Cinema sob o signo de Fernando Lopes
A Sala de Cinema Fernando Lopes, que abriu em Maio na Universidade Lusófona, esteve fechada e agora volta a funcionar já esta quarta-feira, com Michelangelo Frammartino e Eskil Vogt.
A Sala de Cinema Fernando Lopes na Universidade Lusófona, no Campo Grande, em Lisboa, abriu em Maio deste ano. O espaço, que vai buscar o nome ao realizador português (1935-2012), pretende apelar a um público jovem e universitário – mas não necessariamente só aos estudantes da própria universidade –, esteve fechado uns meses. É uma sala com 130 lugares, dois deles de mobilidade reduzida, que reabre esta quarta-feira.
Há dois filmes esta semana e duas sessões neste dia de reabertura (ao fim-de-semana há quatro). Das Profundezas, de Michelangelo Frammartino, às 19h, e Os Inocentes, de Eskil Vogt, às 22h. O primeiro, que é a exploração de uma caverna profunda na Calábria nos anos 1960, terá direito a sessão especial, com participação virtual do realizador italiano e de especialistas em espeleologia – nesta quinta-feira há geólogos, e no dia 9 voltam espeleólogos. O segundo, um filme de terror do norueguês mais conhecido como co-argumentista de Joachim Trier, que foi nomeado para um Óscar pelo guião de A Pior Pessoa do Mundo, é um exclusivo da sala – em Lisboa, já que também passará na Casa do Cinema de Coimbra.
Este mês, haverá ainda espaço para, a propósito da estreia de Triângulo da Tristeza, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, uma retrospectiva de Ruben Östlund, com todos os filmes do realizador sueco. Inclui os seus três primeiros, ainda pré-Força Maior, O Guitarrista, Involuntário e Play, que não tiveram estreia comercial no nosso país. Ainda em Outubro, a sala verá também Chelas nha Kau, de Bataclan 1950 e Bagabaga Studios. Além disso, continua a ser a casa do Cineclube Alvalade, terá sessões mensais do Festival de Curtas de Vila do Conde, filmes dos alunos da Lusófona, e estreias coordenadas com a plataforma Filmin. Para breve, está programada outra retrospectiva associada a uma estreia, com os filmes do sul-coreano Park Chan-wook, e ainda Frágil, de Pedro Henrique.
A exploração da sala está a cargo da Cinetoscópio. A empresa junta Stefano Savio, Luís Apolinário e Luís Urbano. Savio dirige a Festa do Cinema Italiano e distribuidor com a Risi Film; Luís Apolinário é da distribuidora Alambique Filmes, que tem a Cinema BOLD, que teve sessões em cinemas como o Alvaláxia ou o El Corte Inglés para filmes que teriam uma vida difícil na distribuição normal, muito à volta do cinema de género; e Luís Urbano é da produtora O Som e a Fúria.
Ao telefone, Savio explica ao PÚBLICO que a sala teve um arranque “mais de aprendizagem”, de “encontrar uma identidade” alternativa “ao que existe já” na cidade. A Sala de Cinema Fernando Lopes, continua, pretende mostrar “conteúdos que possam ser apelativos, algum novo cinema português”. “O objectivo não era encher uma sala”, conta, “é quase uma experiência de programação”. Para Savio, “não tendo uma obrigação comercial tão evidente e forte, podemos dar espaço aos filmes para respirar, para ficarem várias semanas” e irem ganhando público. “Sentimos, como distribuidores, essa falta de espaço e de tempo”. Salienta que a aposta em filmes exclusivos é grande.
Nos primeiros tempos, diz, as pessoas tinham “um bocado uma ideia” de que iriam ver filmes “numa universidade, num auditório, ou que funcionávamos como cineclube”. “Isso criava um afastamento, mas os espectadores entravam na sala e percebiam que é completamente uma sala de cinema”, continua. Nos últimos meses, têm “mudado a sinalização” e se se passa agora em frente à Lusófona há um “cartaz gigantesco com o Cinema Fernando Lopes”.
O director da Festa do Cinema Italiano admite que abrir uma sala assim neste momento “não é a coisa mais óbvia”. É, garante, “um projecto ambicioso, que está à procura de um novo público”, que quer ir além dos jovens, quer o “público do bairro”. “Tentamos ser pop, transversais, com um conteúdo mais aberto. Vamos experimentando, ver os resultados, afinamos a nossa programação.” Sabe que poderá ser uma tarefa duradoura: “O importante é ter uma identidade, uma programação que seja reconhecível e não tentar pisar os pés aos outros, que fazem um trabalho óptimo, como o Nimas, o Ideal”.
Esta nova sala de cinema de Lisboa surge numa altura em que os números da exibição de filmes em Portugal têm vindo a ganhar expressão após a queda acentuada de 2020, início da pandemia de covid-19. Em 2019, tinha havido 15,5 milhões de espectadores nas salas portuguesas. Em 2020, desceu para os 3,8 milhões. Ainda não há dados finais para os anos de 2021 e 2022. Mas, até agora, segundo números disponibilizados pelo ICA, houve 5,5 milhões em 2021. E, nos primeiros nove meses deste ano, já houve mais de 6,8 milhões de espectadores.