Um belo Castelão do Tejo e em conta (por oposição às notícias mais recentes, claro)

Depois de várias provas pela CVR do Tejo com vinhos de Castelão há produtores que começam a perceber que um tinto com aromas e sabores diferentes faz bem ao portfólio. Como o Espargal de D. Luís 2020.

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O Espargal de Dom Luís 2020 é feito por Pedro Rebelo Lopes, a quinta geração a cuidar das vinhas da Casa Agrícola Rebelo Lopes. Direitos Reservados
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O Espargal de Dom Luís 2020 é um monovarietal de Castelão, casta que a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo tem vindo a promover e a explicar.
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O Espargal de Dom Luís é feito com uvas de uma vinha velha da Quinta de Miranda, na Golegã, e é uma homenagem ao seu antigo proprietário, o coronel D. Luís de Saldanha Oliveira e Sousa.

Uma amiga que anda afincadamente a treinar a análise sensorial de vinhos falou-nos de um tinto de Castelão da região do Tejo “bastante interessante”. A nossa reacção foi cordial, mas não excitante (no conceito interessante cabe quase tudo). Só que, segundos depois, acrescentou o seguinte: “Parece aquele perfil dos tintos da Borgonha, dos Pinot Noir, mais abertos e leves”. Aqui a coisa fiou mais fino, visto que não é primeira, nem a segunda nem a terceira vez que nos ocorre que certos castelões – quando feitos respeitando as regras antigas – fazem-nos lembrar alguns vinhos de Pinot Noir. Já agora – e aqui que ninguém nos ouve, porque para muitos o Pinot Noir é a melhor casta do mundo –, também nos parece que a Tinta Negra deve ter parentesco próximo com a casta francesa, mas isso são outros quinhentos.

No dia seguinte demos um salto à garrafeira Néctar das Avenidas, em Lisboa e, depois de desembolsarmos a fortuna de 11 euros pela garrafa Espargal de Dom Luís 2020, ficámos a saber que o vinho é feito pelo mesmo produtor da marca Zé da Leonor. Ou seja, por Pedro Rebelo Lopes, a quinta geração a cuidar das vinhas da Casa Agrícola Rebelo Lopes, situada em Riachos, que fica a meio caminho entre a Golegã e Torres Novas.

Agora, este Espargal de D. Luís não é feito com uvas da casa agrícola, mas com uvas de uma vinha velha da Quinta de Miranda (Golegã) e é uma homenagem ao seu antigo proprietário, o coronel D. Luís de Saldanha Oliveira e Sousa que, dizem as crónicas, tinha fama de produzir bons vinhos na região.

Recuperada em 2012, a casa agrícola tem encepamentos com castas contemporâneas, portuguesas e estrangeiras, pelo que não deixa de ser curioso o aparecimento deste tinto de vinhas velhas (enfim, no Tejo, com 35 anos uma vinha já é velha) e de uma casta que, por enquanto, não está na moda. E é aqui que está um bocadinho da beleza deste vinho. “De facto, quando recuperámos a quinta não plantámos Castelão, mas apostámos no lançamento deste vinho em modo varietal por causa da qualidade das uvas, por causa da história da Quinta de Miranda, por respeito à actual geração que a administra, mas, também, por causa do trabalho que a Comissão Vitivinícola Regional [CVR] do Tejo tem feito na defesa e promoção de vinhos da casta Castelão, que muita tradição teve na região noutros tempos. E nós quisemos dar o nosso contributo”, diz-nos Pedro Rebelo Lopes, o geógrafo que deixou a área de investigação para se dedicar à gestão da empresa familiar.

Aqui está um bom exemplo de como uma CVR pode recuperar uma casta, contribuir para a manutenção da biodiversidade vitícola e, ainda por cima, dar ao consumidor alternativas aos vinhos tintos quase sempre feitos com a mesma meia dúzia de castas. O que a CVR tem feito até é muito simples. Recupera algumas garrafas antigas de Castelão, junta-as com marcas actuais de produtores que nunca abandonaram a casta, chama produtores e jornalistas para uma ou outra prova e põe toda a gente a conversar. Uns apreciam o perfil ligeiramente vegetal e fumado da casta e outros preferem trabalhá-la de forma a domar esse carácter ligeiramente rústico. Uns acham que serve muito bem para rosés e outros até já a usam para fazer espumante. Uns acham que dá bons abafados e outros acham outra coisa qualquer. E é por isso que, todos os anos, a CVR recebe mais vinhos da casta Castelão para certificar. Uma boa notícia para todas as partes envolvidas, em particular os consumidores.

Quando estamos enjoados dos mesmos sabores dos tintos – e isso acontece com regularidade – não há nada como abrir uma garrafa de Castelão (a Baga, o Alfrocheiro, o Jaen, o Bastardo e a Trincadeira também servem). E porquê? Porque os vinhos de Castelão aliviam-nos de certas sensações doces, demasiado frutadas e pesadas na boca. No caso deste Espargal de D. Luís 2020 (parece que na região cresciam bons espargos selvagens) a componente vegetal e fumada está presente no nariz e na boca, à mistura com notas de casca de frutos vermelhos, rebuçados de frutos vermelhos e massas em fermentação. Na boca, o vinho que é feito por Filipe Sevinate Pinto tem aquelas notas terrosas, especiadas e ligeiramente adstringentes, coisa que lhe dá vivacidade e graça na prova. Pode é ser um perigo, porque, ao contrário de outros, não enjoa, de maneira que vai sempre mais um copo. Merece levar 94 pontos.

A mesma nota que daremos à nossa amiga, por estar com uma técnica de prova bem afinada.

Nome Espargal de D. Luís 2020

Produtor Casa Agrícola Rebelo Lopes

Castas Castelão

Região Tejo

Grau alcoólico 14,5 por cento

Preço (euros) 11

Pontuação 94

Autor Edgardo Pacheco

Notas de prova Tem um perfil ligeiramente vegetal e fumado, característico da casta, e essa componente está presente no nariz e na boca, à mistura com notas de casca de frutos vermelhos, rebuçados de frutos vermelhos e massas em fermentação. Na boca, tem notas terrosas, especiadas e ligeiramente adstringentes, coisa que lhe dá vivacidade e graça na prova. Não enjoa, vai sempre mais um copo.

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