Andrea Bergareche: Temos de viajar sozinhas e deixar os medos de lado

Aprendemos a sentirmo-nos vulneráveis, a olhar para trás sempre que caminhamos sozinhas e a protegermo-nos de uma série de perigos. Quando decidimos que vamos fazer uma longa viagem sozinhas, temos de enfrentar uma infinidade de opiniões e de comentários e não fraquejar na decisão.

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A última longa viagem de Andrea durou mais de 16 meses Andrea Bergareche

Vivemos numa sociedade onde viajar é possível para todos. Tornou-se tudo muito mais fácil e acessível. A partir do ecrã do nosso telemóvel podemos reservar voos e estadia em apenas alguns cliques, comparando opções de todos os serviços e preços. Os guias de viagem mudaram-se para a Internet e os blogues de viagem inundaram a blogosfera, oferecendo inúmeros artigos e guias gratuitos com roteiros, listas, crónicas e opiniões que permitem a qualquer pessoa viajar por sua conta para destinos desconhecidos com pouco planeamento e sem a necessidade de contratar um pacote numa agência de viagens convencional. Seja um fim-de-semana em Paris, quatro dias em Veneza ou até algumas semanas na Tailândia. Viajamos mais do que nunca na história e, também pela primeira vez, somos muitas as mulheres que se atrevem a embarcar numa aventura sozinhas.

A Internet e as redes sociais estão repletas de hashtags como #girlslovetravel ou #solofemaletravel enquanto todo um novo sector de viajantes femininas se prepara para comprar um bilhete de avião, agarrar nas mochilas e embarcar numa aventura sem depender de mais ninguém para a concretizar.

Mesmo assim, há muitos medos e dúvidas sobre os quais, na maioria das vezes, precisamos de nos desapegar. Aprendemos a sentirmo-nos vulneráveis, a olhar para trás sempre que caminhamos sozinhas e a protegermo-nos de uma série de perigos. Quando decidimos que vamos fazer uma longa viagem sozinhas, temos de enfrentar uma infinidade de opiniões e de comentários e não fraquejar na decisão.

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Uma das aventuras foi percorrer o Vietname de mota Andrea Bergareche

No meu caso, viajo há mais de dez anos e tenho o meu blogue, Lápiz Nómada, um projecto online que incentiva as mulheres de língua espanhola a viajar mais e a fazê-lo com independência, responsabilidade e liberdade, apoiando o turismo sustentável e o turismo local. Não foi um caminho fácil, tive de enfrentar muitos medos, meus e dos outros, mas viajar deu-me liberdade e segurança pessoal.

Tudo começou quando, em 2015, depois de viver no México por alguns anos, decidi embarcar numa viagem pela América do Sul que me levou dez mil quilómetros à boleia por mais de sete meses. A bordo de mais de 200 veículos percorri da Argentina à Colômbia, passando pelo Paraguai, Bolívia, Peru e Equador e descobrindo graças ao calor das pessoas locais que o mundo é um lugar muito mais bonito do que nos disseram.

Essa viagem foi apenas o começo de uma aventura que me levou a várias viagens a solo, como pedir boleia para ver as auroras boreais na Finlândia em temperaturas abaixo de zero ou viajar de mota através do Vietname.

Em 2019, e depois de mais de quatro anos a viajar e a receber mensagens de outras mulheres, decidi publicar Yo Viajo Sola (Eu Viajo Sozinha), o livro que gostaria de ter lido antes de começar a viajar. É um livro ilustrado que nos convida a enfrentar todos esses medos e riscos com bom senso e a assumir o controlo das nossas vidas ao longo da jornada. Inclui conselhos práticos sobre como começar a viajar sozinho, desde a escolha do destino até à arrumação da bagagem, diferentes formas de transporte e de alojamento e como garantir a sua segurança em todos os momentos.

A minha última longa viagem durou mais de 16 meses, percorrendo parte da Ásia e do Sudeste Asiático sozinha. Foi uma viagem que me permitiu conectar com novas facetas da minha personalidade e que me encorajou a lançar as minhas Aventuras para Mulheres Guerreiras, um novo formato de viagem em grupo.

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"... acrescentando um pequeno grão de areia para que a cada dia sejamos mais mulheres viajantes" Andrea Bergareche

Nas Aventuras para Mulheres Guerreiras, as viagens não são planeadas em detalhe, mas são as próprias viajantes que têm de tomar decisões em todos os momentos para que a viagem se torne uma aprendizagem e que lhes permita adquirir as ferramentas necessárias para que possam vir a viajar sozinhas deixando os medos de lado. São pequenos grupos para viajantes de todas as idades em que o turismo local e os negócios e empreendedorismo das mulheres locais são promovidos para todas as viajantes que procuram uma mudança, uma dose de energia, força e vida.

Desde então, já são muitas as mulheres guerreiras, dando vida a esse lindo sonho e acrescentando um pequeno grão de areia para que a cada dia sejamos mais mulheres viajantes.

Andrea Bergareche, Lápiz Nómada

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