Fladgate Partnership alimentada 100% por energia solar até ao final de 2023

O grupo vai investir “1 milhão a 1,5 milhões de euros” para ser auto-suficiente na produção de electricidade. E, este ano, lançará a nova garrafa da Croft, 25 por cento mais leve.

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Adrian Bridge, CEO da Fladgate Partnership, na Quinta da Roêda, à margem de uma conversa com o PÚBLICO. Anna Costa

A Fladgate Partnership — que detém as marcas de vinho do Porto ​Taylor's, Fonseca e Croft e projectos na área do enoturismo como o hotel vínico de The Yeatman ou o empreendimento World of Wine (WOW) — vai investir “1 milhão a 1,5 milhões de euros” na colocação de painéis fotovoltaicos para produção de energia eléctrica nos telhados das suas instalações na Quinta dos Barões, em Gaia — onde ficam os escritórios e a linha de engarrafamento.

“O objectivo é que o grupo todo tenha todas as suas necessidades cobertas”, revela o presidente executivo do grupo. Em conversa com o Terroir no Douro, em vésperas do Dia Nacional da Sustentabilidade, que se assinala este domingo, Adrian Bridge explicou que actualmente a Fladgate tem “67 por cento de produção própria de electricidade” mas que esta se esgota na operação do vinho do Porto.

“Obviamente, a maior parte da electricidade que gastamos é no Yeatman e no WOW. Com a nova lei [Decreto-lei n.º 15/2022, de 14 de Janeiro], é possível cobrirmos todos os telhados na Quinta dos Barões para injectar na rede”. Para injectar e depois retirar, desde que a utilização seja feita a menos de 3 Km de distância do ponto de injecção na rede.

O grupo tem actualmente três centrais de painéis fotovoltaicos para autoconsumo: Quinta dos Barões (Gaia), Quinta da Roêda (onde nascem os Portos da Croft) e Quinta da Nogueira (onde a Fladgate tem uma moderna adega e onde já tem a envelhecer 60 por cento do seu stock de vinho do Porto).

Para além deste projecto para as instalações de Gaia — onde, por exemplo, a água dos duches nos balneários dos trabalhadores já é aquecida a energia solar —, a Fladgate prepara-se para montar uma operação no valor de 30 milhões de euros com o “objectivo de armazenar 45 MegaWhats” de energia eléctrica para injectar depois na rede. Chama-se Battery Energy Storage System (BESS) e é “uma nova tecnologia que recebe a energia e a injecta na rede em milésimos de segundos”, explica Adrian Bridge.

O sistema também permite armazenar a produção excedentária para utilizar noutros períodos, em que as necessidades são maiores. Aliás, o seu potencial maior estará aí.

Algo que o grupo The Fladgate Partnership já explora no WOW, onde tem “um banco de gelo” que “transforma água em gelo durante a noite” e de dia derrete esse gelo, sendo a energia eléctrica gerada por esta segunda operação aquela que depois alimenta o sistema de aquecimento, ventilação e ar condicionado​ (AVAC) do empreendimento que levou mais de dois anos a ser construído e custou 106 milhões de euros.

Aqui, no tal BESS, o investimento será suportado por investidores que queiram associar-se ao projecto. “A ideia é arrendarmos o terreno, na Quinta dos Barões, onde temos 132 mil metros quadrados e o vinho do Porto usa à volta de 90 mil metros quadrados. Será investimento institucional no nosso terreno”, explica Adrian Bridge, que espera na Primavera do próximo ano poder já nomear alguns desses futuros investidores.

“Há investidores para este tipo de projecto”, disso diz estar certo. E explica porquê: “Dá rendimento de capital de 8 por cento, 10 por cento, mas também porque é um projecto que diminui a utilização de gás e outros combustíveis fósseis”.

Garrafa nova, mais leve, menos 54 toneladas de vidro por ano

Mais palpável é a nova garrafa da Croft, até porque já entrou em produção, na BA Glass (que é membro do compromisso internacional The Porto Protocol, uma iniciativa da Fladgate nascida na Invicta e à qual o grupo aloca anualmente um investimento de 250 mil euros). Vai pesar menos 25 por cento do que a actual, passando de 610 para 450 gramas.

“Vai permitir uma poupança de 54 toneladas de vidro por ano. São menos 68 toneladas de carbono [emitidas], o que equivale a 6 hectares de árvores, se considerarmos 500 árvores por hectare, portanto, 3000 árvores”, sublinha Adrian Bridge.

Uma garrafa que é ambientalmente mais sustentável mas também é melhor para as contas do negócio, já que, com o preço do vidro pela hora da morte, a medida significará também poupança financeira, que o gestor não quis quantificar em face da “instabilidade” do preço daquela matéria-prima. Também haverá dupla poupança no transporte: será possível acrescentar uma fiada em cada palete e, assim, meter mais quatro paletes por cada camião. E o novo formato chegará aos consumidores já este Natal.

Porquê começar pela Croft e para quando garrafas mais leves nas outras marcas? Na Croft, os actuais moldes estavam a chegar ao fim de vida, o que ditou a oportunidade. Mas também era tecnicamente “fácil”, porque a garrafa só tinha alto-relevo. Com a Taylor's, onde se espera “o maior impacto”, diz o CEO da Fladgate, a dificuldade está no brasão da casa em baixo-relevo, um ponto frágil e em estudo. Já a garrafa da Fonseca é “rugosa” e será preciso repensar essa espécie de textura.

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Nas vinhas de patamares estreitos e face às vinhas em viticultura convencional, a redução de herbicidas nas quintas do universo The Fladgate Partnership é de 68 por cento. Anna Costa

Para além de medidas como esta, que visam reduzir a sua pegada de carbono, do investimento nas energias renováveis e das mudanças introduzidas na vinha com um modelo de viticultura sustentável (distinguido em 2009 pelo prémio BES Biodiversidade), a Fladgate faz cleaning-in-place na sua linha de engarrafamento. Basicamente organizou a lavagem e desinfecção dos componentes da linha de enchimento de forma a conseguir poupanças muito significativas de recursos, nomeadamente de 80 por cento na utilização de detergentes e de 70 por cento no consumo de água na lavagem de tubagens e mangueiras.

Na adega, o grupo reduziu o diâmetro das tubagens e tem um rácio de 0,8 litros de água utilizados por cada litro de vinho produzido (uma relação abaixo da proporção de 1 litro de água para produzir 1 litro de vinho — objectivo que já é considerado ambicioso na fileira. Em 2011, o rácio litros de água por litro de vinho produzido era de 1,43, o que representa uma diminuição de cerca de 45 por cento.

Há muito trata os seus efluentes fitossanitários. E tem também uma acção de reflorestação de áreas ardidas em Presandães, uma aldeia de Alijó, que envolve também o consumidor, que contribui indirectamente quando compra uma garrafa do Porto Select Reserva da Taylor's.

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