Fotojornalista galego Adra Pallón vence Prémio Estação Imagem 2022
Incêndios são o tema do trabalho do profissional, numa edição fortemente marcada também pela guerra na Ucrânia.
O fotojornalista galego Adra Pallón, com uma série sobre os incêndios na Península Ibérica, é o grande vencedor da 13.ª edição do Prémio Estação Imagem, que anualmente distingue em Portugal os melhores trabalhos de fotojornalismo do ano. Na categoria Notícias, o prémio foi para Rui Duarte Silva, do semanário Expresso, e a sua reportagem no teatro de guerra na Ucrânia, anunciou este sábado o júri em Coimbra. Foi anunciado ainda que o conceituado fotógrafo norte-americano James Nachtwey presidirá aos Prémios Estação Imagem em 2023.
O principal galardão é escolhido a partir de todos os candidatos que submetem os seus projectos ao júri do Estação Imagem e podem ser oriundos de Portugal, de países de língua oficial portuguesa e da Galiza. Lume e Cinza é o título da série premiada com o Prémio Estação Imagem Coimbra, um conjunto de imagens recolhidas para a Agência EFE nos incêndios florestais entre Setembro de 2021 e este ano. “Uma das problemáticas mais notadas com a chegada da temporada estival é o aumento de incêndios florestais tanto em quantidade como em virulência”, diz o fotojornalista no site do Estação Imagem. “Esta é outra das consequências das alterações climáticas”, postula.
O presidente do júri e ex-editor de fotografia internacional do New York Times, David Furst, disse que a criatividade e paixão dos fotojornalistas “ultrapassam qualquer tipo de dificuldade financeira”, cita a agência Lusa, considerando que fazem “milagres”.
"Este trabalho nunca foi tão vital e indispensável. Por cada imagem publicada, há um fotojornalista corajoso a contar a história. Na minha perspectiva, são heróis e devemos celebrá-los em todas as oportunidades que temos”, sublinhou este sábado em Coimbra.
Na categoria Notícias, Rui Duarte Silva descreve a sua incursão por Ucrânia, Marcas da Guerra assim: “A desolação e o desespero, cidade após cidade, vila após vila, de Irpin a Bucha, de Bashtanka a Mykolaiv, de Zalyssia a Kharkiv e a tantos outros lugares.”
O júri premiou ainda os fotojornalistas Leonel de Castro, na categoria Assuntos Contemporâneos, José Sarmento Matos, na categoria Vida Quotidiana, Brais Lourenço Couto no Ambiente, Alex Paganelli em Retratos e David Tiago no Desporto.
O trabalho de Leonel Castro, Corredores da Morte, debruça-se sobre as marcas deixadas pela guerra colonial nos corpos de cidadãos da Guiné-Bissau e Angola e foi publicado na Notícias Magazine (o fotojornalista trabalha no Jornal de Notícias); José Sarmento Matos retratou a vida quotidiana num dos bairros sociais da periferia do Seixal, e Vida no Bairro da Jamaica: Desigualdade Habitacional em Tempos Pandémicos, tinha já sido seleccionado pela National Geographic Society para ser apoiado pelo Fundo de Emergência Covid-19 para Jornalistas.
Brais Lourenço Couto fotografou Terra Queimada e recebeu o prémio Ambiente e Onde acaba a cidade, de Alex Paganelli, nascido em Roma e residente em Portugal, e que capta a periferia de Lisboa, foi premiado na categoria de Retratos — é um projecto documental que já esteve em exposição no espaço da Narrativa, em Lisboa, e teve uma menção honrosa no concurso Novos Talentos Fnac. Por fim, David Tiago assinou uma reportagem sobre dois atletas de escalada adaptada, intitulada Invictus e publicada na Notícias Magazine.
Qualidade e diversidade
Em comunicado, o júri destaca a “diversidade de temáticas” e a “grande qualidade geral dos trabalhos apresentados”, mas também “histórias que revelam um ambiente de grande proximidade, quase intimidade, a revelar um trabalho profundo e continuado dos fotojornalistas”, sublinha David Furst.
Por atribuir ficaram os prémios Foto do Ano e Arte e Espectáculos (o júri considerou não haver candidatos meritórios), mas foram ainda entregues três menções honrosas, duas na categoria Assuntos Contemporâneos (ambas para Adra Pallón) e a outra na categoria Vida Quotidiana, para Brais Lourenzo Couto.
A bolsa Estação Imagem 2022 Coimbra vai para André Alves e a sua proposta de trabalho sobre as consequências sociais e ambientais da actividade das minas da Panasqueira, onde à exploração de volfrâmio e urânio se seguirá agora o lítio.
Além da atribuição dos prémios, a associação cultural Estação Imagem dedica-se à promoção da imagem e, em particular, da reportagem fotojornalística. Desta edição faz ainda parte uma homenagem à população ucraniana e há quatro mostras de fotógrafos da Ucrânia, bem como a exposição única e oferecida à Estação Imagem por James Nachtwey — “uma lenda vida do fotojornalismo”, elogia a organização sobre o premiadíssimo repórter — intitulada Os Insubmissos, sobre a guerra em curso e que reportou para a revista New Yorker.
Além esta exposição central, existem quatro mostras de fotojornalistas ucranianos sobre a invasão russa: Cerco a Mariupol, de Evgeniy Maloletka, O Inverno Vermelho de Bucha, de Daniel Berehulak, Êxodo, de um colectivo de fotógrafos, e O Último Reduto, de Dmytro Kozatskyi, que é combatente e fotógrafo do Regimento Azov. O português Ricardo Lopes expõe Interior, fruto da Bolsa Estação Imagem 2020-22, sobre o despovoamento do centro do país.
As exposições estão patentes até 6 de Novembro.
O júri era composto ainda por Newsha Tavakolian, membro da Magnum Photos, e Daniel Berehulak, vencedor de dois Pulitzer, e que estiveram em Coimbra nos últimos três dias para definir o palmarés com Furst.
O anúncio e entrega dos prémios tiveram lugar em Coimbra, que, pelo quinto ano, apoia os prémios, no final da manhã deste sábado no Teatro da Cerca de São Bernardo, numa cerimónia em que participaram o vice-presidente da câmara municipal, Francisco Veiga, a directora regional de Cultura do Centro, Suzana Menezes, em representação do ministro da Cultura, o presidente do júri David Furst e o director do Estação Imagem, Luís Vasconcelos.