Bispo do Porto diz não se recordar “minimamente” de ter recebido queixa por abuso sexual envolvendo padre

Mulher acusa bispo do Porto de ignorar as suas queixas quando tinha 14 anos. Antigo padre diz que relacionamento físico só aconteceu quando a jovem tinha 19 anos.

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Manuel Linda enviou comunicado nesta sexta-feira Anna Costa

O bispo do Porto nega ter sabido de um caso de abusos sexuais envolvendo um padre há vários anos, em Vila Real, e nada ter feito. Ultimamente debaixo de um coro de críticas por ter afirmado que o abuso sexual de menores não era “crime público”, contradizendo a própria lei, Manuel Linda – que já no passado mostrou reservas à constituição de uma comissão independente para investigar os abusos sexuais por membros da Igreja Católica – tomou nesta sexta-feira posição em comunicado.

A nota enviada às redacções diz respeito a um caso que foi notícia no Correio da Manhã, e também no Jornal de Notícias (JN), e que envolve um antigo padre de Vila Real e uma antiga aluna sua da Escola Secundária Camilo Castelo Branco, onde Manuel Linda foi professor de Educação Moral e Religiosa e padre.

A mulher, hoje com 32 anos, diz em declarações aos dois jornais que lamenta a reacção do então padre Manuel Linda quando, aos 13 ou 14 anos, lhe contou a relação física com o padre Heitor Antunes. “Contei-lhe que, mesmo sendo menor, tinha um envolvimento com o padre Heitor. Ele [Manuel Linda] disse que a culpa era minha, que eu é que andava atrás dele”, diz em declarações ao JN.

“Porque não me estava a sentir bem. Queria ouvir um conselho ou que falasse com ele”, acrescenta. Mas com a resposta de Manuel Linda, que a responsabilizou por manter tal relacionamento, a rapariga pediu ao pai para mudar de escola e frequentar um colégio interno em Vila Nova de Gaia para se afastar. Mais tarde reatou a relação com Heitor Antunes, afastado do sacerdócio, e de quem engravidou quando tinha 23 anos.

Hoje tem 32 anos, e põe a hipótese de apresentar uma queixa por abuso sexual de menor. Sobre este caso, o bispo do Porto diz no comunicado citado na edição impressa destes dois jornais mas entretanto enviado aos restantes órgãos de comunicação que “se alguma vez tivesse recebido alguma denúncia, teria reportado imediatamente ao meu bispo”.

“Não me consigo recordar minimamente de nada parecido com essa denúncia. Agora, e como Bispo do Porto, espero que nunca uma denúncia como esta fique sem resposta e que qualquer vítima possa denunciar e partilhar essa dor. Se alguma vez uma denúncia não teve acolhimento pela Igreja, só posso pedir perdão por essa falha”, diz ainda.

“É público que o caso está a ser investigado pela Comissão Independente, e é assim que deve ser”, conclui na mesma nota.

Já o antigo padre visado, ouvido pelo Correio da Manhã, rejeita as acusações de ter forçado uma relação física com a jovem quando esta tinha 13 ou 14 anos – garante que se envolveu com a jovem quando esta tinha 19 anos - e diz que estas foram alvo de uma investigação judicial em 2015 que terá sido, segundo ele, arquivada no ano seguinte.

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