Ucrânia celebra “vitória extraordinária” em Kherson mas lembra que “a guerra continua”
Recuperação de Kherson é vista como “feito assinalável” pelos parceiros ocidentais da Ucrânia e como “mais um falhanço” para a Rússia.
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A recuperação de Kherson pelo Exército da Ucrânia deu azo a celebrações na cidade e um pouco por todo o país, raramente vistas desde o início da guerra, com Zelensky a declarar que sexta-feira foi “um dia histórico” para o país. Mas neste sábado a primeira mensagem dos responsáveis políticos e ucranianos era sobretudo de contenção. “A guerra continua”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Em Phnom Penh, onde decorre uma cimeira dos países do Sudeste Asiático, Dmitro Kuleba sublinhou que a luta contra a invasão russa ainda não terminou. “Eu percebo que toda a gente deseja que esta guerra acabe o mais rapidamente possível. Nós somos certamente os que o desejam mais do que quaisquer outros”, disse o governante, que se deslocou à capital do Camboja para tentar alargar a base de apoio diplomático do seu país. “Mas enquanto a guerra continuar e nós virmos a Rússia mobilizar mais soldados e a enviar mais armas para a Ucrânia, continuaremos a contar com o vosso apoio”, afirmou.
Kuleba começou por se reunir com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e planeia encontrar-se com homólogos e representantes de outros países asiáticos para estabelecer parcerias políticas e de apoio material à Ucrânia. Na cimeira da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) participa também o ministro russo Serguei Lavrov e o ucraniano diz-se disposto a avaliar um encontro com ele, caso um pedido desse tipo lhe seja feito. “A Ucrânia vencerá, é apenas uma questão de tempo. Algumas vitórias serão obtidas militarmente, mas outras serão obtidas diplomaticamente”, reconheceu.
Na sexta-feira, também no Camboja, o secretário-geral das Nações Unidas disse que “é muito importante criar as condições para restabelecer progressivamente um diálogo e progressivamente começar a olhar para um futuro em que a paz prevaleça.” António Guterres sublinhou que terá de ser “uma paz baseada nos valores da Carta das Nações Unidas e na lei internacional.”
Tal como Guterres, Joe Biden também viajou directamente do Egipto, onde participou na COP27, para o Camboja. A bordo do Air Force One, o conselheiro de segurança do Presidente americano, Jake Sullivan, afirmou que a recuperação de Kherson pela Ucrânia é “um feito assinalável” e “uma vitória extraordinária”, conseguida com “a incrível tenacidade e capacidade dos ucranianos”.
Sullivan destacou, ainda assim, que a política da Administração Biden perante a guerra não se alterou com este acontecimento – ou seja, que não pressionará os ucranianos a iniciarem negociações de paz com a Rússia. O conselheiro referiu-se ao facto de o Kremlin continuar a considerar a região de Kherson como parte da Rússia para justificar esta posição.
Na manhã deste sábado, as autoridades pró-russas da região – que continua sob domínio militar russo na sua grande maioria – anunciaram que a nova “capital temporária” é Henichesk, uma estância balnear na costa do mar de Azov que dista cerca de 200 quilómetros de Kherson.
“Ainda que a retirada seja bem-vinda, ninguém vai subestimar a ameaça contínua que representa a Federação Russa”, disse o ministro britânico da Defesa, Bem Wallace, num comunicado, em que classifica a saída da tropa russa de Kherson como “mais um falhanço estratégico”.