Irão detém dezenas de universitários: “Um estudante morre, mas não aceita humilhação”

Amnistia Internacional denuncia que forças de segurança dispararam balas reais contra uma manifestação pacífica, matando pelo menos dez pessoas, incluindo crianças.

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Manifestantes na marcha organizada em Sydney sob o slogan, “Mulher, vida, liberdade”, que as iranianas têm gritado STEVEN SAPHORE/EPA

A repressão não cala os protestos no Irão. Depois de uma semana marcada por muitos ataques das forças de segurança contra campi universitários em todo o país, este sábado foi dia de novas manifestações em universidades de várias cidades. Num dia em que a polícia do regime estreou um novo método de repressão, revistando os estudantes na chegada às universidades e obrigando os que levam máscaras a tirá-las para serem identificados, a Amnistia Internacional denunciou a morte de “dez pessoas, incluindo crianças”, numa operação da véspera contra uma manifestação em Kash, na província de Sistão-Balochistão.

De acordo com imagens e testemunhos recebidos pela organização não governamental, as forças de segurança “dispararam balas reais contra manifestantes pacíficos a partir dos telhados do gabinete do governador e de vários outros edifícios” da cidade de Kash. Referindo-se ainda a “dezenas de feridos”, a AI diz temer “mais derramamento de sangue, entre interrupções da Internet e relatos de que as autoridades estavam a levar mais forças de segurança para Khash a partir de Zahedan”. Outros relatos apontam para 16 mortos, escreve no Twitter o jornalista iraniano Omid Memarian.

Sistão-Balochistão, no Sudeste do país, é a província onde mais pessoas foram mortas desde o início da contestação ao regime, há oito semanas. Zahedan é a cidade da “sexta-feira negra”, como as organizações de direitos humanos se têm referido ao “violento ataque” (na descrição da AI) que se seguiu às orações de dia 30 de Setembro – a Amnistia fala em 66 mortos e admite que o número será maior; outros grupos contabilizam mais de 90 mortos.

Os protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, quando estava sob custódia da “polícia da moralidade” (que a detivera, acusando-a de uso indevido do hijab, o obrigatório lenço islâmico), têm envolvido iranianos e iranianas de todas as idades e de todas as comunidades, mas depois de começarem por ser liderados por mulheres, são agora os estudantes – rapazes e raparigas – que estão na linha da frente. Desde o primeiro protesto numa universidade, a 2 de Outubro (arranque do ano lectivo) na Universidade Sharif de Tecnologia, em Teerão, que a polícia antimotim tem entrado nos campi e atacado os estudantes, detendo e ferindo muitos, matando alguns.

De acordo com organizações de estudantes e grupos de direitos humanos ouvidos pelo jornal The Guardian, os ataques contra universidades intensificaram-se nos últimos dias. A União dos Estudantes do Irão documentou mais de 40 detenções e o diário britânico falou com estudantes que contam ter sido espancados e dizem nunca mais ter sabido de colegas levados pelas autoridades.

A coragem dos estudantes, e do conjunto dos manifestantes – que gritam “revolução” e prometem não parar até derrubar a República Islâmica –, continua a ficar à vista a cada dia que passa.

“Sou uma mulher livre, vocês é que são os perversos”, gritaram este sábado as alunas da Universidade Islâmica de Mashhad, a segunda maior cidade do Irão, no Nordeste, segundo um vídeo publicado pelo serviço persa da BBC. “Metralhadora, tanques, sob a túnica do líder”, foi um dos slogans na Universidade Kharazmi, da capital, numa referência ao Guia Supremo iraniano, ayatollah Ali Khamenei. “Não queremos um sistema corrupto, não queremos um líder assassino”, gritou-se na Universidade Sharif, de acordo com as contas de Twitter de vários activistas. “Um estudante morre, mas não aceita humilhação”, cantaram os estudantes da Universidade Gilan, em Rasht, no centro Norte do país.

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