As intenções registadas para as vindimas deste ano ascendem às 46 toneladas de uvas processadas, revelou esta quarta-feira a presidente do Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira. Em 2021, situou Paula Jardim, “foram processadas 26 toneladas de uvas para Vinho Madeira e vinho tranquilo”.
A vindima ainda não acabou, mas é então expectável que o processamento de uvas supere em quase o dobro o valor registado no ano passado.
No Porto Santo, entre as uvas que ainda serão processadas este ano, apesar de os dados não estarem fechados, Paula Jardim acredita que o seu destino possa ser maioritariamente para produzir vinhos de mesa.
Recorde-se que, como o Terroir noticiou no início de Setembro, novos agentes económicos, do arquipélago e de fora da região, encontraram recentemente nas uvas do Porto Santo apetência para produzir também vinhos tranquilos, o que fez com que a intenção de processamento de uvas daquela ilha tenha quase duplicado face ao valor registado no ano passado.
Segundo explicou, à Lusa, Paula Jardim, só no ano passado é que os operadores económicos (salvo honrosas excepções) manifestaram interesse em produzir na ilha dourada vinhos tranquilos com as castas brancas porto-santenses Caracol e Listrão. Resultado: estas uvas atingiram em 2022 um valor que ronda os quatro euros por quilograma, sendo actualmente as mais caras do país.
“Porque, no fundo, há uma apetência para a criação destes vinhos tranquilos e a quantidade de uvas também não é assim tão grande. Há mais procura do que oferta da matéria-prima”, justifica Paula Jardim.
Este ano “continua a haver um interesse muito grande” naquelas castas e uma das empresas que começou a produzir vinho tranquilo com uva porto-santense, Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Villões, do enólogo e produtor António Maçanita, construiu uma pequena adega no Porto Santo, o que lhe permite processar as uvas na ilha ao invés de ter de as transportar para a Madeira (o que acontecia no passado e ainda acontece para a generalidade dos operadores que querem certificar estes brancos).
“São duas castas diferentes, o terroir do Porto Santo é diferente do nosso, são solos arenosos, com pH elevados, completamente diferentes dos da Madeira. Todo esse terroir dá umas características diferenciadoras à uva e, consequentemente, ao vinho”, salienta a presidente do IVBAM.
As uvas processadas no ano passado (e no passado) no Porto Santo para vinho foram utilizadas essencialmente em vinho Madeira, mundialmente conhecido e o principal produto vínico do arquipélago da Madeira.
Na ilha dourada, existem actualmente 62 produtores e 14 hectares de vinha com a direito a denominação de origem e indicação geográfica. Há ainda 20 hectares sem esses direitos. Este ano, o IVBAM autorizou a instalação de novas vinhas das castas Caracol, Listrão e Moscatel Graúdo em mais 1,6 hectares de terreno e foi autorizada a replantação em 1,1 hectares.
“No fundo, há um interesse comercial para a produção do vinho e os viticultores vão, de certa maneira, desenvolvendo novas instalações de cultura e reconvertendo vinhas antigas sem interesse comercial para vinhas de interesse comercial”, explica Paula Jardim.
No arquipélago da Madeira, estão inscritos para a vindima a decorrer 2.150 produtores. Na região autónoma, existem 680 hectares de produção de vinha, dos quais 410 têm direito a denominação de origem e identificação geográfica. As expectativas para esta vindima são semelhantes às do ano passado, sendo por isso expectável a produção de cerca 3.600 toneladas de Vinho Madeira.
“Pode haver um pequeno decréscimo na produção, por causa das condições climáticas”, admite a presidente do IVBAM, que garante que tal “não é penalizador para o sector”.