Brasil: Emanoel Araújo, gigante das artes plásticas afro-brasileiras, morreu aos 81 anos
Primeiro curador do Museu Afro-Brasil, destacou-se com esculturas e ilustrações que ressaltavam a herança negra.
O artista plástico e intelectual Emanoel Araújo, um dos gigantes das artes de raiz afro-brasileira, morreu esta quarta-feira na sua casa, em São Paulo. Tinha 81 anos.
Durante mais de seis décadas, Emanoel Araújo construiu uma carreira que ia da escultura à ilustração, da gravura à cenografia, sempre ressaltando o papel da herança negra na cultura brasileira. O artista, que foi curador do Museu Afro-Brasil desde a sua fundação, em 2004, até à sua morte, teve uma primeira exposição individual em 1959, na sua Bahia natal, com um trabalho marcado pela xilogravura e por ilustrações sobre o teatro. A partir da década seguinte, a sua obra foi-se tornando mais abstracta, e na década de 1970 foi premiado na 3.ª Bienal Gráfica de Florença e pela Associação Paulista de Críticos de Arte, que o considerou o melhor escultor e gravador do país. A sua primeira individual no MASP, Museu de Arte de São Paulo, veio em 1981.
Não demorou para que Araújo galgasse espaço como um dos principais curadores e museólogos do país, tendo dirigido o Museu de Arte da Bahia (de 1981 a 1983) e a Pinacoteca de São Paulo (de 1992 a 2002).
Assumiu em 2004 a direcção do Museu Afro-Brasil, localizado no parque do Ibirapuera em São Paulo, posição que foi o culminar do seu trabalho na curadoria e divulgação da arte negra no Brasil.
A sua pesquisa também se materializou no livro A Mão Afro-Brasileira, de 1988, obra de referência em que pensa as contribuições artísticas e históricas da população negra, reeditada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo em 2010.
Emanoel Araújo era representado pela galeria Simões de Assis, com sedes em São Paulo e Curitiba, e voltou a ter grandes individuais no Instituto Tomie Ohtake e no MASP. No próximo ano estava prevista uma exposição na galeria Jack Shainman, em Nova Iorque. Recentemente, museus como o Guggenheim, a Tate, em Londres, e o Museu de Arte de Los Angeles adquiriram obras de Emanoel Araújo para os seus acervos.
O artista e curador foi alvo de acusações de assédio sexual por parte de dois ex-funcionários do Museu Afro-Brasil, um caso divulgado nos últimos anos pelas redes sociais - o caso encontra-se em segredo de justiça e uma decisão judicial levou a que os autores dos comentários fossem, entretanto, forçados a retirá-los.