Candidata à liderança da IL acusa Cotrim Figueiredo de condicionar processo eleitoral interno

Carla Castro lamenta que Rui Rocha tenha sabido da saída de Cotrim duas semanas antes dos outros deputados ou dirigentes do partido.

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Rui Gaudencio

A deputada Carla Castro, que concorre à liderança da Iniciativa Liberal (IL), acusa João Cotrim Figueiredo de ter condicionado todo o processo das eleições antecipadas pela forma como o conduziu e pelo apoio imediato a Rui Rocha. Carla Castro decidiu avançar com a sua candidatura dois dias depois de ter sido anunciado que as eleições para a comissão executiva da IL iriam ser antecipadas um ano, que o presidente, João Cotrim Figueiredo, não seria novamente candidato ao cargo, e que o deputado e dirigente Rui Rocha iria concorrer à liderança.

Em declarações à agência Lusa, a deputada liberal assume que esta foi “uma decisão difícil” depois da “surpresa” com os acontecimentos de domingo. Assegura que “não era algo que tivesse alguma vez pensado”, tendo concluído após a reflexão que “havia condições e que havia vontade” para avançar com a candidatura. Questionada sobre o apoio manifestado por João Cotrim Figueiredo a Rui Rocha, Carla Castro demarcou-se da decisão do ainda líder: “Posso dizer que, enquanto presidente, eu não o faria.”

Sobre o facto de não ter até ao momento qualquer apoio de colegas de bancada parlamentar - Bernardo Blanco, Joana Cordeiro e Patrícia Gilvaz também estão com Rui Rocha - a liberal vê esta situação “com tranquilidade”. “Eu tenho uma candidatura e vou ter um programa, um projecto livre, independente, desafectado, que respeita um legado e com propostas positivas e construtivas, focadas em acção e com carácter muito reformista, interno e externo”, refere.

No entanto, para Carla Castro, há um “condicionamento na forma e no timing” quando “uma pessoa apresenta logo” uma candidatura - como aconteceu com Rui Rocha no próprio dia -, lembrando que foi assumido publicamente que o seu opositor soube desta decisão de Cotrim Figueiredo “duas semanas antes”. Na opinião da liberal, o ainda líder do partido condicionou todo este processo eleitoral “porque deu tempo a quem se pudesse preparar ou pensar uma Comissão Executiva”.

Até ao momento, foi da bancada parlamentar dos liberais e da Comissão Executiva de João Cotrim Figueiredo que saíram os dois candidatos, Rui Rocha e Carla Castro. Em termos de apoios entre o grupo parlamentar, que desde as eleições deste ano é composto por oito deputados, Rui Rocha conta com o de João Cotrim Figueiredo, Bernardo Blanco, Patrícia Gilvaz e Joana Cordeiro.

Carlos Guimarães Pinto, deputado e antigo presidente da IL, anunciou nas redes sociais logo no domingo que manterá “a posição de afastamento da vida interna do partido” que assumiu desde que deixou a presidência e que por isso não iria integrar, subscrever ou apoiar qualquer lista apresentada aos órgãos do partido.

O primeiro presidente dos liberais, Miguel Ferreira da Silva, anunciou o apoio à deputada Carla Castro para presidente do partido, tendo o antigo candidato presidencial apoiado pelos liberais, Tiago Mayan Gonçalves, manifestado preferência pessoal por Carla Castro, remetendo uma posição definitiva para depois de se conhecerem as equipas e os programas. Já o líder parlamentar Rodrigo Saraiva reservou “para mais tarde” um eventual apoio a um dos concorrentes.

O “respeito pelo legado” mas com “vontade de fazer diferente"

Carla Castro diz concorrer à liderança com “respeito pelo legado"construído pelo partido nestes cinco anos, mas com “vontade de fazer diferente”, comprometendo-se a ser “presidente de todos os liberais” com uma “matriz profundamente tolerante e humanista”.

Na análise da dirigente liberal, a sua candidatura não representa uma ruptura com a actual liderança de João Cotrim Figueiredo - de cuja comissão executiva faz parte -, mas sim “uma continuidade naquilo que é para continuar que são as ideias liberais” sendo a IL um “partido liberal política, económica e socialmente”.

Compromete-se com “um programa claro”, quer do ponto de vista interno como externo, e, apesar de ainda não ter nomes para a sua direcção, tem já “claro que tipo de comissão executiva” pretende: uma “comissão executiva ágil, boa executante, descentralizadora, independente e desafectada”.

Comprometendo-se a ser a “presidente de todos os liberais”, a deputada considera que, em relação a Rui Rocha, tem “a oferecer um projecto diferente dentro da continuidade dos princípios liberais e do programa liberal”.

“Partilhámos efectivamente a mesma moção de estratégia [na convenção de 2021], mas agora há uma acção de futuro diferente, há outra dinamização e um projecto diferente quer interno quer na forma de actuar externamente”, refere, antecipando que durante a campanha haverá uma diferenciação entre as propostas dos candidatos.

A data da realização da convenção marca, para já, uma diferença entre os opositores. Se Rui Rocha vai propor ao Conselho Nacional que a convenção se realize em Janeiro, um mês depois do previsto, para que o tempo não seja uma limitação para quem quiser concorrer, Carla Castro afirma que “Dezembro está bem”. “Não vejo qualquer necessidade em adiar porque o problema das datas foi o condicionamento e os 15 dias antes. Se houve algum problema foi nessa altura”, considera.

A candidata espera uma campanha “boa, construtiva, com respeito e elevação” e, no dia seguinte às eleições seja qual for o resultado, quer todo o partido unido “a continuar a lutar por um Portugal mais liberal”.