Um dos capítulos de A Família Netanyahu, de Joshua Cohen

A Família Netanyahu, do escritor norte-americano Joshua Cohen, vencedor do Prémio Pulitzer de Ficção 2022 e do Prémio Nacional do Livro Judaico, já está nas livrarias numa edição Dom Quixote. Misturando ficção com não-ficção, é “um romance histórico mordaz e linguisticamente exímio sobre as ambiguidades da experiência judaico-americana” segundo a editora.

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O escritor norte-americano Joshua Cohen Marion Ettlinger

Chamo-me Ruben Blum e sou um, sim, um historiador. Suponho, porém, que muito em breve serei histórico. Com isto quero dizer que morrerei e passarei a ser também história, num tipo raro de transformação tradicionalmente reservada aos académicos mais puros. Os advogados morrem e não passam a ser a lei, os médicos morrem e não se transformam em medicina, mas os professores de biologia e química morrem e decompõem-se em biologia e química, mineralizam-se em geologia, dispersam-se na sua ciência, tão certo como os matemáticos se transformarem em estatística. O mesmo processo se aplica a nós, historiadores – diz-me a experiência que somos os únicos no campo das humanidades a que isto se aplica – os únicos que se convertem naquilo que estudam; envelhecemos, amarelecemos, enrugamo-nos e ficamos frágeis como os nossos materiais, até que as nossas vidas se sedimentam no passado, transformando-se na verdadeira substância do tempo. Ou talvez isto seja só o judeu que há em mim a falar... Os gentios creem que o Verbo se faz Carne, mas os judeus creem que a Carne se faz Verbo, uma encarnação mais natural, mais racional...

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