Nascida por acidente? Tem origem no leite, a senhora pré-histórica. Talvez um balde desse líquido tenha ficado esquecido ao sol. Voilà! Nata batida, manteiga formulada. Não se conhece exactamente como proveio. Para a obter, precisamos de vacas ou ovelhas. Outras versões sugerem que foi conseguida através de um processo antigo: uma pele de cabra cheia de leite inflada de ar e fechada, é pendurada num tripé, agita-se até formar o creme espesso.
Na Escandinávia, sepultavam-se os mortos em barris de manteiga e, para alguns povos, a longevidade deve-se ao seu consumo. Foi combustível para lamparina ou de cosmético para o cabelo e pele. O povo egípcio considerava que ela tinha propriedades medicinais. A modernização permitiu que abandonasse as fazendas e se produzisse industrialmente. Na época da II Guerra Mundial serviu de moeda de troca. Nesta fase, era temperada com alho e enterrada para ser mantimento, adquirindo mais sabor.
Amarelinha. É ver o pedaço de gordura esparramado na fatia de pão do pequeno-almoço, ou não fosse a fatia de gordura de 83%. Não obstante, fácil de digerir. Queiramos ou não, o nosso pacote de manteiga contém sal e corantes, a não ser que façamos escolhas mais saudáveis, como caso da light ou sem sal. Temos outras opções mais ou menos conhecidas: a manteiga de cacau, a de baratte, a clarificada e a de amendoim. Para quem tem altos níveis de colesterol, há que trair a manteiga pelo creme vegetal.
Uma tendência culinária actual são os butter boards. Numa tábua de madeira coloca-se camada espessa de manteiga para que todos os ingredientes a adicionar fiquem bem colados, seja charcutaria, flores, geleias, frutas, temperos, legumes e tudo mais que se quiser. Os olhos também comem e vamos deparar-nos com um festival de cor e deixar todos a salivar.
As famosas bolachas de manteiga carregam uma quantidade elevada, variando conforme a receita. Ela é usada em croissants, bolos, cupcakes e em inúmeras receitas. Diz-se que é a melhor amiga do pão. Quem não gosta de umas boas torradas? Há ainda quem acrescente ervas e a apelide de aromatizada. Por cá, evidencia-se que a suprema é a batida à mão, da Ilha das Flores, e as top são sempre açorianas. Mas uma das melhores do mundo, considerada pela revista inglesa Wallpaper, é originária de Esposende, Marinhas, feita de forma artesanal.
Diversas alusões são feitas: “Porque o mexer do leite produz manteiga, o espremer do nariz produz sangue; assim o forçar da ira produz contenda”, Provérbios 30:33; “A fatia do pobre cai sempre com a manteiga voltada para o chão"; J. K. Rowling é a criadora da cerveja de manteiga. Os mais apaixonados, porventura, dirão: “Tu és a manteiga do meu pão.” Ficar na manteiga, sinónimo de estar tranquilo ou de folga. Superstições também as há, caso sonhemos com manteiga. O nome da Vila Portuguesa de Manteigas supõe-se ter origem na abundância de vacas, onde se faziam boas manteigas. Manteigadas, um bairro de Setúbal. Na literatura temos a expressão idiomática símbolo de moleza de sentimentos: “coração de manteiga”.
Nos dias que correm, a seca traz prejuízos à produção de leite. Os incêndios roubam o pasto aos animais. A recém-chegada crise e guerra traduzem-se em preços elevados. Gastamos mais dinheiro numa ida ao supermercado. As prateleiras do frio vão ter menos pacotes de manteiga ou vamos pagar muito mais por um só pacote. Voltaremos para as doces compotas? Deveremos ter a nossa própria vaquinha?