J.D. Vance & Kari Lake

Teresa de Sousa assina, a partir dos EUA, uma crónica diária até à próxima terça-feira, dia das eleições intercalares norte-americanas.

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Kari Lake é bonita, excelente oradora, foi jornalista e apresentadora de televisão, até 2020, apoiou Obama, em 2008. Hoje, no Arizona, o estado que John McCain representou no Senado durante mais de 40 anos, a sua imagem de marca é a foto de um abraço supostamente caloroso a Donald Trump. Candidata-se ao cargo de governadora. A sua campanha é um exemplo da nova estirpe de candidatos republicanos que concorrem às eleições de meio mandato. Radicais nas posições que defendem e nas palavras que usam, patrocinados pelo anterior Presidente, negacionistas do resultado das eleições presidenciais de 2020. Lake di-lo todos os dias: as eleições foram roubadas. Fosse ela a governadora do Arizona, e os resultados do seu estado, que Biden ganhou por uma margem pequena, nunca teriam sido confirmados. O Washington Post descreve-a como a “nova heroína conservadora” que cumpre todos os itens da lista de Trump para se ser um bom candidato: durante a pandemia, opôs-se à vacinação e ao uso obrigatório de máscara; critica furiosamente a imprensa mainstream; é a nova heroína da Fox News; acusa Joe Biden de ter uma “agenda demoníaca”. Mesmo assim, ainda não tem garantida a vitória sobre a actual secretária de Estado, a democrata Katie Hobbs.

O que leva alguém que apoiou Obama a transformar-se na favorita de Trump? Viu a luz? Oportunismo? Lake foi republicana até 2006, inscreveu-se como democrata em 2008, regressou ao Partido Republicano em 2012. Durante a pandemia, a igreja católica que frequentava esteve fechada, só recebendo os fiéis por marcação. “Lake confessa que, quando atravessou a porta da igreja evangélica de Scottsdale, sentiu uma espécie de epifania que nunca tinha experimentado na sua jornada de fé”, recorda a revista Time.

Outro caso mediático é J.D. Vance, candidato a um dos lugares do Senado pelo estado do Ohio. Em 2016, manifestou-se contra Trump, entre outras razões, porque “diabolizava” os imigrantes. Declarava-se um “never Trump guy”. Hoje, diz que a imigração ilegal é “suja”. “Os democratas decidiram que não conseguem ganhar eleições em 2022 a não ser trazendo um número elevado de novos votantes para substituir os que já cá estão.” “Só pode haver casamento entre um homem e uma mulher” é outra das suas bandeiras. Ofereceu 3 mil milhões de dólares para acabar a construção do muro na fronteira com o México que Trump mandou fazer. Defende que não se pode continuar a dar dinheiro “aos países da Europa de Leste”. É jovem, rico, passou por Yale. Escreveu um livro, elogiado à direita e à esquerda”, a partir da história da sua família e da comunidade em que vivia, posta à prova pelos efeitos da globalização. Hillbilly Elegy foi um best-seller.

Liz Cheney, a face mais visível dos republicanos contra Trump, anunciou o seu apoio ao candidato democrata, Tim Ryan, que não é o adversário fácil. Combativo, popular, centrou a campanha na economia. “Os eleitores apreciam a sua habilidade para um bom combate” escreve o site Politico.

Mais uma vez, o que leva alguém que teve a melhor das educações, que é um produto de Silicon Valley, a converter-se a Trump e a repetir as suas ideias, por mais absurdas que sejam?

São apenas dois exemplos. Podia escrever sobre muitos mais. Provavelmente, vão dominar as bancadas republicanas no Congresso.

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