Criptomoedas voltam a cair, com uma das maiores bolsas à beira do colapso
A FTX Internacional está a enfrentar uma crise de liquidez, depois de uma fuga de clientes em massa. Há um buraco de oito mil milhões de euros por preencher.
O mercado das criptomoedas voltou a mostrar o quão volátil é. O valor de várias moedas digitais, incluindo a bitcoin, caiu significativamente nos últimos dias devido à fuga de clientes da FTX, uma das maiores bolsas mundiais para compra, venda e armazenamento destas divisas. No começo desta semana, a empresa das Bahamas pediu ajuda à rival Binance depois de um pico de pessoas retirar dinheiro da bolsa e originar uma crise de liquidez. A concorrente aceitou a proposta, mas nesta quarta-feira mudou de ideias.
A FTX suspendeu temporariamente os levantamentos de clientes para travar o agravar da situação (só recomeçaram ao final do dia de quinta-feira). “A FTX International tem actualmente um valor total de mercado de activos e colaterais que é superior aos depósitos de clientes”, confirmou o fundador e presidente executivo da FTX, Sam Bankman-Fried, numa mensagem partilhada no Twitter em que pede desculpa várias vezes.
O executivo garante que o dinheiro está seguro e que está a tentar resolver a situação, mas fontes contactadas pelo jornal britânico Financial Times notam que a FTX precisa de 8 mil milhões de dólares (7,8 mil milhões de euros à taxa de câmbio actual) para resolver a crise de liquidez.
Os problemas apanharam os investidores de surpresa. Desde Janeiro, a bolsa estava avaliada em 32 mil milhões de dólares (cerca de 31,5 mil milhões de euros), depois de angariar 400 milhões de dólares numa ronda de financiamento – a gigante tecnológica japonesa Softbank estava entre os investidores. Bankman-Fried reunia-se frequentemente com legisladores norte-americanos para falar sobre o futuro das criptomoedas; em cimeiras de tecnologia, o líder partilhava o palco com políticos como Bill Clinton e Tony Blair.
Os primeiros sinais de alarme apareceram na semana passada, quando uma notícia da CoinDesk, uma revista online sobre criptomoedas, alertou que o balanço da Alameda Research, um serviço irmão da FTX, era composto principalmente pela criptomoeda FTT. É a divisa oficial da FTX e dá aos titulares um desconto quando usam a plataforma. Ou seja, o serviço de câmbio da FTX, a Alameda, dependia de uma moeda inventada pela empresa irmã.
A realidade levou muitos utilizadores da Alameda e da FTX a retirarem os seus fundos das plataformas. Com o tempo, o movimento de saída dos serviços propagou-se, originando uma crise de liquidez.
A Binance, que inicialmente ia ajudar a FTX, revogou o apoio depois de receber relatos de má gestão de fundos por parte da bolsa de Sam Bankman-Fried. “Na sequência de uma auditoria jurídica, bem como das últimas notícias relativas a fundos de clientes mal administrados e alegadas investigações de agências americanas, decidimos que não iremos prosseguir com a potencial aquisição da FTX.com”, lê-se num breve comunicado da empresa sediada em Malta.
O Departamento da Justiça dos EUA e a entidade que regula o mercado bolsista no país, a Securities and Exchange Commission (SEC), estão entre as organizações que abriram investigações às operações da FTX.
A crise da FTX voltou a abalar o mundo das criptomoedas e o valor da bitcoin, a primeira e mais famosa das criptomoedas, caiu para os 15,5 mil euros. É o pior valor dos últimos meses, mas a FTX não é a única culpada – o ano de 2022 não tem sido bom para o mercado das divisas digitais.
Nos últimos 12 meses, o valor da bitcoin caiu mais de 70%. A 10 de Novembro de 2021, a bitcoin valia mais de 64 mil euros (o máximo atingido pela moeda). Um ano mais tarde, o valor varia entre os 15 mil e os 17 mil euros. Em Maio, a Luna e a TerraUSD, duas outras criptomoedas muito populares, passaram de dezenas de milhões a zero.
Numa nota enviada aos clientes, o banco de investimento norte-americano JP Morgan compara a crise da FTX à crise da Terra e da Luna e prevê uma queda no mercado devido à “dimensão e interligações da FTX e da Alameda Research com outras entidades do ecossistema criptográfico, incluindo plataformas DeFi [finanças descentralizadas]”.
Em declarações ao Financial Times, Fadi Massih, vice-presidente da agência de notação financeira Moody’s, explica que o problema surge devido à falta de regulação no sector: “A falta de supervisão regulamentar e a opacidade global do sector facilitam estratégias financeiras arriscadas, expondo as empresas a um ambiente em que os rumores de iliquidez podem tornar-se profecias autocumpridas”, nota Massih.
No final de Junho, legisladores na União Europeia chegaram a acordo sobre uma versão provisória do Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho em Mercados de Criptoactivos (MiCa). A versão final do acordo, que deve entrar em vigor em 2024, ainda tem de ser aprovada pelo Conselho e Parlamento da União Europeia.
Corrigido: A FTX não é a líder no mercado de compra e venda de criptomoedas como dava a entender no título original.