Telma Monteiro e mais cinco judocas pedem intervenção do Governo
Em carta enviada ao secretário de Estado da Juventude e do Desporto, os atletas olímpicos dizem-se “exaustos mentalmente”.
No mesmo dia em que Telma Monteiro denunciou através das redes sociais que a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) lhe retirou a verba do projecto olímpico e “despediu” a seleccionadora Ana Hormigo, seis atletas enviaram uma carta ao secretário de Estado da Juventude e do Desporto (SEJD) em que solicitam a intervenção de João Paulo Correia. No documento, enviado na segunda-feira e no qual Telma Monteiro surge como primeira signatária, é referido que os judocas estão “exaustos mentalmente” e é reportado que o presidente da FPJ terá feito “chantagem e uma ameaça inaceitável”.
A carta, a que o PÚBLICO teve acesso, é dirigida a João Paulo Correia e está assinada por cinco atletas olímpicos (Telma Monteiro, Bárbara Timo, Rochele Nunes, Patrícia Sampaio e Anri Egutidze) e Rodrigo Lopes, num total de seis dos dez judocas que integram o projecto olímpico.
Começando por referir que o judo português vive um “momento crítico”, os atletas expõem na missiva os problemas apontados por Telma Monteiro nas redes sociais — retirada da verba do projecto olímpico e despedimento de Ana Hormigo —, mas acrescentam mais “casos” que “prejudicam gravemente” a “conduta de excelência” dos desportistas, “criando um ambiente de insustentabilidade emocional para todos”.
Segundo os judocas, depois de a federação decidir de forma unilateral o “plano de actividades” e de Jorge Fernandes, presidente da FPJ, comunicar que “Rodrigo Lopes e Telma Monteiro já não” tinham “verba do projecto olímpico”, os “treinadores solicitaram qual a verba gasta” com “cada atleta”, mas “o presidente recusou-se a fornecer essa informação”. Os atletas queixam-se ainda de que a referida verba foi gasta “sem transparência alguma”. Isto, acusam os judocas, “com impacto directo no planeamento dos mesmos”. “É inadmissível o escamoteamento de contas e a falta de transparência”, acrescentam.
Sobre este tema, os atletas alertam o SEDJ que Telma Monteiro, “comparativamente com anos anteriores”, realizou “menos estágios e competições, pelo que argumentar que já não existe verba disponível para a preparação é simplesmente inaceitável”. O mesmo raciocínio é utilizado para os restantes judocas, pelo que “isto é claramente uma represália”: “É desgastante tentar resolver determinados assuntos e ver que o presidente surge sempre com novos problemas.”
É também referido que Jorge Fernandes “informou que os atletas não poderão fazer uma prova de apuramento olímpico”, alegando “que solicitou um estudo independente (que não diz qual é, nem fornece) a especialistas (que não indica quem são) que indica que os atletas não devem realizar provas em dois fins-de-semana seguidos”.
Esta deliberação da FPJ, segundo os judocas, é uma “decisão técnica” que deveria ser da responsabilidade do “treinador e não da federação” e acabará por retirar “a possibilidade de alguns atletas poderem acumular pontos para o apuramento olímpico”.
Outros dos “casos” apontados é “mais uma ameaça” de Jorge Fernandes, que, depois de informar que pretende colocar os “atletas que escreveram a carta aberta” em tribunal, terá acrescentado “em tom irónico” que podiam “fazer queixas ao secretário de Estado”. “Interpretamos esta declaração como chantagem e uma ameaça inaceitável e terá de ser encaminhada aos nossos advogados”, afirmam os judocas, que, embora “exaustos mentalmente” e sem “paz”, dizem manter “dia após dia” a “integridade e o treino” para continuarem “a ter ambições e condições de conquistar mais resultados”.
O texto publicado por Telma Monteiro nas redes sociais motivou reacções de diferentes quadrantes — o PSD e o BE pediram nesta terça-feira a audição do SEJD na Assembleia da República —, mas uma das tomadas de posição mais veementes partiu de Fernando Pimenta.
Num comentário divulgado na página de Facebook de Telma Monteiro, o canoísta deixou duas perguntas — “Onde andam os responsáveis máximos do nosso país? Estão à espera de que os atletas desistam?” — e mostrou-se solidário com os judocas: “Quando for para ir a tribunal, avisem, assim vamos mais alguns. E se der cadeia vamos todos.”