Pedro Nuno Santos: “Obviamente participarei na decisão” sobre o novo aeroporto de Lisboa
O ministro das Infra-estruturas e da Habitação garante que irá acompanhar todas as fases do processo de decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa e que a polémica sobre este tema não prejudicou a sua autonomia.
Depois de há três meses Pedro Nuno Santos ter aberto caminho à mais mediática crise deste Governo em entrevista à televisão, o tema do aeroporto de Lisboa não podia ficar de parte da “Grande Entrevista” que deu esta quarta-feira à RTP3, na qual garantiu que, apesar dessa polémica, não vai ficar de parte nas negociações sobre a localização da nova solução aeroportuária de Lisboa, nem perdeu autonomia governativa.
“Obviamente que participarei na decisão [sobre o novo aeroporto]. Isso faz parte das minhas competências, da área que tutelo”, afirmou o governante.
Após a polémica solução Montijo-Alcochete, anunciada e publicada num despacho saído do ministério tutelado por Pedro Nuno Santos, e no dia seguinte revogado por António Costa, o aeroporto de Lisboa, em stand-by há cinco décadas, foi novamente adiado.
Da reunião entre António Costa e Luís Montenegro, com quem o primeiro-ministro quis chegar a acordo sobre esta matéria, saiu a decisão de se realizarem obras no aeroporto Humberto Delgado e criarem duas comissões encarregues de elaborar uma avaliação ambiental estratégica sobre as possíveis localizações do aeroporto, Santarém incluída, no espaço de um ano.
Questionado sobre a possibilidade de ter sido afastado desse processo e ter perdido autonomia com a polémica de Junho, Pedro Nuno Santos assegura que vai “estar em todos os processos de decisão” e que não perdeu “nenhuma” autonomia, mantendo as suas competências intactas. O governante apontou ainda que embora o “encerramento do acordo de metodologia” tenha sido feito entre António Costa e o líder do PSD, a sua concretização foi feita com a sua presença.
E assegurou que não tem “nenhum problema” com o facto de o primeiro-ministro ter dito publicamente que Pedro Nuno Santos terá essencialmente um papel de “executor” da decisão tomada pelo líder do Governo em conjunto com o líder da oposição. “Estou confortável com o fato de executor”, declarou.
“Gosto de fazer e concretizar e quanto mais rápido melhor. E não sou só eu, sou eu, o Governo e o primeiro-ministro”, afirmou, momentos antes, garantindo que não se quer substituir ao chefe do executivo.
Sobre essa crise, o ministro admitiu que “não foi um momento bom”, mas recusou que tenha sido uma “humilhação”, já que considera que os “desencontros fazem parte da vida” e assegurou ainda que não pensou sequer em demitir-se, tal como avançou o PÚBLICO na altura.
Confrontado com o novo adiamento do aeroporto, Pedro Nuno Santos respondeu que poderemos “estar a ganhar um ano” e que é preciso “esperar tranquilamente as conclusões da comissão”. Admitiu, porém, esperar “que cheguemos ao fim desta legislatura com este dossier já encaminhado de forma a não ter mais travagens”.
Já no que diz respeito às obras no aeroporto Humberto Delgado, assume que o executivo “tem essa questão resolvida e bem coordenada”, estando “pronto para renegociar as bases da concessão” com a ANA.
Ferrovia e habitação, do maior investimento público à maior fatia do PRR
Também a ferrovia e a habitação, dois dossiers tutelados pelo governante que têm ficado em segundo plano devido à questão do aeroporto, estiveram sob foco na entrevista.
Horas depois de Pedro Nuno Santos ter anunciado os planos para a criação de uma linha de alta velocidade até 2030, que ligará Portugal à Galiza (Lisboa-Porto-Vigo), o ministro reiterou que se trata do “projecto mais importante das últimas décadas em matéria de investimento público”, fazendo novamente referência à ideia de que está em curso uma “revolução” no sector.
Numa crítica ao “grave atraso e estado de abandono” da ferrovia, o ministro garante que esta medida, em conjunto com outras, vai permitir “recuperar décadas de atraso” e mostra-se convicto tanto em relação aos seus benefícios para o interior do país, quanto à sua concretização no tempo estimado.
“O modelo que encontrámos dá-nos a esperança de cumprir o prazo de 2030”, afirmou, recuperando também os compromissos relativos à ligação com Madrid, que diz estar “em curso”.
No que toca ao sector da habitação, quis também reafirmar que Portugal é “o país que dedica a maior fatia do PRR” a esta área, que é “uma prioridade muito forte do nosso Governo”, disse.
Já quanto a medidas de combate à inflação e à subida das prestações do crédito à habitação devido ao aumento das taxas de juro pelo Banco Central Europeu, partilhou apenas que essa resposta não é da sua tutela e insistiu naquela que tem sido a resposta do Governo: é preciso “muita cautela” e pôr olhos no “impacto orçamental” para encontrar uma forma de “minorar” os efeitos no bolso das famílias, sem os piorar.