Sanna Marin: “Mesmo que a guerra acabasse hoje, a nossa confiança [na Rússia] não seria restaurada”

No sexto debate “Isto é Europa” do Parlamento Europeu, primeira-ministra finlandesa defendeu reforço da União Europeia na resposta à guerra na Ucrânia e ao agravamento dos preços da energia.

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Sanna Marin no Parlamento Europeu em Estrasburgo EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

Na semana em que Ursula von der Leyen vai debater o estado da União Europeia (UE), coube à primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, definir, esta terça-feira, os desafios da UE no sexto debate “Isto é Europa” do Parlamento Europeu. A guerra na Ucrânia, a crise energética e as alterações climáticas foram os temas escolhidos pela líder do Governo finlandês, ao longo de um discurso em que não poupou nas censuras ao regime de Vladimir Putin e em que apelou ao reforço dos valores e das regras económicas comuns dos Estados-membros.

Numa crítica à invasão da Ucrânia, a primeira-ministra da Finlândia acusou a Rússia de utilizar a energia como “arma” e “chantagem” contra a Europa para “erodir o apoio europeu à Ucrânia e quebrar a unidade da UE”, mas garantiu que essa estratégia não vai ter sucesso. Ao invés, Sanna Marin alertou para as consequências da guerra a longo prazo para os russos, que diz já estarem a deixar a Rússia “cada vez mais isolada”.

“Com a guerra, a Rússia está a destruir a sua economia e o seu futuro. A Rússia quebrou a nossa confiança. Mesmo que a guerra acabasse hoje, a nossa confiança não seria restaurada”, avisou.

Em resposta, a governante advoga que a UE se apresente como uma frente unida e que continue a apoiar a Ucrânia através de sanções económicas “mais duras” à Rússia, que “devem sentir-se na vida quotidiana dos russos”, como a restrição aos vistos de turismo.

“Esta não é a primeira e não vai ser a última crise que vivemos. Mas, apesar destes tempos difíceis, e precisamente por causa deles, temos de usar as nossas maiores forças: confiar uns nos outros e unirmo-nos uns aos outros”, declarou.

A chefe do executivo finlandês colocou-se também do lado da adesão dos ucranianos à UE, ao afirmar que “o lugar da Ucrânia é na UE” e que as suas portas “devem estar abertas a todos os Estados”, desde que “estejam comprometidos a desenvolver as reformas necessárias”.

Em matéria de energia, a líder do Governo da Finlândia também trouxe soluções, tanto a curto, como a longo prazo. De forma mais imediata, Marin exortou a Comissão Europeia a aplicar “medidas excepcionais para baixar os preços da energia”, ao invés de políticas “convencionais”, embora não concretizando quais.

No futuro, os países da UE devem desenvolver políticas que tenham em vista garantir a “auto-suficiência energética da Europa” e “acelerar a desvinculação da energia fóssil”. Como? Investindo na produção de energias renováveis, na criação de redes eléctricas europeias e em tecnologias de armazenamento de energia.

“Temos de nos libertar da energia fóssil da Rússia assim que possível”, afirmou, confessando que foi “um erro” a Europa ter-se tornado dependente dos combustíveis fósseis russos.

Para tal, a primeira-ministra finlandesa quer uma política económica comum “mais forte e responsável”, em concordância com os tratados da União Europeia, que não passe apenas por instrumentos de recuperação económica, mas antes por “limitar as dívidas excessivas dos Estados-membros” e incentivar políticas de “contra ciclo” para “equilibrar as flutuações” económicas. Sem esquecer ainda a necessidade de as decisões europeias serem tomadas por maioria qualificada nas áreas da política externa e da segurança.

A decorrer desde 9 de Março, a série de debates “Isto é Europa” já contou, antes de Sanna Marin, com a participação dos líderes dos governos da Grécia, da Croácia, da República da Irlanda, de Itália e da Estónia.

O debate sobre o estado da União, com a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, arranca esta quarta-feira no Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

A jornalista viajou a convite do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal

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