Liz Truss sacrifica o seu plano económico para acalmar mercados

Já não vai haver cortes de impostos e os apoios previstos para combater a crise energética serão de menor duração. A primeira-ministra britânica recuou no programa económico ambicioso que a conduziu ao poder.

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Jeremy Hunt, o novo ministro das Finanças britânico Reuters/HENRY NICHOLLS

Pressionado pelos mercados e perante o risco ainda maior de o Banco de Inglaterra deixar de segurar a libra e o nível das taxas de juro da dívida pública, o Governo britânico, liderado por Liz Truss, operou esta segunda-feira um retrocesso quase total na política económica de cortes de impostos e de apoios avultados às empresas e famílias para resistir à crise energética que tinha sido anunciada há pouco mais de três semanas.

O novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, que na sexta-feira substituiu Kwasi Kwarteng, confirmou, imediatamente antes da reabertura do mercado, que a grande maioria dos cortes de impostos que tinham sido anunciados pelo seu antecessor no passado dia 23 de Setembro não vai afinal ser posta em prática. E acrescentou que o pacote de combate aos efeitos da crise energética que se previa ter a duração de dois anos irá afinal ser aplicado apenas até ao próximo mês de Abril, reavaliando-se nessa altura a sua necessidade e ambição.

A prioridade de Hunt foi, com estes anúncios, a de passar a mensagem aos mercados financeiros de que o Governo britânico vai aplicar uma política orçamental prudente, abdicando de qualquer medida que conduza, no imediato, a um aumento dos níveis de endividamento. A esperança é a de que, com esta inversão de política económica, o valor da libra deixe de cair a pique face às outras divisas internacionais, como aconteceu nas últimas semanas, e que deixe de se assistir a um agravamento das taxas de juro da dívida pública do Reino Unido.

Nas primeiras horas a seguir ao anúncio de Jeremy Hunt, a libra recuperou uma parte do terreno perdido face ao dólar e as taxas de juro da dívida também recuaram.

A pressão dos mercados começou a fazer-se sentir a 23 de Setembro, imediatamente após a recém-nomeada primeira ministra britânica Liz Truss lançar, em conjunto com o então ministro das Finanças Kwasi Kwarteng, um programa económico que, com o objectivo de dinamizar o crescimento, apostava num corte de impostos avaliado em 45 mil milhões de libras e num pacote de apoios que, com a duração de dois anos, poderia chegar a um custo total superior a 100 mil milhões de libras.

A queda da libra e a escalada das taxas de juro da dívida foram tão fortes que, quase imediatamente, o Banco de Inglaterra, apesar de estar também a tentar controlar a inflação, foi forçado a lançar estímulos monetários destinados a estabilizar os mercados.

Do lado do Governo, Kwasi Kwarteng ainda anunciou o recuo em alguns cortes de impostos, mas a falta de credibilidade que passou a ter junto dos mercados conduziu a que, na sexta-feira, Liz Truss tivesse mesmo de o substituir por alguém capaz de assumir de forma mais convincente um recuo total no programa económico do Governo.

A própria primeira-ministra não se livra, com a viragem agora operada, de uma cada vez mais forte pressão para abandonar o cargo. Afinal de contas, Liz Truss foi eleita há um mês para a liderança do Partido Conservador precisamente com base num programa que fazia dos cortes agressivos nos impostos a receita para pôr a economia a crescer. Com este programa agora abandonado, tanto os partidos da oposição como vários membros do seu próprio partido questionam se faz sentido a actual primeira-ministra permanecer no cargo.

Liz Truss, contudo, parece decidida a defender a sua posição. Tentando justificar o recuo realizado na política económica, a primeira-ministra escreveu esta segunda-feira, na sua conta do Twitter, que “os britânicos querem estabilidade”. “Tomámos acções para delinear um novo rumo para o crescimento que apoie e responda às necessidades das pessoas do Reino Unido”, disse.

Para o ministro das Finanças, ficou a tarefa, que parece ser agora a prioritária, de garantir que a política orçamental vai ser prudente. “Nenhum governo pode controlar os mercados, mas todos os governos devem dar certezas relativamente à sustentabilidade das finanças públicas”, afirmou Jeremy Hunt, no momento em que anunciou as suas primeiras medidas.

Para o dia 31 de Outubro fica ainda agendada a apresentação de um plano orçamental de médio prazo.

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