Há mais de 400 milhões de anos já se usava a voz para comunicar

Novo estudo aponta a origem da comunicação vocal para o último ancestral comum de todos os vertebrados terrestres. E mais: as tartarugas, afinal, não eram mudas.

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Muitas tartarugas que considerávamos "mudas", afinal comunicam com a sua voz Miguel Manso

A comunicação vocal teve origem há mais de 400 milhões de anos, de acordo com um novo estudo que mostra também que animais como as tartarugas, que se acreditava serem mudas, apresentam reportórios acústicos amplos e complexos.

A investigação foi publicada na revista científica Nature Communications, num artigo que procura desvendar as raízes evolutivas desta “vocalização” animal.

As análises sugerem que esta vocalização é pelo menos tão antiga quanto o último ancestral comum de todos os vertebrados terrestres, que viveu aproximadamente há 407 milhões de anos.

O uso de sons como recurso de comunicação é comum entre vários grupos de vertebrados: o canto dos pássaros, o coaxar dos sapos ou o latido dos cães são alguns exemplos bem conhecidos e desempenham um papel fundamental no cuidado parental, atracção do parceiro e vários outros comportamentos.

Apesar da sua importância, pouco se sabe sobre quando e em que ponto da história evolutiva dos vertebrados este comportamento surgiu.

Para descobrir, uma equipa de investigação internacional, liderada pela Universidade de Zurique (Suíça), concentrou-se em espécies que nunca foram analisadas anteriormente, explica a instituição em comunicado.

Especificamente, o trabalho inclui evidências de 53 espécies de quatro grandes grupos de vertebrados terrestres – tartarugas, tuatara (réptil), cecílias (anfíbio) e peixes pulmonados – na forma de gravações vocais e informações contextuais sobre o comportamento que acompanha a produção de sons.

“Isto, juntamente com um grande conjunto de dados baseados na literatura [anterior] que inclui 1800 espécies diferentes e que cobre todo o espectro, mostra que a comunicação vocal não é apenas difundida em vertebrados terrestres, mas também evidencia habilidades acústicas em vários grupos que antes eram considerados não vocais”, analisa um dos autores do trabalho, Gabriel Jorgewich-Cohen. Por exemplo, muitas tartarugas, consideradas mudas, na verdade exibem repertórios acústicos grandes e complexos.

Para investigar as origens evolutivas da comunicação acústica em vertebrados, os investigadores combinaram dados relevantes sobre as habilidades de vocalização de espécies como lagartos, cobras, salamandras, anfíbios e peixes pulmonados com métodos de reconstrução de traços filogenéticos.

Combinados com dados de grupos de espécies acústicas conhecidas, como mamíferos, pássaros e sapos, os investigadores conseguiram mapear a comunicação vocal na árvore da vida dos vertebrados. “Conseguimos reconstruir a comunicação acústica como um traço partilhado entre estes animais, que é pelo menos tão antigo quanto o seu último ancestral comum, que viveu aproximadamente há 407 milhões de anos”, sublinha Marcelo Sánchez, que liderou este estudo.

Até agora, o consenso científico defendia uma origem convergente da comunicação acústica entre os vertebrados, uma vez que a morfologia do aparelho auditivo e sua sensibilidade, assim como a do trato vocal, variam consideravelmente entre estes.

Mas os novos resultados mostram que a comunicação acústica não evoluiu várias vezes em vários grupos de espécies, mas tem uma origem evolutiva comum e antiga.