Será esta a maior tartaruga de sempre?

A carapaça tem 2,4 metros de comprimento para suportar uma massa estimada de 1145 quilos. Entre outras revelações, a “excepcional” descoberta indica que os machos se distinguiam das fêmeas pela presença de cornos nas carapaças.

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Reconstrução de tartarugas gigantes a nadar, com um macho à frente e uma fêmea à esquerda Jaime Chirinos

O artigo publicado esta quarta-feira na revista Science Advances apresenta aquela que será a maior carapaça de uma tartaruga gigante que, há muito tempo, viveu na região tropical da América do Sul. Juntando as peças do puzzle, a “concha óssea” tem 2,40 metros de comprimento para suportar uma “massa” estimada em 1145 quilos. Os achados permitem esclarecer alguns aspectos importantes da biologia, anatomia e relações evolutivas da Stupendemys geographicus, revelando, por exemplo, que a presença de uns pequenos cornos na enorme carapaça distinguia os machos das fêmeas.

Uma equipa de investigadores da Universidade de Zurique encontrou em locais diferentes na Venezuela e Colômbia amostras de uma espécie extinta de tartaruga gigante que viveu há milhões de anos na América do Sul. “A carapaça de alguns indivíduos Stupendemys atingia quase três metros, tornando-a uma das maiores, se não a maior tartaruga que já existiu”, diz Marcelo Sánchez, director do Instituto Paleontológico e Museu da Universidade de Zurique que coordenou este trabalho, citado num comunicado da instituição.

Os cálculos feitos pelos especialistas revelam que a tartaruga teria uma massa corporal estimada em 1145 quilos – quase cem vezes mais do que a do seu “familiar” mais próximo que ainda se encontra vivo, a tartaruga gigante do rio Amazonas. Assim, os cientistas que analisaram vários novos espécimes de conchas e os primeiros restos da mandíbula inferior da Stupendemys geographicus sugerem que esta será a maior concha completa de tartaruga gigante alguma vez encontrada.

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Paleontólogo Rodolfo Sanchez deitado ao lado da carapaça gigante de uma tartaruga (macho), descoberta na Venezuela Edwin Cadena

As descobertas ajudam a preencher muitos espaços em branco na história da Stupendemys geographicus, que percorreu o Norte da América do Sul durante o final do Mioceno. “Os primeiros espécimes de Stupendemys geographicus foram identificados em 1976 a partir de restos descobertos na Venezuela, mas o conhecimento desses gigantes parou devido à falta de espécimes completos”, constata o artigo na Science Advances.

Neste trabalho, a equipa apresenta descrições anatómicas detalhadas e comparações de espécimes datados de expedições de 1994, bem como de descobertas mais recentes. Na análise descobriu-se por exemplo que “os machos desta espécie ostentavam conchas únicas com chifres na parte da frente de suas conchas superiores duras, um recurso que pode ter servido para proteger os seus crânios quando envolvidos em combate com outros machos”. Esta é a primeira vez que o dimorfismo sexual na forma de conchas com chifres foi relatado para qualquer tartaruga de água doce com retracção de pescoço lateral, um dos principais grupos de tartarugas do mundo.

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Investigador Edwin Cadena em trabalho de campo, na Venezuela, em 2016 Rodolfo Sanchez

Os autores do artigo também defendem que estes animais cresceram até estas impressionantes dimensões por influência do ambiente (quente, húmido e extenso) do seu habitat. A região tropical da América do Sul foi um dos lugares mais populares do mundo para albergar espécies gigantes, nota o comunicado da Universidade de Zurique. “A extinta fauna da região é única, conforme documentada por fósseis de roedores gigantes e de crocodilianos – incluindo crocodilos, jacarés e o gavial – que habitavam o que hoje é uma área de deserto na Venezuela. Há cinco a dez milhões de anos, essa era uma região pantanosa e húmida, cheia de vida.”

Entre outros animais gigantes, o território era habitado pela Stupendemys geographicus. “Apesar de seu tamanho incrível, a tartaruga tinha inimigos naturais”, explica ainda o comunicado da universidade, adiantando que “a ocorrência” da Stupendemys coincide com a do Purussaurus, um crocodilo gigante. Aliás, os restos das carapaças encontradas pelos cientistas apresentam marcas de mordidas e até aquilo será um dente cravado na concha óssea, o que podem ser provas do confronto entre estas duas espécies gigantes.

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Rodolfo Sanchez junto à carapaça da tartaruga gigante Jorge Carrillo

Com a análise das mandíbulas e outras partes do esqueleto da Stupendemys, foi também possível fazer uma revisão das “relações evolutivas desta espécie na árvore da vida das tartarugas”. “Com base nos estudos da anatomia das tartarugas, sabemos agora que algumas tartarugas vivas da região da Amazónia são os parentes vivos mais próximos”, conclui Marcelo Sánchez. As novas descobertas no Brasil, Colômbia e Venezuela denunciam ainda uma distribuição geográfica muito maior do que se pensava desta espécie gigante. O animal gigante viveu em toda a parte norte da América do Sul.

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