Sunak já tem o apoio de mais de 100 deputados na corrida à sucessão de Truss

Antigo ministro das Finanças, que ainda não anunciou oficialmente a candidatura, ganha vantagem entre os parlamentares tories. Boris Johnson, que regressou este sábado de férias, reúne pouco mais de 50 apoios.

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Rishi Sunak a sair da sua residência, em Londres, este sábado Reuters/MAJA SMIEJKOWSKA

Rishi Sunak já obteve o apoio de mais de cem deputados do Partido Conservador na corrida à sucessão de Liz Truss, que apresentou a demissão na quinta-feira ao fim de apenas 45 dias no cargo de primeira-ministra do Reino Unido.

O antigo ministro das Finanças, derrotado por Truss na votação final para escolher o sucessor de Boris Johnson, no início de Setembro, contava, ao fim do dia, com o apoio de 127 deputados tories, contra 53 de Boris Johnson e 23 de Penny Mordaunt, a primeira candidata a entrar oficialmente na corrida.

A campanha de Johnson, que regressou este sábado de um período de férias na Republica Dominicana, tentou passar a mensagem de que o antigo primeiro-ministro já teria alcançado o número mágico dos 100 apoiantes – o limite mínimo imposto pelo grupo parlamentar 1922 Committee para poder ir a votos –, mas, do lado dos apoiantes de Sunak, a contagem foi posta em causa.

“Se Boris já tem 100 no bolso, porque é que a sua campanha está a publicar fotos dele a implorar por votos?”​, questionava o deputado conservador Robert Syms.

Segundo avançou o Guardian, várias figuras de topo do Partido Conservador estariam mesmo envolvidas numa campanha para impedir que Boris Johnson tivesse hipótese de regressar a Downing Street, alegando que causaria mais danos económicos ao Reino Unido e arriscaria mesmo “o fim do Partido Conservador”.​ A BBC avançou também que Sunak e Johnson estariam reunidos em Londres para tentar chegar a um acordo que salvasse o partido de uma luta fratricida.

Entre os apoios anunciados este sábado a Rishi Sunak que é, segundo as casas de apostas, o grande favorito a ser o próximo chefe de Governo do Reino Unido destaca-se o de David Frost, que foi secretário de Estado do “Brexit” durante o Governo de Johnson e que apoiou Liz Truss na eleição anterior à liderança tory.

“Boris Johnson será sempre um herói por ter alcançado o ‘Brexit’. Mas temos de seguir em frente. Não é, simplesmente, correcto arriscar a repetição do caos e a confusão do ano passado”, escreveu Frost numa publicação no Twitter, acrescentando que os tories “devem apoiar um líder capaz que possa aplicar um programa conservador”. E, para o político que liderou as negociações com a União Europeia pelo lado britânico, essa pessoa “é Rishi Sunak”.

“[Rishi] seria um primeiro-ministro muito capaz. Ele entende os problemas, consegue trabalhar a máquina e é um homem decente. Marcaria uma grande mudança no ‘sentimento’ dos anos de Boris”, acrescentou Frost.

Kemi Badenoch, uma das surpresas na anterior corrida à liderança dos conservadores, anunciou também este sábado que apoia Rishi Sunak para substituir Liz Truss como primeira-ministra. Num artigo publicado no Sunday Times, a ainda ministra do Comércio Internacional escreve: “A Sra. Thatcher ganhou a confiança do público e três eleições consecutivas ao falar sobre nós, não sobre ela. Precisamos de alguém que possa fazer o mesmo. Acredito que essa pessoa é Rishi Sunak.”

Segundo uma sondagem do YouGov, publicada este sábado, 43% dos britânicos consideram que Sunak fará um bom trabalho como primeiro-ministro, contra 34% que dizem o mesmo de Johnson.

Boris regressa de férias

Johnson chegou este sábado, ao final da manhã, ao aeroporto de Gatwick, em Londres, num voo em que viajou, acompanhado pela mulher e filhos, em classe turística. Segundo a Sky News, o antecessor de Liz Truss terá sido vaiado por alguns passageiros.

Na contagem de espingardas para a corrida à liderança dos conservadores, Johnson conta com alguns pesos pesados do partido, como Jacob Rees-Mogg, o ministro do Comércio ainda em funções, Ben Wallace, ministro da Defesa, Simon Clarke, ministro da Habitação, e Priti Patel, antiga ministra do Interior, que anunciou este sábado o seu apoio. “Boris tem o mandato para levar a cabo o nosso manifesto eleito e um histórico comprovado de acertar nas grandes decisões. Tem o meu apoio na corrida à liderança”, afirmou Patel na sua conta no Twitter.

Os aliados do antigo primeiro-ministro acreditam que na votação online dos militantes, o passo final no processo de escolha do sucessor de Liz Truss, Johnson será o vencedor, já que é ainda bastante popular entre as bases conservadoras, ao contrário de Rishi Sunak.

No entanto, outras vozes, como Jesse Norman, actual secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, alertam que eleger Johnson seria “absolutamente catastrófico”. Outro deputado tory, Roger Gale, já avisou que se Johnson voltar a ser primeiro-ministro apresentará a sua demissão da bancada parlamentar conservadora e tornar-se-á deputado independente. Pelo menos uma dezena de deputados conservadores estaria também a ponderar a saída da bancada tory caso Johnson regressasse.

Já Dominic Raab, que foi vice-primeiro-ministro de Boris Johnson, lembrou que este continua a ser alvo de um inquérito parlamentar por ter induzido deliberadamente os deputados em erro no caso do “Partygate” e que, no limite, pode levar à sua expulsão da Câmara dos Comuns. “Não podemos ter outro episódio do dia da marmota [uma referência ao filme O Feitiço do Tempo, em que o protagonista vive sucessivamente o mesmo dia quando acorda]. Temos que seguir em frente com o país e com o Governo”, disse Raab à BBC.

Analistas do Berenberg Bank alertaram também para o risco de um novo Governo Johnson, segundo o Financial Times. “A maioria dos deputados conservadores não quer Johnson como líder, pelo que pode haver demissões em massa e uma espiral de caos ainda mais prolongada”, alertou o banco numa nota aos seus clientes.

Actualizado às 21h45 com a contagem dos apoios recolhidos por cada candidato

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