Padre suspeito de explorar sexualmente homem de 44 anos de quem era tutor
Sacerdote ter-se-á aproveitado das fragilidades de um homem de 44 anos, do qual era tutor. Quando este não acedia aos seus desejos sexuais, fechava-o no anexo de uma igreja, onde a vítima vivia.
Um padre de 63 anos é suspeito de explorar sexualmente um homem de 44 anos, que sofre de défice cognitivo, e do qual era tutor. Quando a vítima não acedia aos seus desejos sexuais, o sacerdote fecharia o homem no anexo de uma igreja, onde este vivia. Tudo se terá passado na aldeia de Numão, uma localidade com menos de 300 habitantes, em Vila Nova do Foz Côa, onde a Polícia Judiciária (PJ) deteve esta quinta-feira o clérigo.
O padre, que se tornou sacerdote há apenas nove anos, está indiciado pela prática de crimes de tráfico de pessoas e de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência.
“Trata-se do padre António Pinto, de Numão, em Vila Nova de Foz Côa”, no distrito da Guarda, disse fonte policial à agência Lusa, uma informação confirmada mais tarde pelo PÚBLICO.
“Por decisão judicial proferida em 2017, o arguido foi nomeado tutor da vítima, tendo-a acolhido na sua residência, oferecendo-lhe trabalho, em troca de alojamento e alimentação, sem qualquer outro pagamento”, lê-se num comunicado emitido pela PJ.
Nessa altura, já viveria há dois anos sob a guarida do padre, para quem trabalhava. Fazia jardinagem, limpezas, manutenção e até algumas tarefas eclesiásticas. Mas não recebia nada. Em troca tinha disponível o alojamento, num anexo de uma igreja, e a alimentação. Mas o padre António Júlio Fernandes Pinto queria mais, exigindo favores sexuais ao homem. A vítima, desgastada com a situação que se manteria há vários anos, terá contado o que se passava a familiares, que procuraram uma técnica de uma equipa de prevenção de tráfico de seres humanos, que reportou o caso à Judiciária.
Perante vários sinais de que havia o risco da vítima atentar contra a sua própria vida, a Judiciária agiu com rapidez e em três semanas recolheu indícios suficientes para deter o padre e instalar a partir desta quinta-feira o homem num centro de acolhimento e protecção especializado em vítimas de tráfico de seres humanos.
O presidente da Comissão Diocesana para a Protecção de Menores e de Pessoas Vulneráveis de Lamego, o padre Amadeu Castro, garantiu ao PÚBLICO que nunca chegou nem ao organismo que dirige, nem à Diocese de Lamego, que tutela o clérigo detido, qualquer queixa deste teor envolvendo o padre António Júlio. “Foi uma surpresa total”, garante o sacerdote, adiantando que na entidade que dirige vai ser realizada uma averiguação e que as conclusões serão remetidas para a coordenação nacional das comissões diocesanas.
Amadeu Castro adianta ainda que já falou com o bispo D. António Rocha Couto e que este lhe garantiu que será aberto um processo canónico assim que seja possível falar com o padre António Júlio. Sobre a história do colega de 63 anos, Amadeu Castro apenas sabe dizer que é “uma vocação tardia”, que este tirou o curso na Diocese de Lamego e que antes de ser ordenado padre foi durante alguns anos funcionário da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova do Foz Côa.
Um comunicado conjunto da Diocese de Lamego e da comissão para a protecção de menores e de pessoas vulneráveis, emitido esta quinta-feira, apenas garante não ter sido recebida qualquer denúncia deste tipo por nenhuma das entidades. E acrescenta: “Mantêm-se atentos à evolução da situação e manifestam-se prontos a apoiar cristã e solidariamente todos os sofredores”. Nada é referido quanto à abertura do processo canónico.
O padre António Júlio, sem antecedentes criminais, vai ser presente esta sexta-feira a um juiz de instrução para primeiro interrogatório judicial e aplicação de eventuais medidas de coacção. O titular do processo é o Ministério Público do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) da Maia. Com Lusa