Oceanos
Os microplásticos estão em todo o lado – e agora até são um tipo de letra
Como estes pequenos plásticos já estão por quase todo o lado, o activista ambiental Andreas Noe quis que preenchessem também o espaço digital.
É um tipo de letra digital, mas foi feito a partir de pequenos fragmentos de plástico. O activista ambiental Andreas Noe (também conhecido pelo seu nome nas redes sociais, The Trash Traveler) percorreu em 2020, com várias organizações, os mais de 800 quilómetros da costa de Portugal continental em menos de dois meses. Ao todo, recolheram mais de 1,6 toneladas de plástico. E foi com alguns desses plásticos de menor dimensão que criaram esta fonte tipográfica. O objectivo é alertar para este “perigo quase invisível”.
“Recusa o plástico sempre que possível. Caso contrário… apoderar-me-ei do teu mundo”, avisa o microplástico falante no vídeo de apresentação da fonte tipográfica, que diz “durar para sempre”. E são deixados outros conselhos: além de recusar plásticos descartáveis, há que reduzir as embalagens de plástico sempre que possível e reutilizar ao máximo os produtos até ao fim do seu ciclo de vida – e só depois reciclar.
Para instalar o tipo de letra, basta descarregar o ficheiro para o computador, abri-lo e fazer a instalação. As letras coloridas surgem apenas no programa Adobe Illustrator, mas nos outros programas de texto são de uma cor só e os microplásticos não são tão discerníveis. A fonte tipográfica é gratuita, sobretudo para que possa ser utilizada “em escolas que não a pudessem pagar”, lê-se no site.
Como referem no comunicado, a equipa que criou esta fonte tipográfica não é composta por “profissionais” do sector: o activista Andreas Noe e o seu pai, Bernhard Noe, posicionaram os microplásticos recolhidos em Portugal para que ficassem com a forma das letras e dos algarismos. Depois, fotografaram-nos e enviaram-nos para Raquel Fortuna Lima, que transformou as fotografias na fonte digital. O mais importante, dizem, é a consciencialização para este problema que não dá sinais de abrandar.
Todos os anos são produzidos mais de 400 milhões de toneladas de plástico e estima-se que mais de oito milhões entrem anualmente nos oceanos de todo o mundo. A associação ambientalista WWF traça a comparação: é como se um camião de lixo cheio despejasse os resíduos nos oceanos a cada minuto.
Os microplásticos são partículas de plástico com uma dimensão inferior a cinco milímetros e superiores a um micrómetro (a milésima parte de um milímetro). Com dimensões tão pequenas, estes plásticos são quase invisíveis ao olho humano.
Existem dois tipos de microplásticos: os primários e os secundários. Os primários são fabricados de propósito para serem usados em produtos de plástico ou tintas ou fertilizantes, sendo também adicionados a produtos de cosmética.
Já os microplásticos secundários resultam da fragmentação de produtos de plásticos maiores. Sob a acção da luz solar e da água, os plásticos degradam-se em partículas cada vez mais pequenas. Quando passam a ter menos de cinco milímetros, são considerados microplásticos.
Além de já terem sido detectados nas areias, nas águas do oceano, na água que se acumula nas plantas e em produtos de cosmética, os microplásticos também já foram encontrados no corpo humano: na corrente sanguínea humana, nos pulmões, nas fezes e até na placenta humana. Ainda assim, não se sabe bem que perigos representam estes microplásticos (e os nanoplásticos, ainda mais pequenos) para a saúde humana.
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