Mais de mil pessoas já foram detidas em protestos na Rússia contra a mobilização
Depois de cinco meses sem manifestações, os cidadãos russos voltam a sair à rua para protestar contra a mobilização parcial anunciada por Vladimir Putin.
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Mais de mil pessoas foram detidas em pelo menos 38 cidades da Rússia por, alegadamente, participarem em protestos contra a mobilização de reservistas anunciada nesta quarta-feira pelo Presidente russo, Vladimir Putin.
A organização de defesa dos direitos civis OVD-Info já iniciou a sua própria contabilização das manifestações e confirmou, pelo menos, 1178 detenções, embora seja previsível que o número venha a aumentar, devido às convocatórias para protestos ao longo da tarde de quarta-feira.
Contas das redes sociais ligadas à oposição na Rússia, entre as quais a do dirigente da oposição Alexei Navalny, difundiram vídeos que supostamente mostram estes primeiros protestos.
O Ministério Público de Moscovo já avisou que a participação em tais manifestações ou a mera difusão das respectivas convocatórias poderá constituir crime, depois de terem sido publicados na Internet os primeiros apelos para protestar contra o envio de militares na reserva em idade de combate para a guerra na Ucrânia.
Segundo o Ministério Público, a convocação dessas manifestações não foi coordenada com as autoridades pertinentes, que devem autorizar qualquer acção desse tipo. As autoridades russas não permitem qualquer concentração contrária às directrizes do Governo, podendo os participantes ser condenados a até 15 anos de prisão.
Diana Magnay, correspondente da Sky News em Moscovo, revela que não se viram quaisquer protestos nos últimos cinco meses pelo “medo das detenções”. “Mas este anúncio de mobilização levou as pessoas às ruas aqui [em Moscovo] e noutras cidades do país”, acrescentou.
"A polícia está a lidar com eles de forma muito violenta, mas é extraordinário ver como as pessoas estão a ser corajosas o suficiente para continuarem a gritar ‘não à guerra’, enquanto enfrentam a reacção da polícia”, acrescentou.
"Não estou com isto a dizer que todos os cidadãos russos são contra esta mobilização parcial. Eu própria estive hoje [quarta-feira] nas ruas a conversar com as pessoas e algumas, especialmente a geração mais velha, afirmam que esta é a melhor decisão para que o povo de Donbass seja salvo. É a prova de que absorvem a retórica de Putin”, revelou.
O decreto de Putin estipulou que o número de pessoas convocadas para o serviço militar activo seria determinado pelo Ministério da Defesa, e o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, disse numa entrevista televisiva que 300 mil reservistas com experiência relevante de combate e serviço serão inicialmente mobilizados.
Para além da convocação de protestos, a Rússia tem também assistido a um acentuado êxodo de cidadãos desde que Putin ordenou que o Exército invadisse a Ucrânia, há quase sete meses. No discurso que proferiu nesta quarta-feira de manhã ao país, em que anunciou uma mobilização parcial dos reservistas, o Presidente russo também fez uma ameaça nuclear velada aos inimigos dos russos no Ocidente.
A ofensiva militar lançada a 24 de Fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus —, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa — justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia — foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que nesta quarta-feira entrou no seu 210.º dia, 5916 civis mortos e 8616 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.