Sindicato acusa: maioria dos trabalhadores das obras da Metro do Porto não é qualificada

Sindicato da Construção admite que qualidade da empreitada pode estar em causa. Falta de mão-de-obra qualificada é um problema nacional – e já motivou pedido de audiência à ministra do Trabalho.

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Construção da estação da Galiza, da linha Rosa, que vai ligar São Bento e a Casa da Música Adriano Miranda

Os atrasos nas obras da Metro do Porto devem-se, sobretudo, à “falta de mão-de-obra qualificada” e, neste momento, a empreitada está a ser feita por gente sem formação. A denúncia foi feita esta segunda-feira pelo Sindicato da Construção de Portugal, que fala num problema nacional e já pediu uma audiência à ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, para debater o assunto. No Porto, diz o presidente do sindicato, Albano Ribeiro, a empreitada “cumpre as normas de segurança”, mas a qualidade pode estar em causa. “Se não temos boa mão-de-obra qualificada, a obra não pode ter a mesma qualidade”, disse ao PÚBLICO.

“Muitos dos trabalhadores que estão na obra da Metro nunca trabalharam na construção e não são operários qualificados. Para fazer uma obra com qualidade e para que os prazos sejam cumpridos é preciso ter operários qualificados”, frisa. Albano Ribeiro garante que “uma grande parte” dos “cerca de 800 trabalhadores” que estão nas várias frentes de obra da Linha Rosa (que ligará São Bento à Casa da Música) “não é qualificada”.

O Sindicato da Construção quer levar o assunto à administração da Metro do Porto, à qual irá pedir, ainda esta segunda-feira, uma audiência. Ao PÚBLICO fonte da empresa diz ter um protocolo com este sindicato e estar em permanente contacto com ele, preferindo, para já, não fazer mais comentários sobre o assunto.

Numa acção pedagógica feita na obra, enquanto parceiro social, Albano Ribeiro diz ter conhecido trabalhadores que não sabiam sequer o nome da empresa para que trabalhavam. “É muito grave.”

Entre as cerca de 80 empresas que estão no terreno há “mais patrões do que empresários”, aponta, fazendo uma diferenciação entre os dois: “Os empresários cumprem com os direitos dos trabalhadores, os patrões não.” Na obra no Porto, “há empresas idóneas, mas a maioria não o são”.

O problema estende-se aos engenheiros civis. Na mesma obra, a cumprir a mesma função, tem conhecido diferenças salariais gritantes. “Há engenheiros portugueses a trabalhar na obra da Metro do Porto que ganham três vezes menos do que os engenheiros estrangeiros. Isto é imoral.”

“Não pode continuar assim”

Albano Ribeiro sublinha não ser um problema exclusivo da obra da Metro do Porto. “Portugal está a atravessar uma falta de mão-de-obra nunca vista na história do sector”, denuncia. À ministra Ana Mendes Godinho, a quem solicitou uma audiência há cerca de um mês, mas ainda não teve resposta, quer pedir que sejam “retomados os centros de formação” que havia pelo país e que “desapareceram”.

“Nos últimos seis anos perdemos 300 mil trabalhadores. Só engenheiros civis, 16 mil foram para fora do país. É preciso estancar isto.”

As condições dadas aos trabalhadores dentro de fronteiras não concorrem com as conseguidas além delas. “Um carpinteiro em Espanha ganha 1900 euros, o salário cá é de 725 euros”, exemplifica. O paradigma mudou. Se há uns anos era comum haver trabalhadores da construção vindos do Marco de Canaveses ou de Amarante a viver no Porto de segunda a sexta-feira, para trabalhar, esses mesmos trabalhadores fazem hoje as malas e seguem para fora do país. “Vão para a Alemanha e ganham 4000 euros, vão para França e ganham 2900 euros. Isto não pode continuar assim.”

Moreira bate o pé

Na passada quinta-feira, Rui Moreira também se pronunciou sobre os atrasos nas obras da Metro do Porto, considerando haver um impacto “profundamente negativo” na cidade, decorrente da empreitada. Segundo o autarca do Porto, apoiando-se em dados de um estudo de acompanhamento da obra feito pela autarquia, há 1918 dias acumulados de atraso.

Falando numa “verdadeira disrupção do normal funcionamento da cidade”, Moreira avisou que, neste contexto, as restantes obras previstas – nomeadamente a Linha Rubi e o metrobus poderão não avançar.

Há dois meses, numa visita ao estaleiro da obra na Praça da Galiza, onde esteve o secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Moreno Delgado, o presidente da Câmara do Porto dizia estar “satisfeito” com o andamento da obra. As queixas de comerciantes e moradores relativas ao impacto da empreitada, quer em relação ao ruído, quer em relação ao trânsito, eram ossos do ofício de quem vive na cidade e sabe que ela precisa de resolver um problema de mobilidade” num “eixo carregadíssimo de automóveis”.

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