A prevenção do bullying começa em casa!
Apesar de existirem muitos fatores que podem aumentar ou diminuir o risco de perpetrar ou sofrer de bullying, este é evitável. As escolas têm um papel importantíssimo na prevenção destes comportamentos. Mas também podemos prevenir o bullying em casa.
Desconcertantes, mas compreensíveis são as conclusões de inúmeras investigações que nos dizem que as crianças expostas a estilos de parentalidade negativos são mais propensas a serem intimidadas e/ou intimidar. Estilos de parentalidade negativa incluem comportamentos de abuso, negligência, estilos parentais mal adaptados e superproteção por parte dos pais.
O bullying é uma forma de violência e é classificado como uma experiência adversa na infância, sendo que o maior ou menor número de experiências adversas na infância coloca um indivíduo mais predisposto a sofrer de doença mental e/ou física na idade adulta, como seja por exemplo doença cardíaca.
O bullying é definido como qualquer comportamento agressivo indesejado por outra criança/jovem ou grupo de crianças/jovens, que envolva um desequilíbrio de poder observado ou percebido e seja repetido várias vezes ou com alta frequência. Esta forma de agressão pode causar danos físicos, psicológicos, sociais ou educacionais. Existe bullying físico (bater, chutar, etc.), verbal (chamar nomes ou provocar), relacional/social (espalhar boatos ou excluir do grupo) ou através do uso da tecnologia (cyberbullying). Uma criança/jovem pode ser um agressor, uma vítima ou ambos.
As consequências do bullying são diversas e podem resultar em lesões físicas, sofrimento emocional e social, automutilação e, no limite, levar mesmo à morte. No que diz respeito à saúde mental, sabemos que sofrer de bullying aumenta o risco de depressão, ansiedade, conduz a dificuldades de sono, a um menor desempenho académico e pode levar ao abandono escolar.
Os jovens que intimidam os outros e são eles próprios intimidados sofrem as consequências mais graves e correm maior risco de abuso de substâncias, problemas de saúde mental e comportamentais.
Inúmeros estudos demonstram uma relação entre a exposição à parentalidade negativa e o fator de ser vítima na escola, o que significa que comportamentos de bullying e risco de vitimização podem ter origem em casa e, mais tarde, passarem para o meio escolar. Por outro lado, certos comportamentos parentais positivos, incluindo boa comunicação, relações afetuosas, envolvimento e apoio dos pais, são fatores de proteção e, portanto, reduzem o risco de uma criança sofrer de bullying ou de vir a ser um agressor.
Os pais são as primeiras pessoas que têm uma influência primária sobre os seus filhos, sendo naturalmente a sua maior influência durante os primeiros anos, que correspondem a anos de desenvolvimento físico e psicológico; seguindo-se os professores, com quem a criança/adolescente convive nos anos vindouros.
Quando os pais, por exemplo, no trânsito chamam a outro condutor “gordo”, “parvo” ou “estúpido”, o mais provável é que os filhos chamem também esses nomes aos irmãos ou a alguns colegas da escola. Mesmo acreditando que os pais o façam sem a intenção de incutir este tipo de comportamentos nos seus filhos, a verdade é que inadvertidamente ensinam seus filhos a fazer bullying. Daí que a investigação demonstre que pais com comportamento bully são mais propensos a criar filhos bullies. Os pais autoritários, controladores e agressivos em casa tendem a incutir esse comportamento nos seus filhos.
Não menos importante é a influência dos modelos de comunicação que os pais usam entre si e que são continuadamente observados e mimetizados pelos filhos, em particular adolescentes. Quando eles veem a mãe a intimidar o pai ou este a tratar verbalmente mal a mãe, o mais provável é que repitam esse comportamento abusivo nas suas relações.
Apesar de existirem muitos fatores que podem aumentar ou diminuir o risco de perpetrar ou sofrer de bullying, este é evitável. As escolas têm um papel importantíssimo na prevenção destes comportamentos. Mas também podemos prevenir o bullying em casa, porque efetivamente as crianças precisam de orientação sobre como lidar com os agressores à medida que crescem, mas também precisam de orientação para não se tornarem num.
Todos os que lidam com crianças/adolescentes numa base diária, sejam pais, professores ou funcionários da escola, têm um papel a desempenhar na prevenção do bullying. Precisamos de, em primeiro lugar, não sermos os primeiros a iniciar o ciclo, na forma como comunicamos com os filhos ou os alunos, modelando as crianças/adolescentes a tratarem os outros com gentileza e respeito. Precisamos de explicar às crianças o que é o bullying e também de as incentivar no seu dia-a-dia fazerem atividades e terem hobbies que ajudem a promover a sua autoestima e confiança, e a desenvolver relações de amizade protetoras. Crianças seguras e confiantes não recorrem a estratégias de abuso para lidarem com os outros, não se sentem ameaçados pelo sucesso de ninguém, nem precisam de magoar o outro para se sentirem os maiores.
As crianças nem sempre falam abertamente acerca de estarem a ser vítimas de bullying, mas existem sinais e comportamentos aos quais devemos estar atentos. Estes incluem: roupas rasgadas, medo de ir para a escola, diminuição do apetite, pesadelos, choro ou depressão e ansiedade.
Enquanto pais nunca seremos capazes de controlar a forma como os outros irão tratar os nossos filhos. Com certeza que irão ser magoados durante a sua vida, mas podemos ajudar a construir a sua autoconfiança, força interior e segurança, para que não deixem que as palavras de um bully tenham impacto na forma como se sentem sobre si mesmos.
Se os pais sentirem que, por vezes, o seu estilo parental pode incluir alguns dos aspetos negativos descritos acima e desejarem utilizar estratégias mais positivas, devem consultar um profissional de saúde mental.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990