Idade média dos últimos detidos nos protestos no Irão é de 15 anos
Alunas do secundário interrompem discurso de um membro das milícias Bassij. Com o começo do ano lectivo, estudantes adolescentes assumem papel central na contestação.
Bassij, a temível milícia do regime iraniano, tem estado na linha da frente da repressão ordenada pelos dirigentes da República Islâmica contra a vaga de protestos desencadeada pela morte da jovem Mahsa Amini, sob custódia da “polícia da moralidade”. Um vídeo que começou a circular esta quarta-feira nas redes sociais mostra raparigas estudantes de um liceu a vaiarem um membro do grupo paramilitar enquanto agitam os seus hijab nas mãos. “Desaparece, Bassiji”, gritam.
As imagens terão sido filmadas em Shiraz, a quinta maior cidade do Irão, no Sul do país. De acordo com jornalistas como o iraniano Omid Memarian ou Kian Sharifi, da BBC, a direcção da escola tinha convidado o bassiji, como são conhecidos os membros individuais do grupo, para falar com as alunas sobre os protestos.
Desde o início das manifestações, logo depois do funeral de Amini, que morreu no dia 16 de Setembro, têm-se visto muitas jovens raparigas na rua. Mas só esta semana, com o arranque do ano escolar, é que as estudantes adolescentes ocuparam um lugar tão central na contestação.
Nos últimos dias têm surgido imagens de marchas de alunas sem hijab ou de estudantes com o cabelo à mostra nas salas de aula, algumas com cartazes improvisados em folhas A4 onde se lêem slogans dos protestos, como “Morte ao ditador”, “Liberdade, liberdade” ou “Mulher, vida, liberdade”. Há uma fotografia de alunas de costas a mostrar o dedo do meio a uma fotografia do Guia Supremo, o ayatollah Ali Khamenei. E um vídeo onde uma professora ameaça estudantes de expulsão no pátio da escola onde elas estão sentadas no chão sem hijab (lenço islâmico). “Honrada professora, apoie-nos”, gritam em resposta, entre aplausos.
As manifestações de adolescentes iranianas começaram depois do ataque da polícia antimotim, no domingo, contra os estudantes da Universidade Sharif de Tecnologia, em Teerão, que no seu primeiro dia de aulas tinham decidido protestar dentro do campus. A universidade foi cercada e os estudantes retidos durante longas horas. Houve dezenas de feridos e muitos detidos. Aos protestos, que já se alastraram a todas as províncias iranianas, juntaram-se entretanto dezenas de universidades em todo o país.
A repressão em resposta às maiores manifestações em vários anos já fez perto de 200 mortos, segundo grupos de direitos humanos (o regime fala em dezenas), e levou à detenção de alguns milhares – a maioria é solta passado poucas horas.
Ali Fadavi, comandante adjunto dos Guardas da Revolução, afirmou esta quarta-feira que “a média de idades de muitos dos detidos mais recentes é de 15 anos”, defendendo que serão “vítimas” de uma narrativa promovida nas redes sociais e em alguns media internacionais.
Amini foi detida por ter alegadamente violado o código de vestuário, usando o seu hijab de forma solta, a deixar ver uma parte do cabelo. Entrou em coma horas depois e morreu três dias mais tarde.
Entre as várias mortes desde o início dos protestos, o procurador de Teerão anunciou ter aberto uma investigação à morte de Nika Shakarami, uma rapariga de 16 anos que desapareceu depois de ter participado numa manifestação, no dia 20, e de enviar uma mensagem a uma prima dizendo que estava a ser perseguida pela polícia – a família encontrou o seu corpo dez dias depois, na morgue de um centro de detenção.