Dêem-lhe chuva, que Miguel Oliveira trata do assunto

O piloto português somou o segundo triunfo no Mundial de MotoGP e fê-lo novamente com apelo aos predicados de quem sabe tirar partido do piso molhado.

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Miguel Oliveira conquistou a quinta vitória em MotoGP, segunda do ano Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA

Se o MotoGP estiver a aceitar pedidos especiais, então são uns largos litros de chuva para as últimas três corridas da temporada — o “recibo” pode ser passado em nome de Miguel Oliveira. O piloto português voltou a mostrar, neste domingo, que é um dos especialistas mundiais a conduzir motos com piso molhado e venceu o Grande Prémio da Tailândia, numa prova irrepreensível, na adjectivação de um dos rivais.

No ciclismo, o português João Almeida já tem cunhado um estilo de assinatura — perder o contacto com os rivais e “caçá-los” aos poucos já é fazer um “Almeida”. No motociclismo, ao ser-se “certinho” — mas ofensivo — com a pista molhada é, cada vez mais, estar a fazer um “Oliveira”.

O piloto de Almada arrancou da 11.ª posição da grelha de partida e, mesmo sem arriscar manobras especialmente audazes, ultrapassou todos os que teve à frente, repetindo um triunfo em pista molhada, tal como já tinha feito na Indonésia, na parte inicial da temporada.

Com chuva, a diferença entre as motos é esbatida pelas “unhas” dos pilotos, em certa medida, mas também pelos predicados particulares de algumas marcas na capacidade de ter aderência especial com pneus para contexto molhado.

Com o talento de Oliveira nestas condições e com a capacidade da KTM, houve um “cocktail” que permitiu o triunfo de alguém que consegue, neste tipo de dias, contrariar a imagem de piloto apenas cerebral e incapaz de correr riscos. Algo que o próprio tem ajudado a construir, com algumas corridas de pouco risco.

É certo que Oliveira não pilotou de forma excessivamente ousada, mas fazer uma corrida destas à chuva ajuda a “vender” os predicados do português como piloto, até porque há quem defenda que é nestas condições que se vê quem tem mais talento.

O próprio explicou precisamente as valências que mostra nestas condições meteorológicas. “Acho que sou bom a entender as condições de aderência da pista bastante depressa. As sensações são mais cruas. Há que ser muito suave a abordar as travagens e acelerações e a velocidade em curva. Sou bastante suave e, quando chove, consigo tornar essas minhas capacidades mais evidentes”, detalhou, apesar de não ter tido pudor em dizer que é em piso seco que prefere vencer corridas.

Como tudo se passou

Depois de um arranque de corrida atrasado pela chuva — havia condições de visibilidade muito reduzidas —, Oliveira, mesmo não tendo arrancado especialmente bem, rapidamente ganhou três posições em quatro curvas e, no final da primeira volta, já estava em quinto lugar. Parecia claro, já nessa altura, que poderia ser um dia colorido para o português.

A corrida estava numa fase interessante, já que a demora na secagem da pista obrigava os pilotos a apostarem em trajectórias muito diferentes, como forma de fugirem ao “spray” enviado para as viseiras pela moto da frente. Era, portanto, uma corrida longe de ser feita em “comboio” e os pilotos usavam toda a largura da pista para conduzirem na Tailândia.

Miguel Oliveira estava a “voar” e somava, volta após volta, o tempo mais rápido da corrida, bem abaixo de todo o pelotão. Nessa medida, foi relativamente fácil chegar ao quarto posto, numa primeira fase, e atacar, depois, as três Ducati — de Bagnaia, Miller e Bezzecchi, este último entretanto já fora da liderança, depois de uma penalização por exceder os limites da pista.

Mas Miguel Oliveira não é o único piloto capaz de prosperar à chuva. Antes do português, já Jack Miller tem cultivado essa imagem e não foi surpresa que o que faltava desta prova fosse um duelo a dois entre Oliveira e Miller.
A KTM saltou para a liderança na volta 14 e, apesar da resposta do australiano, a Ducati não estava com capacidade para seguir o ritmo mais forte imposto por um Oliveira sempre muito concentrado.

É certo que a diferença foi curta, com menos de um segundo, mas a vitória do português nunca pareceu em perigo, mesmo com o ritmo mais lento que se foi registando a pouco e pouco, até pelas trajectórias cada vez mais secas proporcionadas pela pista tailandesa.

Mas nem só de Oliveira se deve falar depois desta corrida. O italiano “Pecco” Bagnaia terminou a prova em terceiro lugar e aproveitou a prestação medíocre de Fabio Quartararo (que não foi além de um longínquo 17.º) para deixar o Mundial de pilotos novamente ao rubro.

Quartararo lidera com 219 pontos, mas tem agora Bagnaia a apenas dois e Aleix Espargaró a 20. Miguel Oliveira subiu, com esta vitória, ao oitavo lugar da classificação do Campeonato do Mundo.

A próxima corrida de MotoGP está agendada para dia 16 de Outubro, na Austrália. Oliveira e Miller, este até por provavelmente querer dar show em casa, vão estar duas semanas a rezar por chuva forte.

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