O jornalista e autor João da Silva, que sobreviveu a três cancros, arranca nesta quarta-feira com a iniciativa “300 km de esperança” em que pretende caminhar e unir o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa ao de Coimbra e, posteriormente, ao do Porto. A iniciativa tem como objectivo enviar “uma mensagem de esperança às pessoas que lidam com o cancro neste momento”, bem como angariar fundos para a associação Acreditar, que ajuda crianças com cancro.
João da Silva foi diagnosticado com cancro do testículo em 2007, tendo sofrido duas recidivas, seguidas de um processo de hemodiálise e um transplante renal. Ao PÚBLICO, conta que a ideia da caminhada surgiu como um “agradecimento” a todas as pessoas que o ajudaram em “todas estas circunstâncias”.
“Houve uma altura em que, na verdade, eu não pude caminhar e outra em que não podia caminhar mais do que meia dúzia de passos. Então tem, para mim, um simbolismo importante poder fazê-lo agora, sinto-me forte para o fazer”, justifica assim a iniciativa de fazer esta caminhada.
João da Silva, que é cronista do PÚBLICO, acredita que o percurso serve como uma metáfora face à forma como considera que se deve lidar e encarar o diagnóstico e o tratamento para o cancro: “Um passo de cada vez.”
“Quando se tem cancro, não sabemos como vai ser o dia de amanhã. O mais realista é mesmo aceitarmos o dia que estamos a viver. Aceitá-lo, agradecê-lo e ir um passo de cada vez. Uma caminhada como se sabe, começa com um passo e é a soma de muitos passos juntos”, continua. Este foi o título encontrado para as crónicas que vai escrever diariamente no PÚBLICO, já a partir desta quarta-feira.
Associada à caminhada, está uma angariação de fundos para a Acreditar, associação de apoio a crianças e jovens com cancro e que está a expandir a sua casa em Lisboa, que quer aumentar a sua capacidade de 12 para 32 quartos. O jornalista considera muito importante o apoio feito pela associação e pela casa: “Há pessoas que vêm de longe ou que vivem com muitas dificuldades e perceber que ali têm um acolhimento e alguém que pode cuidar das crianças e das famílias enquanto fazem os tratamentos. Para mim tem um valor imenso”, justifica.
A identificação com os valores da Acreditar foi também, para João da Silva, um factor importante na escolha da associação a apoiar, considerando que na Acreditar existe o entendimento de que “o cancro é algo com o qual devemos lidar e em que toda a gente é vitoriosa”. Qualquer pessoa pode apoiar esta causa, através de transferência bancária ou por MBWay.
“A ideia de vitória e derrota não existe na Acreditar. E eu também acredito nisso. Com o cancro, aqueles que ficam e sobrevivem e aqueles que partem são todos vitoriosos, somos todos pessoas que, com certeza, fizeram o melhor que podiam para sobreviver e para viver”, acrescenta.
O percurso que, segundo o próprio caminhante, acabará por ter mais que 300 quilómetros durará cerca de 13 dias, iniciando-se às 8h30 junto ao IPO de Lisboa, na Praça de Espanha, planeando chegar e ser recebido em Coimbra no dia 5 de Outubro e no Porto no dia 10.
O autor, no entanto, rejeita assumir-se como o protagonista da caminhada, afirmando que pretende que a “mensagem de esperança” seja a personagem principal desta iniciativa. “Quem lida com isto pode olhar e dizer: ‘Aquele tipo passou por isto tudo e agora está a caminhar por nós e a mostrar que também é possível’”, conclui.
Texto editado por Bárbara Wong