Nopin e a ambição de “mostrar ao mundo que sabemos fazer bem em Portugal”
A marca de Catarina Pinto apresenta pela segunda vez no Portugal Fashion, numa missão de levar a indústria à passerelle. A colecção que leva ao evento é feita com 90% de têxteis nacionais.
Catarina Pinto cresceu no meio dos trapos na confecção dos pais em Fânzeres, perto de Gondomar. Sempre soube que a moda seria o destino e, quando terminou o curso de design de moda, em 2019, deu uma nova vida à Nopin, a marca que os pais tinham criado em 2006. Este ano, em Março, estreou-se no Portugal Fashion, numa missão de levar a indústria à passerelle. Nesta quinta-feira, apresenta a segunda colecção, Iris Gramine, na Alfândega do Porto.
Com a jovem designer, a Nopin ─ nome que junta os apelidos da família Novais Pinto ─ afastou-se de ser uma marca puramente industrial e ganhou uma nova imagem e conceito, bem como alterou o público-alvo, focando-se no segmento médio-alto. Com um mundo de possibilidades em aberto depois de terminar a licenciatura, Catarina podia ter criado um projecto novo. No entanto, foi a paixão pela confecção da família que a fez continuar o projecto em suspenso. “É bom dar essa continuidade, ainda por cima fazer renascer com uma coisa já existia”, defende.
“Sabemos fazer bem em Portugal”
Da confecção dos pais, onde se continua a produzir para etiquetas estrangeiras, quase tudo o que sai é português e foi essa componente que trouxe também para a Nopin. “Esta colecção que vai ser agora apresentada no Portugal Fashion, 90% dos têxteis são portugueses”, revela ao PÚBLICO, uma semana antes do desfile. “Devemos mostrar ao resto do mundo que sabemos fazer bem em Portugal”, declara a criadora de 25 anos.
É por isso que faz questão de utilizar a técnica tradicional e o trabalho manual nas suas colecções ─ que são maioritariamente para exportar, tendo como destino países como China, Canadá, Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos. Os protagonistas do trabalho de Catarina, reconhece, são os têxteis nacionais, a que elogia a qualidade e funcionalidade: “Temos tecidos que têm protecção UV e quando se olha parece um linho normal. Penso que são essas qualidades que nos diferenciam. Tentamos sempre a aliar a parte criativa à indústria.”
Essa inovação pode não ser o principal motivo por que as marcas estrangeiras escolhem produzir por cá ─ continua a vencer o preço da mão-de-obra ─ mas é, na opinião da criadora, um elemento diferenciador. “Temos uma forma de trabalhar mais limpa e rápida, mas também conseguimos acabamentos finais muito bons. Continuamos a ser um país que tem uma mão-de-obra muito manual”, elogia, lamentado o número cada vez menor de pessoas que sabem a arte de costurar.
A forma como Catarina Pinto tem aliado a parte criativa à indústria chamou a atenção do Portugal Fashion que a convidou a apresentar em Março passado, feito que repete esta estação. “Significa que estamos a fazer um bom trabalho e que estamos a evoluir”, observa. A designer elogia o caminho que o evento tem feito por aproximar a moda de autor da indústria e, assegura, são as marcas mais próximas do têxtil que pensam de forma mais ágil na componente comercial: “Se um designer não estiver ligado à indústria, vai ser muito mais complicado. Vai ser muito mais difícil criar peças com qualidade, mas, ao mesmo tempo, com versatilidade e que sejam fáceis de vender.”
Ser versátil é algo que Catarina Pinto considera essencial em qualquer peça de roupa sobretudo na óptica da sustentabilidade. “Se as peças forem atemporais e puderem ser usadas em várias situações é uma vantagem. Fazemos peças que a pessoa pode estar a trabalhar e depois à noite precisa ir a jantar e está pronta”, argumenta. Além disso, na Nopin não há peças em armazém, ou seja, só se produz depois de feita a encomenda.
A criadora desenha a pensar em mulheres “sofisticadas e, ao mesmo tempo, relaxadas”, que “se preocupam com questões ambientais”. E conta: “As lojas onde vendemos das primeiras coisas que nos perguntam é a composição dos tecidos: se onde vem, se é português…”
"Moda é arte"
Além do conforto, versatilidade e atenção aos materiais, há um aspecto transversal às colecções de Catarina Pinto: a arte. Na proposta apresentada em Março passado, agora em loja, reflectiu sobre o trabalho de uma pintora surrealista. Desta vez, foi beber inspiração ao trabalho de uma ilustradora de botânica, Mary Ann Scott, que “desenhava ilustrações em aguarela em livros de linho e algodão”. Afinal, argumenta, “moda é arte”.
Iris Gramine é uma das flores desenhadas pela artista e que dá nome à proposta da Nopin que é apresentada nesta quinta-feira. “Inspirei-me nessa flor para fazer o estampado da colecção e foi feito em linho como se fosse a representar o livro de rascunho”, explica a criadora.
Uma vez mais, Catarina Pinto dá um passo em frente na manipulação têxtil com um plissado que mimetiza as pétalas de uma tulipa, flores feitas à mão em seda aplicadas nas peças e rendas tricotadas manualmente. “Vamos ter tecidos diferenciadores, alguns até que não são feitos para roupa, mas para roupa de cama, como as rendas. Tentamos transformar em coisas diferentes”, desvenda.
E se no Inverno passado apostou nas silhuetas exageradas e nos volumes, os dias quentes pedem cortes esguios, cinturas marcadas e alguns folhos românticos. Também há espaço para tendências, sem exagerar: “Estamos a tentar introduzir a cintura descida e voltar à boca-de-sino”. “Gosto mais de fazer colecções de Inverno, mas mesmo assim gostei bastante desta”, confessa a designer.
A nova proposta já viajou até Paris, onde a Nopin participou no showroom Tranöi com o apoio do PF, uma experiência que Catarina Pinto analisa ter sido positiva. “Fizemos muitos contactos e resultou numa encomenda”, conta. No horizonte tem a participação em mais feiras internacionais, no início do próximo ano. “Queremos estender o leque de clientes. É o mais importante para nós neste momento”, conclui.