Polícia guineense invade rádio que denunciou desvio de droga no Ministério do Interior
Director interino da rádio Galáxia de Pindijiguiti foi avisado e não apareceu para trabalhar. Está actualmente escondido em lugar seguro, mas teme pela sua vida e a da sua família.
Um grupo de polícias invadiu, na segunda-feira à noite, as instalações na rádio Galáxia de Pindijiguiti, em Bissau, para “tirar satisfações” do jornalista que publicara uma notícia a denunciar suspeitas do desvio de uma grande quantidade de droga apreendida numa operação, e que envolverá altas figuras do Ministério do Interior da Guiné-Bissau.
Segundo disse ao E-global um funcionário da rádio, “homens com uniformes militares invadiram a rádio” na noite de segunda-feira, tendo abandonado as instalações por volta das 23 horas locais (meia noite em Portugal continental).
A agência Lusa, citando fontes da estação e do Sindicato dos Jornalistas, refere que a notícia divulgada pelo jornalista aponta o dedo a elementos do comando da Polícia de Ordem Pública (POP).
Sabendo de antemão da presença dos polícias, o jornalista não apareceu esta terça-feira no trabalho, estando neste momento escondido, “longe do alcance da polícia”, disse uma fonte da estação à agência.
Segundo a Voz da América (VOA), o jornalista é o director interino da rádio, Tiano Badjana, que se escondeu por temor a ser detido. Uma fonte disse à emissora que está em local seguro, mas teme pela sua vida e pela da sua família.
Indira Correia Baldé, presidente do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social da Guiné-Bissau, pediu à rádio Galáxia de Pindjiguiti e à POP que dialoguem para resolver o diferendo, garantindo à Lusa que “está a acompanhar o caso”.
A Associação Juvenil para Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (AJPDH) guineense denunciou o caso nas redes sociais e alertou sobre o risco que correm os técnicos da rádio.
“Os funcionários e os jornalistas estão em risco. Até ao momento a organização não registou informações sobre eventuais detenções, sequestro ou agressão física a nenhum funcionário. Contudo, houve um que poderia ser apanhado, mas escapou”, disse a organização.
Apesar de a Guiné-Bissau ter subido este ano três posições (de 95.º para 92.º) no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da Repórteres Sem Fronteiras, a organização considerava o cenário do sector “bastante complicado”, como referiu em Maio à VOA o seu responsável para a África Ocidental, Sabidou Marong.
São vários os casos de ataques, raptos e intimidações a órgãos de comunicação social e a jornalistas desde que Umaro Sissoco Embaló assumiu o poder na Guiné-Bissau em 2020. A Rede Nacional de Defensores de Direitos Humanos afirmou em Fevereiro, que se vive um “clima de terror e de medo” na Guiné-Bissau.
“Estamos perante um Estado, que para além de não estar em condições de garantir segurança às pessoas, ainda permite que os seus meios e os seus agentes sejam utilizados para criar um clima de terror e de medo. Há uma sensação de insegurança, de terrorismo, em que todo o mundo está vulnerável e indefeso neste momento”, disse na altura à Lusa o presidente da Rede, Fodé Mané.