecho ainda mais dramático. No último segundo do último jogo do torneio de repescagem para o Mundial de râguebi de 2023, realizado no Dubai, uma penalidade a cerca de 40 metros dos postes, convertida por Samuel Marques, garantiu aos “lobos” o empate (16-16) de que precisavam na “final” contra os Estados Unidos. Pela segunda vez, novamente tendo França como palco, Portugal marcará presença no terceiro maior evento desportivo mundial.

Tal como tinha acontecido na qualificação para o França 2007, foi com o último dos 20 bilhetes disponíveis que Portugal conseguiu, pela segunda vez, incluir o seu nome numa competição na qual, após 10 edições, apenas 25 países garantiram o apuramento.

Após duas rondas do torneio quadrangular, em que Portugal e Estados Unidos venceram sem problemas os seus jogos contra o Quénia e Hong Kong, cumpriram-se as previsões iniciais: a decisão sobre quem seria o último apurado para França sairia do último duelo da prova, um frente a frente entre “lobos” e “eagles”.

Num choque entre dois países com filosofias de jogo opostas - Portugal a procurar sempre o jogo rápido e à mão; os Estados Unidos a optarem sempre pelo confronto físico -, a grande dúvida para a selecção nacional era saber como conseguir equilibrar a batalha entre os avançados, conseguindo, assim, libertar a bola para as linhas-atrasadas.

Foi essa dificuldade, muitas vezes fatal para os “lobos” contra equipas do mesmo nível, que permitiu aos norte-americanos equilibrarem a partida e ficarem, até à última jogada, com a sétima qualificação consecutiva para um Mundial na mão.

Embora ao longo dos 80 minutos tenha ficado claro que havia mais qualidade do lado do “XV” português, a selecção comandada pelo francês Patrice Lagisquet mostrou-se, principalmente na primeira parte, incapaz de ultrapassar a estratégia dos Estados Unidos de manter o jogo fechado e lento.

No entanto, aos 8’ os avançados portugueses conseguiram abrir a bola para os três-quartos e o talento de Nuno Sousa Guedes e Raffaele Sorti fez o resto: o ponta, formado no Técnico, conseguiu o único ensaio português no jogo.

O domínio territorial dos norte-americanos mantinha, ao intervalo, o resultado equilibrado (10-9 para Portugal), mas a equipa nacional conseguiu ter mais bola após regressar dos balneários e teve várias oportunidades para dilatar a vantagem. Porém, aos 60’, na primeira vez que entraram na área de 22 metros portuguesa na segunda parte, os “eagles” chegaram ao ensaio e ficaram em superioridade numérica - exclusão de dez minutos de Francisco Fernandes.

A perderem por 13-16 e com menos um jogador em campo, os “lobos” mostraram então, pela primeira vez, fragilidades e ficaram sob pressão. No entanto, muitas vezes por demérito norte-americano, Portugal aguentou os dez minutos sem sofrer pontos e, com o regresso de Francisco Fernandes, voltou a assumir o domínio.

Foi, no entanto, no último fôlego que se fez justiça. Com Portugal a pressionar com paciência e inteligência, surgiu a falta que os “lobos” procuravam, mas Jerónimo Portela ainda tentou um pontapé de ressalto, que, para tornar o apuramento ainda mais sofrido, embateu no poste.

Não havendo vantagem portuguesa, o árbitro regressou à falta e colocou toda a responsabilidade no pé direito de Samuel Marques. A 40 metros dos postes, o médio-formação não tremeu e garantiu os três pontos mais importantes da sua carreira, dando início à festa dos “lobos”. O lugar no maior evento desportivo de 2023 estava garantido por Portugal.

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