Direito de Resposta: “A coluna do provedor não é um pelourinho”

Direito de Resposta ao artigo “A coluna do provedor não é um pelourinho”, assinado por José Manuel Barata-Feyo e publicado no dia 8 de Outubro de 2022, nas edições impressa e online.

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. Miguel Manso

Solicito a publicação deste Direito de Resposta à crónica de José Manuel Barata-Feyo, provedor do leitor do PÚBLICO, pela imagem inaceitável que passa de mim no seu artigo de 8 de outubro. Nesse texto, Barata-Feyo tece uma série de considerações a meu respeito, nas quais não só não me revejo, como me ofendem.

Distorcer os factos para sustentar uma tese

O provedor do leitor confunde o que é a preocupação e o empenho de uma leitora (eu, no caso) na denúncia de práticas deontológicas questionáveis por parte de um jornalista do jornal PÚBLICO, do seu diretor e do seu provedor do leitor, com “intolerância” e “fundamentalismo”. E acusa-me de levar a cabo “sagas persecutórias” ou “campanhas ad hominem” (contra o jornalista Vítor Belanciano).

Para dar força à tese que quer passar, Barata-Feyo recorre a estratagemas que passam de mim uma imagem de pessoa insensata e algo perturbada. Fá-lo destacando, por exemplo, o número de emails que lhe enderecei, transmitindo aos leitores do PÚBLICO uma imagem completamente distorcida do ocorrido.

Afirma o provedor que lhe escrevi cinco emails. É verdade, mas é uma verdade totalmente descontextualizada e que contribui para desinformar os leitores.

Vejamos:

— O primeiro email que o provedor contabiliza é um email conjunto, endereçado ao jornalista que fez o plágio, ao diretor do PÚBLICO e (apenas em terceiro lugar) ao provedor. Trata-se do email em que faço a denúncia do plágio, logo no próprio dia em que ele foi publicado (18 de setembro);

— O segundo email é aquele em que me queixo diretamente ao provedor por, do meu ponto de vista, o jornalista e o diretor do PÚBLICO, Manuel Carvalho, terem tentado branquear o caso de plágio. Este email motiva a crónica de Barata-Feyo do dia 1 de outubro, com o título “Plágio”;

— O terceiro email é enviado ainda antes da publicação deste artigo e é simplesmente um agradecimento ao provedor, por ele me ter escrito dizendo que ia tratar o assunto. Neste email faço também (num parágrafo curto) um esclarecimento, porque Barata-Feyo me havia comunicado que ia averiguar aquilo que eu classificava como sendo um plágio. Ora, eu recordo ao provedor que não sou apenas eu a classificar assim o artigo em causa, já que Vítor Belanciano e Manuel Carvalho me responderam a esse primeiro email, com o título “Denúncia de plágio”, não contrapondo a acusação e, portanto, confirmando-a;

— O quarto email tem um parágrafo apenas e é escrito, também ele, antes da crónica do provedor de dia 1. Nele, peço desculpa a Barata-Feyo por lhe voltar a escrever, mas explico que entretanto tinha tido conhecimento de que Fanjul, dez dias após o sucedido, não tinha sido informado do plágio feito por Belanciano à sua crónica do El País, nem pelo próprio jornalista que comete o crime, nem pela Direção Editorial do jornal PÚBLICO​. Uma informação importante, uma vez que reforçava a queixa que tinha endereçado ao provedor (tentativa de branqueamento do plágio por parte do jornalista e da direção);

— Por fim, o quinto email é a minha queixa ao provedor pela forma como ele, Barata-Feyo, aborda todo este episódio de plágio, na sua crónica de dia 1, contribuindo, na minha ótica, também ele para o branqueamento do plágio.

Gastar espaço a contar caracteres e emails

Ou seja, na crónica de dia 8, Barata-Feyo — a quem, ocupando o papel de provedor, competiria louvar o interesse e a preocupação com a qualidade do jornal por parte dos/as leitores/as — opta por uma tentativa de ridicularização e descredibilização da leitora, alegando que esta lhe escrevera já cinco emails, mas ocultando que quatro desses emails se referem já a uma queixa anterior, a que o próprio provedor já tinha dado seguimento na sua crónica de 1 de outubro.

O email que motiva a crónica do provedor de dia 8 foi apenas um e, ao contrário do que Barata-Feyo leva a crer (ao falar em “sagas persecutórias” ou “campanhas ad hominem”), não se centra no jornalista Vítor Belanciano, mas sim no comportamento do diretor do jornal PÚBLICO e de José Manuel Barata-Feyo. Ambos, na crónica de dia 1, ocultam aos leitores do jornal que o plágio de 2022 era já o segundo de que tinham conhecimento. Eu tinha feito chegar aos dois uma crónica de Joaquim Vieira, provedor do leitor do jornal PÚBLICO em 2009, em que este se debruçava sobre outra denúncia de plágio praticado por Belanciano já naquele ano. Quem lesse a crónica de Barata-Feyo de dia 1, porém, era levado a pensar que o plágio por mim denunciado era o primeiro feito por aquele jornalista de que provedor e diretor tinham conhecimento.

A distorção dos factos levada a cabo por Barata-Feyo, bem como a contagem de caracteres e emails, permite ao provedor afastar-se do que era um dos pontos centrais da minha queixa: o facto de Barata-Feyo não ter feito a sua análise à luz do que o Livro de Estilo (LE) do PÚBLICO determina que a direção do jornal deve fazer quando erra. O provedor defende-se dizendo que tal texto, como o Código Deontológico do Jornalista, “são públicos e consultáveis em linha”. Barata-Feyo pede, assim, o impensável aos leitores: que consultem um documento (o LE) que tem 304 páginas! Haveria, para isso, necessidade de um provedor?

O que Barata-Feyo sabia bem era que, se explicasse aos leitores o que estabelece o LE do jornal sobre a forma como este deve lidar com erros que comete, jamais poderia terminar a sua crónica do dia 1, que motiva a minha segunda queixa, como terminou, afirmando que o jornal “tomou as medidas adequadas, embora tardiamente, para esclarecer os leitores”. Ao contrário do que prevê o LE: 1) não foi publicada nenhuma nota a dizer o “PÚBLICO errou”; 2) o PÚBLICO​-jornal ignorou o PÚBLICO​-sujeito da notícia; 3) o PÚBLICO não foi “leal para com os seus leitores”.

Por fim, saliente-se que, ao contrário do que Barata-Feyo afirma, eu nunca contactei o jornal El País a contar o sucedido. Apenas contactei o autor Sérgio C. Fanjul. E apenas o fiz nove dias depois de o plágio ser publicado e por ver que o PÚBLICO não estava a cumprir com o que deontologicamente lhe era exigido. Tal situação levou-me a suspeitar que o autor plagiado não tivesse sido avisado, algo que confirmei ser verdade. Ao contrário do que Barata-Feyo escreve também, não é uma “pretensão” minha afirmar que os pedidos de desculpa da Direção Editorial (DE) do PÚBLICO aos leitores, e de Belanciano a Fanjul, só tenham acontecido depois da minha intervenção. Tenho um email de Manuel Carvalho de dia 28 de setembro a dizer que aceitou a minha sugestão de publicar a nota da DE no artigo contendo o plágio; tenho uma email de Fanjul a dizer que, ao contrário do que diz ao provedor e este transmite na crónica de 1 de outubro, Belanciano não lhe tinha enviado um pedido de desculpas. Só o fez, portanto, depois de eu avisar o provedor de que ele não o tinha feito.

Joana Fillol

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