Martchín, um violinista franco-polaco apaixonado pela música de Cabo Verde

Violinista clássico por formação, Martin Rose gravou com o “nominho” de Martchín um disco só com música cabo-verdiana. Vai tocá-lo este sábado à noite no B.Leza, em Lisboa.

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Martin Rose, ou Martchin, com o seu violino DR

Chama-se Martin Antoine Rose e gravou aos 35 anos (agora tem 37) um disco dedicado à música cabo-verdiana, pela qual se apaixonou ao assistir a um concerto de Cesária Évora em Paris, cidade onde nasceu no dia 13 de Junho de 1985. Franco-polaco por ascendência (mãe polaca, pai francês), Martin escolheu como nome artístico Martchín, à maneira dos “nominhos” cabo-verdianos, para lançar um disco resultante dessa paixão, a que chamou Inspiração de Nha Sina e que foi gravado em 2020, antes da pandemia. Dois anos depois, vai apresentá-lo ao vivo em Lisboa, no B.Leza, este sábado (22h30).

O disco, totalmente instrumental, foi gravado entre Lisboa e Cabo Verde (onde contou com a participação de músicos como Bau e Zé Paris) e inclui clássicos como Eclipse (B.Leza), Cize (Morgadinho), Morna de nha Santa Ana (Eugénio Tavares), Mudjer bonita (Jacinto Estrela), Sabor de pecado (Manuel D’Novas), Corpim sabe (Tazinho), Falsia (Ti Goy), entre outras, além de um tema de sua autoria, Pôr de Sol na bô olhar.

Embora não seja músico de profissão (é supervisor bancário, movimentando-se entre Alemanha e França), acaba por sê-lo por paixão. O apego à música de Cabo Verde surgiu num dos muitos concertos que Cesária deu em Paris, este no ano 2000, já lá vão mais de duas décadas. “Eu tive formação clássica como violinista”, diz Martchín ao PÚBLICO, recordando esse encontro. “Sempre gostei de melodias e harmonias clássicas e encontrei isso também na música de Cabo Verde, o que inicialmente não imaginava, porque, para mim, era só mais uma música africana. Até me aperceber de que tinha muitas semelhanças com a música que eu conhecia. Mas o que mais me marcou, em primeiro lugar, foi a voz cristalina da Cesária, seguida do ambiente, já que foi ao ar livre, com a voz combinada com as doces melodias das mornas. Apesar de não entender as letras, senti que aquela música carregava muitos sentimentos.”

A partir dessa noite, começou a coleccionar discos, a ir a outros concertos, falando inclusive com Cesária, não só em Paris, mas depois em Cabo Verde, que passou a visitar com frequência, conhecendo e trocando experiências com músicos locais. E as letras, que não entendia, passou a entendê-las porque se aplicou a aprender crioulo. Poliglota, já falava inglês, francês, alemão, espanhol e polaco e aprendeu português para poder depois aprender o crioulo cabo-verdiano, no qual viria a tornar-se fluente.

Apresentado em concertos nos Estados Unidos (Boston) e em Cabo Verde (Mindelo), só agora o disco Inspiração de Nha Sina tem apresentação em Portugal. O concerto do B.Leza, que deverá começar pelas 23h, com abertura de portas às 22h30, terá direcção de Stephan Almeida, filho do multi-instrumentista cabo-verdiano Bau, e contará com vários músicos. Seguir-se-á a Banda B.Leza, com Débora Paris como voz convidada. “Toquei com vários artistas e aprendi muito nestes anos”, diz Martin Rose (Martchín) ao PÚBLICO. “E fiz este disco para deixar um testemunho desse meu percurso.”

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