Mísseis atingem território polaco e matam duas pessoas. Rússia nega responsabilidade
Polónia elevou estado de prontidão de unidades militares e pediu à NATO uma reunião invocando o artigo 4.º. Governo polaco diz que os mísseis que atingiram Przewodow são russos.
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Duas pessoas morreram numa explosão em Przewodow, uma aldeia no leste da Polónia, a cinco quilómetros da fronteira com a Ucrânia, causada por dois mísseis, de acordo com os bombeiros polacos. O incidente ocorreu ao fim de um dia marcado pelos bombardeamentos mais intensos da Rússia contra alvos ucranianos, mas Moscovo nega que os mísseis que atingiram a Polónia tenham sido disparados pelas suas forças.
Segundo a Reuters, citando dois diplomatas europeus, o Governo polaco invocou o artigo 4.º da NATO para convocar consultas formais com os restantes Estados-membros da NATO para analisar a situação, depois de o seu Ministério dos Negócios Estrangeiros ter acusado os russos de estarem por trás das explosões na localidade próxima da fronteira.
Horas antes um porta-voz do Governo, que falou à imprensa ao fim de uma reunião de emergência do conselho de segurança nacional, tinha afirmado que o estado de prontidão de algumas unidades militares nacionais tinha sido elevado, mas ainda não sabiam se invocariam o artigo 4.º.
O Presidente da Polónia confirmou que o míssil que atingiu território polaco é, “muito provavelmente”, um míssil de fabrico russo, como avançou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país, mas disse que “não há provas sobre quem o lançou”. O chefe de Estado acrescentou ainda que é provável que a Polónia invoque o artigo 4.º do tratado da NATO na reunião da Aliança Atlântica convocada para esta quarta-feira.
A Associated Press tinha citado, sob anonimato, um dirigente norte-americano que afirmou que as explosões no território polaco foram causadas por mísseis russos, mas não houve qualquer confirmação oficial do Pentágono.
O artigo 5.º do tratado da NATO garante que um ataque contra um Estado-membro deve ser tratado como um ataque contra toda a Aliança Atlântica, pelo que, caso se confirme que os mísseis foram disparados de forma intencional, os restantes membros podem ser chamados para responder à agressão. Porém, “mais do que isso, é preciso que haja intenção, o que claramente ainda não está provado”, como explicava à agência Lusa o professor de Direito Público Internacional, Francisco Pereira Coutinho. Para esta quarta-feira está marcada uma reunião de embaixadores dos membros da NATO, de acordo com a Reuters.
O Ministério da Defesa russo rejeitou as alegações de que tenham sido mísseis disparados pelas forças russas a atingir a Polónia. “Mísseis ‘russos’ na área de Przewodow é uma provocação deliberada para fazer aumentar a tensão da situação. Não foram realizados ataques de mísseis russos contra alvos próximos da fronteira polaco-ucraniana”, afirmou o ministério através de um comunicado.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a Polónia foi atingida por “mísseis russos” e lembrou que sempre disse que as acções de Moscovo “nunca se iriam limitar à Ucrânia”, sugerindo que o ataque contra um Estado-membro da NATO foi intencional.
O chefe da diplomacia ucraniana, Dmitro Kuleba, também responsabilizou a Rússia e voltou a apelar à intensificação do envio de armamento para as forças ucranianas. “Hoje, proteger os céus ucranianos significa proteger a NATO”, declarou.
A queda de um míssil na Polónia acontece no mesmo dia em que a Rússia atacou com mísseis várias cidades ucranianas, naquilo que os ucranianos classificaram como a maior onda de mísseis em nove meses de guerra. Foram atingidos edifícios residenciais em Kiev, para além de alvos nas cidades de Kryvyi Rih e nas regiões de Poltava e Cherkassy. Segundo as autoridades, grande parte dos bombardeamentos visou as infra-estruturas de abastecimento de energia. Em Lviv, por exemplo, 80% das casas está sem electricidade, de acordo com o autarca da cidade, próxima da Polónia.
Pedidos de cautela
A nível internacional, a generalidade das reacções insistiu na necessidade de cautela na apreciação dos acontecimentos. O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, falou com o Presidente polaco, Andrzej Duda, e disse ser “importante que todos os factos sejam apurados”. “A NATO está a monitorizar a situação e os aliados estão a ser consultados”, afirmou.
O Pentágono disse não estar em condições para confirmar a origem dos mísseis que atingiram a Polónia. “Temos conhecimento das notícias que alegam que dois mísseis russos atingiram um local no território da Polónia próximo da fronteira com a Ucrânia. Não temos neste momento qualquer informação que possa corroborar estes relatos e estamos atentos”, disse o porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder. Reacções idênticas foram veiculadas pela Casa Branca e pelo Departamento de Estado, que apenas referiram estar a acompanhar as averiguações junto do Governo de Varsóvia.
Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse estar “alarmada” com as notícias vindas da Polónia, que se sucederam “a bombardeamentos maciços da Rússia contra cidades ucranianas”.
Vários países europeus manifestaram solidariedade com as autoridades polacas por causa do incidente. O Presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, disse que “as notícias de duas explosões” na Polónia são “preocupantes” e garantiu que “cada centímetro do território da NATO deve ser defendido”. O ministro da Defesa da Letónia, Artis Pabriks, responsabilizou de imediato o “regime criminoso russo” e defendeu a aplicação do artigo 4.º do tratado da NATO, que prevê a abertura de uma discussão urgente convocada por qualquer um dos Estados-membros.
O Governo húngaro reuniu de emergência o seu conselho de segurança para abordar o incidente na Polónia e também a suspensão do fornecimento de petróleo através da Ucrânia, cuja infra-estrutura terá sido danificada pelos ataques durante o dia.
A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, disse que Berlim está a acompanhar a situação em coordenação com as autoridades polacas, divulgando uma mensagem cujo teor foi partilhado por praticamente todos os dirigentes europeus.