Steve Bannon enfrenta nova acusação por suspeita de burlar apoiantes de Donald Trump

Antigo conselheiro de Trump na Casa Branca foi acusado de fraude e lavagem de dinheiro com doações para a construção de um muro anti-imigração na fronteira com o México. Perdoado pelo ex-Presidente dos EUA a nível federal, é agora alvo de um processo no estado de Nova Iorque.

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Bannon foi condenado, em Julho, por desobediência ao Congresso dos EUA Reuters/JONATHAN ERNST

O norte-americano Steve Bannon, uma das figuras mais influentes da extrema-direita nos Estados Unidos e o principal conselheiro da Casa Branca no primeiro ano de mandato de Donald Trump, foi alvo de novas acusações criminais, nesta quinta-feira, pelo seu envolvimento num esquema de fraude e lavagem de dinheiro relacionado com a construção de um muro anti-imigração na fronteira com o México.

Em causa está um processo iniciado em Agosto de 2020, quando Bannon e outras três pessoas foram detidas e acusadas de desviarem milhões de dólares doados por apoiantes de Trump.

Segundo as promessas da iniciativa “Nós Construímos o Muro”, essas contribuições financeiras destinavam-se a apoiar a construção do muro prometido pelo ex-Presidente dos EUA na sua primeira campanha, em 2016.

Ao todo, Bannon e os seus associados angariaram 25 milhões de dólares (sensivelmente a mesma quantia em euros), e o antigo conselheiro de Trump arrecadou para si um milhão de dólares, segundo a acusação deduzida em 2020.

A 20 de Janeiro de 2021, nas últimas 24 horas do mandato de Trump, Bannon recebeu um perdão presidencial e escapou a um julgamento.

Crimes em Nova Iorque

Mas a acusação de que Bannon se livrou no início de 2021 foi feita por procuradores federais de Nova Iorque, numa investigação de crimes puníveis pelas leis nacionais do país e que transcendem a autoridade de cada estado norte-americano. E, segundo a lei dos perdões presidenciais, os Presidentes dos EUA só têm autoridade para perdoarem e amnistiarem acusações ou condenações no sistema federal.

Agora, o antigo conselheiro de Trump está na mira do procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, por crimes cometidos no estado de Nova Iorque no âmbito do mesmo esquema de angariação de fundos para a construção de um muro na fronteira com o México.

Nesta quinta-feira, Bannon foi novamente acusado de fraude e lavagem de dinheiro, como parte de uma conspiração que incluiu o pagamento de centenas de milhares de dólares através da sua organização sem fins lucrativos — a Citizens of the American Republic — a Brian Kolfage, um veterano da Força Aérea que perdeu as duas pernas e parte de um braço na guerra no Iraque, e que foi o promotor inicial da angariação de fundos, na qual prometeu que não iria lucrar “um cêntimo”.

A campanha de angariação de fundos foi promovida como sendo uma resposta dos apoiantes de Trump aos obstáculos no Congresso para o financiamento da construção do muro.

Segundo um relatório da agência de segurança nas fronteiras, durante o mandato de Trump foram construídos 727 quilómetros de barreiras de aço, com alturas variáveis entre cinco e dez metros, ao longo dos 3145 quilómetros de fronteira terrestre entre os EUA e o México.

Mas só 128 quilómetros dizem respeito a novas construções, com os restantes 599 quilómetros a serem trabalhos de substituição e reforço das barreiras erguidas por anteriores Administrações norte-americanas.

A quase totalidade do financiamento no mandato de Trump resultou da invocação de um estado de emergência na fronteira, em 2019, o que levou à transferência de 15 mil milhões de dólares de várias agências para a construção parcial do muro.

Desobediência ao Congresso

Ao contrário de Bannon, Brian Kolfage, de 39 anos, não foi perdoado pelo ex-Presidente dos EUA e aguarda o desenrolar das investigações dos procuradores federais de Nova Iorque.

Em Maio de 2021, o veterano foi acusado na Florida, num processo paralelo, de defraudar as autoridades fiscais ao não declarar 350 mil dólares que foram depositados na sua conta em nome da campanha “Nós Construímos o Muro”. Kolfage declarou-se culpado em Abril passado e vai conhecer a sentença em Dezembro.

Em Julho, Bannon foi considerado culpado num outro processo, de desobediência ao Congresso dos EUA, por se ter recusado a depor e a ceder documentos à comissão especial de inquérito à invasão do Capitólio.

A leitura da sentença está marcada para finais de Outubro, e o antigo conselheiro de Trump pode ser condenado a um mínimo de 30 dias de prisão e a um máximo de 12 meses por cada uma das duas acusações.

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