Ponte sobre o Douro para TGV terá tabuleiro para carros mas isso implica pagamento de indemnizações

O concurso público para a nova ponte D. António Francisco dos Santos termina no próxima mês, mas a empreitada poderá não avançar nos moldes inicialmente definidos após IP ter sugerido travessia com dois tabuleiros.

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Projecto inicial previa a construção da travessia paralelamente à Ponte de São João Nelson Garrido/ARQUIVO

Em vez de duas novas travessias sobre o Douro, a montante da Ponte de São João, afinal poderá optar-se por construir apenas uma com dois tabuleiros – uma para carros e outra para o TGV. A sugestão é da Infra-estruturas de Portugal (IP) e Rui Moreira, que ia dividir a despesa da construção da ponte D. António Francisco dos Santos (para tráfego rodoviário) com Vila Nova de Gaia, apoia a alternativa por uma questão de “interesse público”.

O concurso público para a empreitada da travessia que teria o nome do antigo bispo do Porto que morreu em 2017 está a decorrer e termina em Outubro. Mas, se for necessário anulá-lo não será um problema para a câmara. Só que primeiro será necessário conhecer as propostas da IP, adiantou o presidente da Câmara do Porto aos jornalistas no final da reunião do executivo privada desta segunda-feira.

Se a vontade inicial do Porto e de Gaia cair por terra, quem concorreu ao concurso público terá de ser indemnizado. Ainda assim, Moreira considera que essa hipótese continua a ser mais vantajosa do que construir duas pontes. “Temos de indemnizar os concorrentes. Mas não é a mesma coisa [a nível de custos] que construir uma ponte nova”, sublinha.

Inicialmente, o plano era construir duas novas travessias - uma rodoviária à cota baixa e outra ferroviária à cota alta. Por uma série de condicionantes a nível estrutural, a IP opta agora por uma alternativa de dupla utilização.

O autarca portuense diz desconhecer ainda qualquer plano assente na alternativa da IP. Talvez na quarta-feira, adianta, poderá conhecer mais pormenores quando o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, apresentarem a nova linha de alta velocidade entre o Porto e Lisboa na estação de Campanhã.

Mas se a nova alternativa for escolhida, como parece que vai acontecer, quem é que assume a despesa da nova travessia com dois tabuleiros, já que a ponte D. António Francisco dos Santos deixa de ser uma realidade? “O Porto e Gaia com certeza não vão construir a ponte ferroviária”, atira Rui Moreira, sem aprofundar a questão. “Em última análise, o que interessa aqui é o interesse público”, sublinha.

O vereador do Pelouro do Urbanismo da Câmara do Porto, Pedro Baganha, adianta que a nova proposta avançada esta segunda-feira pelo JN chegou ao conhecimento da autarquia há algumas semanas, após a IP ter constatado existir uma “sobreposição parcial” entre a futura ponte ferroviária e a rodoviária. “Estamos a equacionar quais são os graus de liberdade e quais são as implicações da necessidade desta nova ponte ferroviária e não vos nego que uma das hipóteses que está em cima da mesa é a de substituir duas pontes [por uma]”, afirma. Ainda assim, continua a dizer que “todos os cenários estão em aberto”.

À espera das propostas

A vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, pediu que as propostas agora em cima da mesa sejam levadas a discussão em reunião de câmara quanto antes para serem discutidas. Só depois pode emitir um parecer sobre o que está em causa com esta possível alteração. “Que não aconteça o que já aconteceu anteriormente, que é primeiro decidir-se e só depois discutir-se o projecto”, afirma numa alusão ao plano para a construção da travessia para o metro que nascerá junto à Ponte da Arrábida.

A vereadora da Bloco de Esquerda, Maria Manuel Rola, que até ao final do ano substituiu Sérgio Aires na câmara, também prefere esperar para ver “o que sai da articulação entre a IP e a câmara”, por não ter sido avançada informação “profunda nem densa”. E alertou para que esta seja, acima de tudo, uma oportunidade para que este investimento não penalize quem vive em Campanhã. “Nos últimos censos demonstrou-se que era uma das freguesias com maior êxodo. Normalmente, estas questões vêm com um processo de gentrificação acentuado”, diz.

Sobre esta questão, Pedro Baganha assegura estar já a ser trabalhado “um plano de urbanização para toda a zona da estação de Campanhã”, de forma a existir uma transformação deste território “à boleia da alta velocidade”.

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