Barcelos investe quase 5 milhões em ciclovia mas ainda não sabe quantas pessoas andam de bicicleta
O município minhoto vai investir numa ciclovia de 16 quilómetros que atravessará o espaço urbano, mas os dados sobre a mobilidade suave no concelho resultam ainda de uma “percepção empírica”.
Se tudo correr como está planeado, dentro de um ano, será possível circular de bicicleta no espaço urbano de Barcelos. A autarquia anunciou que, já esta semana, arrancarão as obras para a construção de uma ciclovia de 16 quilómetros que irá atravessar os principais equipamentos públicos e estabelecimentos escolares da cidade, num investimento de 4,6 milhões de euros.
O projecto prevê a criação de troços partilhados unidireccionais, desenhados ao nível do pavimento da estrada, e a construção de circuitos segregados, onde coexistirão a estrada, o passeio e as ciclovias ao nível da cota do passeio.
Ao PÚBLICO, o presidente da Câmara de Barcelos, Mário Constantino (PSD) explica que a rede ciclável vai passar por locais como a própria câmara municipal, as escolas secundárias, o Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA), o pavilhão, o estádio e as piscinas municipais e as estações rodoviária e ferroviária. No futuro, a ideia será alargar a rede à rotunda do Galo, um dos principais pontos de entrada na cidade e para onde, num terreno adjacente, está prevista a construção do novo hospital.
O autarca adianta que para o florescimento da ciclovia, “para efeitos de ordenamento do passeio”, haverá a necessidade de retirar o estacionamento automóvel em avenidas e ruas nevrálgicas da cidade, como são a Rua da Olivença, situada junto à estação de comboios, e as avenidas São José e João Duarte, nas quais se encontram duas das principais escolas da urbe.
Numa cidade em que os habitantes ainda fazem do carro o seu principal meio de deslocação e onde o serviço de transporte urbano só chegou há quatro anos, a ciclovia, que resultará em menos espaço para estacionar o automóvel, pode gerar desagrado entre a população, mas Mário Constantino lembra que, no curto prazo, “serão os jovens o público-alvo” a beneficiar da nova infra-estrutura.
Na verdade, Barcelos é um dos municípios do país que ainda não apresentou um Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS). Para já, os dados sobre a mobilidade suave no concelho são resultado de uma “percepção empírica”, alicerçada no número de utilizadores de trotinetes eléctricas partilhadas, cujo serviço chegou à cidade há pouco menos de dois anos. “Percebemos que há uma utilização de trotinetes muito intensa no período escolar e no Verão, o que ilustra bem que, havendo espaços destinados ao uso, o número de utilizadores crescerá exponencialmente”, acredita o autarca.
Em Abril de 2021, a autarquia, então liderada pelo PS, lançou inquéritos de rua para apurar os hábitos de deslocação dos habitantes de forma a fundamentar a elaboração do PMUS. Só que os resultados ainda não são conhecidos. Por isso, e pelo mesmo olho empírico, Mário Constantino avalia que a percentagem de utilizadores de bicicleta no concelho é muito reduzida, “primeiro porque não há ciclovias, e depois porque não há bicicletas eléctricas partilhadas”.
O autarca social-democrata adianta, no entanto, que o município encomendou um estudo a Álvaro Costa, professor da Universidade do Porto e especialista em mobilidade, e que o resultado do documento, que pretende fazer uma radiografia “à circulação automóvel, ao número de estacionamentos e às zonas da cidade que necessitem de intervenção”, será conhecido no início de Novembro. O objectivo passará por cruzar a informação do estudo com os inquéritos de rua e reunir tudo no PMUS, que será apresentado “até ao final do ano”. “Queremos ter um plano integrado, que case a intervenção pública com as ciclovias e o serviço de transportes públicos”, diz o autarca, adiantando que, a partir de Janeiro, o concelho contará com cinco novas linhas no serviço de autocarros e o alargamento das já existentes.
O PMUS servirá também para conhecer o tempo que é utilizado pelos habitantes nas viagens entre casa, trabalho ou estudo. O desejo, assegura Mário Constantino, é que “num futuro não muito distante, e compatibilizando com os transportes públicos, a maior parte dos barcelenses utilize a bicicleta no trajecto entre casa e trabalho na zona urbana”.